19 Setembro 2022
“Conheci vários jovens que queriam ser padres, mas que não se viam em uma vida sem esposa e filhos. Estou convencido de que teriam sido padres excelentes, mas péssimos celibatários. A regra do celibato priva a Igreja Católica de alguns padres excelentes e de excelentes pastores”.
A reportagem é de Lorenzo Prezzi, publicada por Settimana News, 16-09-2022. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Com pacata maturidade e sem pretensões, a afirmação é feita em uma ampla reflexão sobre dois pontos fundamentais do exercício do ministério presbiteral hoje: o celibato e o dever da autoridade. Seu autor é Pascal Wintzer, bispo de Poitiers (França) e membro do conselho permanente da Conferência Episcopal.
A carta pastoral (de setembro de 2022) tem como título “Escolher e decidir” e tem dois subtítulos: “Celibatários por escolha” e “Autoritários por dever”.
Com base no processo sinodal e nos temas de reforma levantados pela comissão independente sobre os abusos (Ciase; o texto foi publicado em 5 de outubro de 2021), Dom Wintzer nega uma relação de causalidade entre escolha celibatária e autoritarismo, concentrando-se sobretudo no celibato, cuja obrigatoriedade está sendo discutida hoje.
“Já me expressei sobre a possibilidade de a Igreja latina também ordenar homens casados como padres. A eventualidade não seria, por si só, uma solução para a escassez de padres, cujo número é considerado fraco na Europa, nem uma garantia contra eventuais desvios, especialmente sexuais. No entanto, escrevi os motivos pelos quais considero tal caminho possível e, sem dúvida, desejável. Ele não põe em xeque o clero celibatário e não deveria levar os atuais padres a se casar”, pois cada um é chamado a ser fiel às escolhas feitas.
Utilizando o registro do testemunho pessoal, o prelado conta como o celibato foi uma escolha livre, coerente com um projeto de humanização madura. Sem negar seus custos, como uma certa solidão e o limite à própria vida afetiva, a renúncia ao exercício da sexualidade deve se ancorar profundamente no coração e em suas orientações de fundo, sobretudo no contexto contemporâneo, que anulou as gratificações sociais antes reconhecidas aos padres.
“Vivido na liberdade de uma escolha autenticamente humana e humanizante, o celibato do padre (...) poderá se expressar como capaz de dar um sentido ao ministério e como uma forma de seguir a Cristo”.
O subtítulo abrasivo (“Autoritários por dever”) introduz o paradoxo da crítica contextual à preguiça dos responsáveis diante dos abusos e da suspeita de autoritarismo em muitas decisões.
“É necessário constatar que, durante décadas, por negligência e falsa benevolência, a Igreja Católica fez muito pouco uso das faculdades previstas no direito interno para sancionar, no sentido pleno do termo, ou seja, encorajar e apoiar, mas também reprimir”.
Muito além do importante momento da decisão sobre ordenar ou não um candidato ao presbiterado, o exercício da autoridade certamente requer o exercício das virtudes e a capacidade de algum desapego das próprias emoções. Mas a sabedoria da sociedade democrática sugere elementos corretivos ao poder e um exercício compartilhado dele.
Instrumentos semelhantes já estão presentes na Igreja, mas raramente com um poder deliberativo e imperativo. É desejável desenvolvê-los para uma ação mais eficaz, também em coerência com a crescente consciência sinodal da Igreja. Uma condição que pede tanto a quem está em um papel de autoridade quanto a todos os demais que não renunciem às suas responsabilidades, que não se refugiem na fácil oposição ou na abstenção.
“Uma Igreja sinodal vive muito além de um simples fórum de debate em que alguns dão conselhos esperando que outros (mas quem?) os executem. O que cada um deseja não terá substância senão na medida em que cada um trabalhar, refletir e se comprometer. Nunca sozinho. Esse é o sentido da sinodalidade. Ela vai além da distinção ou da oposição entre consultivo e deliberativo”.
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França: celibato e viri probati - Instituto Humanitas Unisinos - IHU