09 Agosto 2022
Em 22 de dezembro de 2006, a Igreja italiana do Cardeal Camillo Ruini negou a celebração do funeral de Piergiorgio Welby, a quem dois dias antes haviam desconectado o respirador atendendo uma sua vontade. Welby, doente e confinado ao leito há anos, era católico e lutava pelo direito à eutanásia.
O comentário é de Fabrizio D'Esposito, publicado por Il Fatto Quotidiano, 08-07-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Dezesseis anos depois, a Igreja do Cardeal Matteo Zuppi, atual presidente da CEI, faria exatamente o contrário. Don Matteo Zuppi disse isso em uma bela entrevista ao semanário Vanity Fair. Perguntaram a ele: “A Welby foi negado o funeral. Se uma pessoa morresse com suicídio assistido, o senhor celebraria o funeral?”. Resposta: “Sim. No entanto, devo esclarecer um ponto: a Igreja não admite a eutanásia, mas pede a aplicação de cuidados paliativos. Ficamos próximos do ente querido até o fim, fazendo de tudo para tirar o sofrimento do corpo e do espírito, portanto sem nenhuma obstinação, mas sempre defendendo a dignidade da pessoa. A complexidade requer inteligência, misericórdia e amor para compreender os eventos da vida”.
Aqui está, a misericórdia, de fato. Respeito à morte, não ao direito à eutanásia. Por outro lado, ao contrário, a rigidez do clericalismo de direita. A Igreja ruiniana era um sepulcro caiado construído sobre a árida doutrina e o intervencionismo político em nome dos fatídicos valores não negociáveis e o Vicariato de Roma trancou as portas da paróquia de Welby, na Piazza Dom Bosco, com uma motivação digna dos fariseus do Evangelho que "amarram fardos pesados (e difíceis de carregar) e os colocam nos ombros das pessoas".
Ditada pelo próprio Dom Camillo. Uma nota em que o pobre Piero tornou-se burocraticamente "o falecido Dr. Piergiorgio Welby". Vale a pena reler a declaração na íntegra: "Em relação ao pedido de serviços funerários eclesiásticos para o falecido Dr. Piergiorgio Welby, o Vicariato de Roma especifica que não pôde conceder tais serviços funerários porque, ao contrário dos casos de suicídio nos quais se presume a falta de condições de plena consciência e deliberado consentimento, era conhecida, por ser reiterada e publicamente afirmada, a vontade do Dr. Welby de pôr fim à sua própria vida, o que diverge da doutrina católica (cf. o Catequismo da Igreja Católica, n. 2276-2283 ; 2324-2325)".
Assim, a Igreja que celebrou e ainda celebra os funerais para mafiosos e maçons (até mesmo Licio Gelli), só para dar um exemplo, travou uma batalha política sobre o corpo de Welby, negando a misericórdia e a bênção fúnebre. Mina Welby relatou: “Eles decidiram com o catecismo nas mãos e não com a piedade cristã, ferindo desnecessariamente a mãe de Piero, que tem mais de oitenta anos”.
Mais ainda: Dom Giovanni Nonne, o então pároco de Dom Bosco (falecido em 2016): “Sinto muito. Não comento as decisões do Vicariato. Mas posso dizer que Piergiorgio era como um irmão para mim. Tente imaginar como você se sentiria se seu irmão falecesse”.
Nas décadas seguintes, o Cardeal Ruini nunca se arrependeu daquela decisão em nome da Doutrina e da política. Mina Welby nunca perdoou o ex-presidente da CEI e dezesseis anos depois ela diz: "Eu conheço Dom Matteo Zuppi, eu sei que ele teria feito o funeral de Piero".
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Misericórdia. O funeral negado a Welby: Zuppi remedia à vergonha da Igreja de Ruini - Instituto Humanitas Unisinos - IHU