30 Setembro 2022
A América Latina orgulha-se de ser uma das regiões com maior riqueza natural do mundo. Possui 40% da biodiversidade global protegida em lugares tão diversos como a Patagônia, a selva amazônica, os recifes de coral do Caribe, os lagos e montanhas andinas ou as florestas mesoamericanas. Mas defendê-los custa sangue. E muito.
Na última década, 68% dos crimes contra ambientalistas no planeta (cerca de 1.200) ocorreram nessa região, segundo relatório publicado desde 2012 pela Global Witness.
A reportagem é de Lorraine Brook, publicada por El País, 29-09-2022.
No total, a organização documentou 1.733 ativistas mortos por defender suas terras e recursos em dez anos, um a cada dois dias. E alerta que esta é apenas a ponta do iceberg, já que muitos casos passam despercebidos porque ocorrem em zonas de conflito ou onde há “restrições à liberdade de imprensa ou da sociedade civil e por falta de independência no monitoramento dos ataques”.
Brasil e Colômbia estão no topo dessa lista, com 342 e 322 crimes contra defensores, respectivamente, enquanto as Filipinas estão em terceiro lugar com 270, o México está em quarto, com 154, e Honduras, um pequeno país que não chega a dez milhões habitantes, o quinto, com 117 defensores mortos.
O Brasil tem sido o país mais mortífero para os defensores da terra desde que a Global Witness começou a fazer esta lista em 2012, uma posição que a Colômbia havia ultrapassado nos últimos anos. Ambos foram superados este ano pelo México. No total, três quartos dos 200 ambientalistas mortos em 2021 eram da América Latina.
No caso das 342 mortes registradas no Brasil na última década, cerca de um terço das vítimas pertencia a membros de comunidades indígenas ou afrodescendentes, e quase 85% dos crimes ocorreram na Amazônia, território protegido principalmente por indígenas. e onde há "crescente violência e impunidade", segundo o relatório.
A organização atribui esse alto número, em parte, “à maior conscientização e melhor monitoramento da sociedade civil em comparação com outras partes do mundo”. “O conflito por terras e florestas é o principal motivo desses crimes. Os povos indígenas têm um papel importante como Guardiões da Amazônia, na prevenção das emissões do desmatamento e da degradação florestal e na mitigação da crise climática”, diz o relatório. “Com os poderosos interesses agrícolas no centro da economia brasileira tão focados nas exportações, há uma batalha por terras e recursos que se intensificou com a eleição do presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro, em 2018”, acrescenta.
A Global Witness denuncia que, desde que chegou ao poder, Bolsonaro promoveu a extração ilegal de madeira e mineração, além de ataques a grupos conservacionistas, removeu proteções para povos indígenas na terra e desmantelou orçamentos e recursos de agências de proteção da floresta e indígenas, o que tem motivado a invasão ilegal de terras. “A incapacidade do Estado de defender os ambientalistas ao mesmo tempo em que dá luz verde à extração ilegal de recursos levou alguns a sugerir que o governo brasileiro foi sequestrado por interesses criminosos”, diz o relatório.
Para o grupo, o assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, em junho passado, é um grande exemplo do "ataque aos povos indígenas e àqueles que tentam defendê-los". Pereira foi demitido da Fundação Nacional do Índio (Funai) nos primeiros meses do governo Bolsonaro após liderar uma megaoperação contra o garimpo ilegal.
A íntegra da reportagem pode ser lida aqui.
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Florestas manchadas de sangue: América Latina registra quase 1.200 ambientalistas mortos em uma década. Brasil está no topo da lista - Instituto Humanitas Unisinos - IHU