03 Outubro 2022
No Vaticano o nome de Giorgia Meloni é mal sussurrado. Não tem nada a ver com a relação singular da líder de Fratelli d’Itália com seu anjo da guarda a quem ela até deu um nome.
A reportagem é de Marco Grieco, publicada por Domani, 30-09-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Pelo contrário, é a exultação morna daqueles prelados e cardeais que permaneceram em silêncio por anos, tachados de antibergoglianos ou nostálgicos por uma igreja que agora já se foi, aquela onde a moral católica era capaz de manter o equilíbrio entre o mundo político de Silvio Berlusconi e aquele eclesial de Camillo Ruini.
Foi justamente o cardeal de 91 anos que abençoou a vitória clara de Meloni poucos dias atrás, três anos depois de seu apoio a Matteo Salvini: "Para mim, ela é uma pessoa simpática e durona", disse ao Corriere della Sera.
Meloni não perdeu a oportunidade de pisar no Vaticano, como evidencia o recente encontro que a líder de FdI teve com o cardeal Robert Sarah, um dos cardeais tradicionalistas mais críticos do Papa Francisco.
Por isso, o resultado das eleições políticas de 25 de setembro no Vaticano é percebido como um redde rationem para o universo bergogliano, a vingança daqueles que se sentiram silenciados durante anos.
No mundo ao redor de São Pedro, a queda do Partido Democrático paga o preço da convivência de tantas almas que distorceram a vocação dos "católicos adultos" vindo do partido da Margherita: "Os mais decepcionados com a derrota do Partido Democrático são a Ação Católica e Santo Egídio", confessa um prelado de longa data.
Às vésperas da votação, por exemplo, a Ação Católica Ambrosiana foi muito clara, convidando os cidadãos a atentarem para o "apelo à Constituição e à dimensão europeia, incluindo os compromissos assumidos com o PNRR, a sólida ancoragem à democracia parlamentar e a busca da paz". Não é de admirar, então, que hoje paire um pouco de mau humor.
Os católicos democratas ainda desfrutam de algum crédito. Mas são raros: a emergência social pós-pandemia, aliada à percepção de uma esquerda cada vez mais elitista e distante dos problemas das pessoas comuns, aumentaram o ceticismo em vários níveis.
Também pode ser percebido dentro dos muros do Vaticano. Os apelos ao comunitarismo de Mounier e ao personalismo de Maritain, evocadas pelo cientista político jesuíta Francesco Occhetta, não convencem mais uma hierarquia que olha com desconfiança para o centro-esquerda.
O Cardeal Ruini o recordou: "Agora a distância entre a elite e o povo tornou-se mais evidente". Por isso, percebe-se um discreto consenso sobre Meloni nas salas do Vaticano: “Com ela, vence um catolicismo diferente, próximo das paróquias, que não tem nenhuma ligação com a maçonaria”, confessa um prelado.
Um termômetro desse novo consenso já era evidente em agosto passado quando, no encontro de Rimini organizado por Comunhão e Libertação, Meloni havia sido a principal convidada da reunião do Intergrupo Parlamentar para a Subsidiariedade, aplaudida mais ainda do que o ex-ministro Maurizio Lupi, membro da entidade há muito tempo: "Meloni não é elitista, expressa aquele cristianismo popular que se mantém firme nas batalhas pró-vida, como a luta contra o aborto e a defesa da vida", dizem no Vaticano.
Batalhas que não são vistas como o ídolo identitário usado por Salvini, mas a expressão mais sincera de um empenho popular.
Isso explica também a vitória de Lavinia Mennuni, que derrotou Emma Bonino e Carlo Calenda, conquistando o voto distrital no Senado de Roma Centro: uma vitória retumbante para Fratelli d’Itália sobre um centro-esquerda até então imbatível.
Para muitos Mennuni, que na junta Alemanno ocupou o cargo de conselheira delegada para as relações com o mundo católico, é a expressão de um centro-direita que prefere os salões paroquiais aos salões acarpetados.
Presidente do Movimento Nacional das Mães da Itália, Mennuni é conhecida por seu claro apoio à família tradicional e à recusa a adoções por casais homossexuais: "Quando falo de famílias, falo daquelas famílias naturais compostas por um pai e uma mãe" (Assembleia Capitolina, 18 de novembro de 2014).
Posições diametralmente opostas às da radical Emma Bonino, derrotada na votação distrital. É significativo que a uma candidata não católica, mesmo repetidamente elogiada pelo Papa Francisco, tenha sido preferida uma defensora das batalhas pró-vida.
Um duro golpe para os progressistas próximos de Bergoglio e uma exultação para as associações católicas que o papa latino-americano burilou nos últimos anos.
Às vésperas da nova equipe do governo, o Vaticano está pensando em quem possa fazer o meio campo com o centro-direita de Meloni.
Se os mais tradicionalistas forem excluídos, muitos olham para Rino Fisichella, tanto pela longa experiência de participação política quanto pelas inevitáveis necessidades que agora se apresentam em vista do próximo Jubileu.
É idoso, mas ainda papável também Liberio Andreatta, dominus da Ópera Romana peregrinações. Se não tivesse sido expulso do círculo mais próximo de Bergoglio, até mesmo o cardeal Angelo Becciu teria sido um sólido interlocutor da direita nos sagrados palácios.
Politicamente mais equidistante, porém, um garantista como o secretário de Estado do Vaticano, Pietro Parolin, é percebido como o interlocutor ideal, graças ao amplo crédito de que desfruta no Vêneto, região que sempre esteve à direita.
Mas nesse canteiro de obra eclesial feito de mediações com o executivo que acompanhará a Igreja de Francisco ao Jubileu, teria sido possível uma alternativa ao centro-direita? Vários prelados no Vaticano se perguntaram isso, olhando para a Ação, antes que as reviravoltas de Carlo Calenda minassem sua confiança.
A síntese de hoje é feita por um bispo: "Poderíamos ter votado em alguém que encerrou a campanha eleitoral no Janículo, onde se defendia a República Romana e se evitava o retorno do beato Pio IX a Roma com os canhões?".
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Também no Vaticano festeja-se sobriamente Giorgia Meloni - Instituto Humanitas Unisinos - IHU