03 Outubro 2022
De 26 a 29 de setembro, ocorreu a assembleia plenária de outono da Conferência Episcopal Alemã. Entre os temas abordados, o Caminho Sinodal, a reorganização da estrutura de prevenção dos abusos sexuais e de poder na Igreja alemã, a preparação da visita ad limina (14 a 19 de novembro), a questão da comunhão eucarística com a Igreja Evangélica, a pastoral em situações de emergência e catástrofe, a questão do suicídio assistido à luz de um documento do Comitê de Ética federal alemão.
O comentário é do teólogo e padre italiano Marcello Neri, professor da Universidade de Flensburg, na Alemanha, publicado por Settimana News, 30-09-2022. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
No que diz respeito aos abusos, a maior novidade é a criação de um conselho independente de especialistas, que será responsável por supervisionar a implementação das diretrizes estatais e eclesiais, dar forma a informações transparentes e constantes e avaliar a qualidade das intervenções dos órgãos eclesiais competentes e indicar formas de aprofundar a colaboração com o Estado e outros órgãos públicos.
Foi confirmada a centralidade e a importância do conselho consultivo das vítimas junto à Conferência Episcopal, cujos representantes participaram da sessão plenária dedicada ao tema dos abusos – intervindo e contribuindo para a redefinição da estrutura global chamada a se encarregar disso na Igreja alemã.
Quanto aos bispos, foi criado um grupo específico, encabeçado pelo bispo de Aachen, H. Dieser, que sucede Dom Ackermann, que havia assumido o papel de referente episcopal para os abusos sexuais na Igreja alemã em 2010.
Prevê-se também uma maior colaboração com o Comitê Central dos Católicos Alemães e com a Conferência dos Religiosos e Religiosas, expressando a clara vontade e a importância de levar adiante o trabalho realizado em conjunto com o escritório do comissário independente para os abusos sexuais de menores da República Federal da Alemanha (cargo atualmente ocupado por Kerstin Claus).
Meio dia de estudo foi dedicado ao andamento do Caminho Sinodal da Igreja alemã, durante o qual os bispos também puderam ouvir perspectivas externas a ele.
A saudação do núncio apostólico, Dom N. Eterovic, foi inteiramente dedicada ao Caminho Sinodal, recordando o perigo de um caminho solitário da Igreja alemã. O debate que se seguiu foi acalorado, variado e caracterizado por tons de significativa reflexão.
Vieram à tona também as posições e as sensibilidades diferentes dentro da Conferência Episcopal, com os bispos se perguntando como prosseguir juntos em respeito a elas.
Na coletiva de imprensa final, Dom Bätzing, presidente da Conferência Episcopal, reiterou a necessidade de fazer mudanças significativas no modo de ser Igreja, por um lado, e lembrou que muitos dos temas que surgiram no Caminho Sinodal também são comuns a outras Igrejas locais, por outro. Considerando isso um sinal concreto e prático da inclusão já ocorrida do Caminho Sinodal alemão no processo sinodal mais amplo que envolve toda a Igreja Católica.
A visita ad limina oferecerá a oportunidade de um diálogo direto com os dicastérios romanos, também para esclarecer os pontos que parecem suscitar tanta preocupação nos órgãos da Cúria vaticana.
Sobre isso, é preciso registrar uma passagem desagradável pelas mãos do cardeal Koch, prefeito do Dicastério para a Unidade dos Cristãos, que, de maneira pouco feliz, comparou de alguma forma o catolicismo do Caminho Sinodal aos “Cristãos Alemães que, na era nazista, viram na ascensão de Hitler uma nova revelação de Deus”. Uma afirmação definitivamente imprópria e sem nenhuma razão de existir, que certamente não ajuda a recompor a relação entre a Igreja alemã e a Cúria vaticana.
Foi dura a reação de Bätzing, que pediu ao cardeal da Cúria que retirasse suas afirmações e pedisse desculpas publicamente. Se isso não ocorresse, continuou o presidente da Conferência Episcopal Alemã, um protesto oficial seria apresentado ao próprio papa.
Koch, em um comunicado posterior, negou que quisesse comparar o Caminho Sinodal alemão ao nazismo; tratou-se de uma resposta a uma pergunta genérica sobre o espírito da época como motivo para modificar a doutrina da Igreja.
Por isso, continuou o cardeal, ele não pode retirar sua afirmação nem vê motivos para pedir desculpas. De fato, “assim como os chamados Cristãos Alemães [nos tempos do nazismo] não significavam todos os cristãos alemães, graças a Deus, assim também, com a minha frase, eu não me dirigia a todos os membros do Caminho Sinodal, mas apenas aqueles cristãos que levam em frente uma posição que encontra sua formulação na pergunta que me foi feita. E espero poder partir do fato de que tal posição não é a opinião do Caminho Sinodal”.
O esclarecimento, porém, não parece apagar todas as razões da ira de Bätzing e dos católicos alemães. Certamente, nem todos os sinodais, e talvez (como esperança e nada mais) não o Caminho Sinodal, mas certamente alguns sinodais – segundo Koch – merecem a comparação com o nazismo. Para além dos esclarecimentos e das correções post factum, permanece na sentença de Koch uma intenção de violência ressentida, mais do que de crítica, em relação ao catolicismo alemão.
“Considerar que entre o debate de hoje e os eventos da era nazista haja qualquer paralelo não é absolutamente bom. Quem se move no âmbito diplomático deveria saber muito bem disso, como é o caso do cardeal Koch. No fim das contas, ele (como ministro do ecumenismo) representa o Vaticano no diálogo com as outras Igrejas. Portanto, é ainda mais chocante que ele tenha assumido essa comparação para expressar suas dúvidas sobre o fundamento teológico do Caminho Sinodal. Concretamente, o fato de o documento de orientação ver nos 'sinais dos tempos' uma nova fonte de revelação ao lado da Escritura e da tradição – como os Cristãos Evangélicos alemães, na ascensão de Hitler durante o nazismo, haviam visto uma nova revelação. Fazer essa comparação aqui é totalmente desastroso, não apenas no plano da comunicação, mas também no plano objetivo da coisa em si. A declaração posterior de Koch não muda nada” (M. Altmann).
Em vez de hipérboles de efeito, como as de Koch, ou de posicionamentos genéricos sem nenhuma referência objetiva ao que foi discutido e decidido pelo Caminho Sinodal, como o recente comunicado da Secretaria de Estado, ajudaria muito mais um debate franco sobre os conteúdos e sobre as experiências recolhidas pela Igreja Católica alemã em seu processo sinodal local.
Se as irritações vaticanas por uma espécie de pressuposto teutônico não são totalmente infundadas, dada a transversalidade global de muitos aspectos centrais abordados pelo Caminho Sinodal alemão, permanece bastante incompreensível a obstinação com que órgãos e súditos da Cúria concentram toda a sua atenção (e crítica) exclusivamente sobre a Igreja alemã – sem gastar uma palavra sobre o que vem de outras Igrejas locais da catolicidade em relação às mesmas questões.
Uma breve menção merece a reflexão dos bispos alemães sobre a pastoral em situações de emergência e de catástrofe.
A ocasião foi dada pelas inundações que no ano passado devastaram algumas regiões da República Federativa, nas quais a intervenção pastoral das Igrejas foi de extrema importância tanto no imediato quanto em longo prazo.
E foi precisamente a partir dessa experiência dramática e prática que os bispos alemães perceberam a necessidade de rever o modelo de pastoral em situações de emergência e de catástrofe. Mostrando que a organização eclesial deve ser remodelada e repensada a partir da concretude do seu exercício pastoral – princípio que não vale só para esse setor, mas também para todo o modo de pensar e realizar uma missão pastoral da Igreja na sociedade contemporânea.
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Bispos alemães: assembleia plenária e nazismo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU