À medida que o mundo enfrenta a tríplice crise planetária de mudança climática, perda de natureza e biodiversidade, poluição e resíduos, há uma preocupação crescente com o impacto que essas crises têm na saúde mental.
A reportagem é publicada por Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e reproduzida por EcoDebate, 15-10-2022.
Estudos recentes do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e parceiros mostram que tudo, desde mudanças climáticas até poluição sonora, atmosférica e química, afeta o bem-estar mental das pessoas.
“Um ambiente saudável não é apenas um ingrediente-chave para a saúde e o bem-estar humano, mas também uma base para a One Health, uma vez que a saúde dos seres humanos, animais, plantas e o ambiente e os ecossistemas mais amplos estão intimamente ligados e interdependentes”, diz Cristina Zucca, que coordena os trabalhos sobre poluição, meio ambiente e saúde no PNUMA. “Isso exige ação nos níveis individual e político para criar um ambiente saudável que promova a saúde mental”.
Quatro questões-chave que afetam a saúde mental e como podemos recorrer à natureza e à ação climática para soluções:
O relatório Frontiers 2022, do PNUMA, descobriu que, à medida que as cidades crescem, a exposição prolongada a altos níveis de ruído de estradas, ferrovias, aeroportos e indústrias está prejudicando a saúde mental das pessoas ao interromper o sono.
As estimativas sugerem que, na Europa, 22 milhões de pessoas sofrem de incômodo crônico com ruído e 6,5 milhões são afetadas por distúrbios do sono. Os idosos, mulheres grávidas e trabalhadores em turnos estão em maior risco.
O estudo destaca formas naturais de melhorar a saúde mental e mitigar os efeitos adversos da poluição sonora, como plantar vegetação em ambientes urbanos para absorver energia acústica, difundir o ruído e reduzir a amplificação das ruas.
Cinturões de árvores, arbustos, paredes verdes e telhados verdes podem ter efeitos visuais positivos e ajudar a amplificar os sons naturais ao atrair a vida selvagem urbana. Alguns sons, principalmente os da natureza, trazem benefícios à saúde, pois podem sinalizar um ambiente seguro que reduz a ansiedade.
Noventa e nove por cento da população global respira ar que excede as diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS), com cerca de sete milhões de pessoas morrendo prematuramente devido à poluição do ar.
Segundo a OMS, a qualidade do ar está entre os muitos determinantes ambientais, sociais e econômicos da saúde mental. A pesquisa também mostra que altos níveis de partículas finas inaláveis (PM 2,5) também podem prejudicar o desenvolvimento cognitivo em crianças. O relatório Danger in the Air do UNICEF mostra que a exposição a altos níveis de poluição do ar pode resultar em problemas psicológicos e comportamentais mais tarde na infância, incluindo transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), ansiedade e depressão.
A plataforma de ação BreatheLife, uma parceria da OMS, PNUMA, Climate and Clean Air Coalition (CCAC) e Banco Mundial, apresenta várias soluções localizadas que os governos podem usar para combater a poluição do ar e criar cidades e cidadãos mais saudáveis.
Eles se concentram em mobilidade elétrica, caminhada e ciclismo e outras opções de baixo carbono para países e cidades para reduzir a poluição do ar, mitigar as mudanças climáticas e criar espaços verdes. A campanha também destaca a importância de combater a poluição do ar da indústria, transporte, gestão de resíduos, residências e agricultura e melhorar a gestão da qualidade do ar, adotando e cumprindo bons padrões de qualidade do ar. Enquanto o progresso está sendo feito, a pesquisa do PNUMA mostra que ainda há muito a ser feito. Reconhecendo a importância de abordar a poluição do ar, a Assembleia Geral da ONU declarou 7 de setembro, o Dia Internacional do Ar Limpo para o céu azul, como uma oportunidade para celebrar o progresso e gerar impulso para a ação global.
Produtos químicos no meio ambiente são um problema de saúde global. Embora os produtos químicos e os resíduos sejam os principais contribuintes para as economias mundiais, sua boa gestão é essencial para evitar riscos à saúde humana e aos ecossistemas e custos substanciais para as economias nacionais.
Pesquisas mostram que cerca de uma em cada três crianças tem chumbo no sangue em níveis que podem estar associados à diminuição da inteligência, dificuldades comportamentais e problemas de aprendizagem.
O PNUMA está trabalhando em estreita colaboração com seus parceiros para desenvolver soluções convencionais para o gerenciamento adequado de produtos químicos e resíduos. No mês passado, os Estados Membros, representantes da indústria, academia, ONGs e grupos de jovens concordaram com uma visão para a Abordagem Estratégica e gestão sólida de produtos químicos e resíduos além de 2020 para ajudar a proteger a saúde humana e planetária.
Um recente Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) apontou para o aumento esperado dos impactos na saúde mental devido à exposição a altas temperaturas, eventos climáticos extremos e perdas econômicas e sociais relacionadas ao clima, bem como ansiedade e angústia associadas a preocupações com o clima crise.
A OMS confirmou essa tendência, observando que as mudanças climáticas estão tendo impactos mais fortes e duradouros no bem-estar mental das pessoas. Um relatório recente mostra que depressão, ansiedade e condições relacionadas ao estresse foram relatadas após eventos climáticos extremos.
O relatório pede uma resposta acelerada à crise climática por parte dos governos, incluindo esforços para abordar seus impactos na saúde mental e no bem-estar psicossocial.