02 Agosto 2022
O homem que música em si mesmo não traz, nem se comove ante a harmonia de agradável toada, é inclinado a traições, tão-só, e a roubos, e a todo estratagema, de sentidos obtusos como a noite e sentimentos tão escuros quanto o Érebo. De um homem assim desconfiai sempre. Ouvi a música!
São versos do quinto ato do Mercador de Veneza, a poderosa e terrível tragédia de Shakespeare.
O comentário é do cardeal italiano Gianfranco Ravasi, prefeito do Pontifício Conselho para a Cultura, publicado em Il Sole 24 Ore, 31-07-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eles apontam para o coração de uma experiência fundamental da humanidade, a música, cuja linguagem é universal e continuamente se recria.
A evidência mais evidente está nos jovens que se alimentam mais de música do que do alimento cotidiano, com risco de obesidade também devido aos novos ritmos que a música adquiriu em nossos tempos. Sabe-se, de fato, que os gregos já distinguiam entre a música de Apolo que gerava alegria, harmonia, beleza e aquela de Dionísio que cegava a mente, embotava o ouvido, exasperava as paixões.
Shakespeare exalta a primeira função desta arte que também é eficaz na dor. Se for excluída, a alma despenca no silêncio negro, sem tremores, tornando-se sombria e vazia. Marcel Proust confessava:
“A música me ajudava a descer em mim, a descobrir algo de novo.” O exercício da escuta é, portanto, importante e progressivamente faz com que a música não seja apenas ouvida, mas se torne uma canção da nossa alma. E aos idosos que desprezam com altivez a música dos jovens, repitamos a frase do Eclesiástico, sábio bíblico: "Fale, ancião, pois isso convém a você, mas tenha discrição e não atrapalhe a música" (32,3).
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
#música. Artigo de Gianfranco Ravasi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU