06 Julho 2022
"Fundamentalismo islâmico, ausência de autoridade estatal (submundo generalizado e endêmico), ideologias totalitárias (comunistas), radicalismos religiosos (no hinduísmo e no budismo), estatismo islâmico são os principais vetores da perseguição anticristã que atinge 360 milhões de pessoas".
O artigo é de Lorenzo Prezzi, teólogo italiano e padre dehoniano, publicado por Settimana News, 29-06-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Confirmações dramáticas e novas pesquisas sobre o tema das perseguições.
Na região subsaariana - e na Nigéria em particular – seguem-se ataques e massacres em comunidades cristãs pelo fundamentalismo islâmico.
Do outro lado do globo, no México, aumentam os assassinatos de padres e fiéis pelo submundo do narcotráfico.
Fundamentalismo islâmico, ausência de autoridade estatal (submundo generalizado e endêmico), ideologias totalitárias (comunistas), radicalismos religiosos (no hinduísmo e no budismo), estatismo islâmico são os principais vetores da perseguição anticristã que atinge 360 milhões de pessoas.
Além das confirmações, há a novidade da pesquisa: o relatório da Open Doors sobre o peso da violência religiosa entre os 100 milhões de refugiados, deslocados e refugiados registrados no mundo.
Em 5 de junho, um comando terrorista cercou uma igreja em Owo, no estado de Ondo (Nigéria), matando 40 pessoas e ferindo algumas dezenas. Em 19 de junho, um ataque semelhante em duas igrejas em Kaduna deixou três mortos e cerca de 30 sequestrados.
Massacres, roubos e sequestros (por resgate) sucedem-se e respondem por uma modalidade definida: um grupo em motocicletas ou carros penetra em áreas geográficas de maioria cristã, aterroriza os habitantes, rouba objetos de valor e mata de forma indiscriminada.
Das 5.898 mortes por perseguições anticristãs registradas no mundo em 2021, 76% são nigerianas. Em cima das tensões sociais entre as populações pastoris dos estados do norte (muçulmanos) e as agrícolas e sedentárias do sul (cristãos e muçulmanos) se aninharam grupos fundamentalistas islâmicos (Boko Haram, Estado islâmico e outros grupos armados).
Os cristãos, como outras minorias, não podem contar com as forças de segurança nacional. Os muçulmanos “dialogantes” também são alvo de ataques.
Grupos extremistas estão buscando a destruição de todos os vestígios de presença e educação cristã, em sua opinião "ocidental".
Os 2.510 sequestros registrados em 2021 são contra garotas. Fato que traumatiza as famílias, obrigando-as a manter as jovens em casa, privando-as da fundamental oportunidade escolar.
Entre as vítimas predestinadas estão padres e pastores protestantes, mas também imãs dialogantes. Em 22 de maio, o pastor batista Samuel Kalu Uche foi sequestrado. Alguns dias antes, dois padres católicos, Stephen Ojapa e Oliver Okpara, tiveram o mesmo destino. Antes deles foram seguestrados o Pe. A. Uhoh, I. Abasi, J. Okorico, U. Obanla (Anglicano), p. A. Bako, p. F. Zakari etc. Também sequestrados para resgate os imãs A. Shehu Mai Annabi, M. Ahmad Garko e, recentemente, outros dois imãs de Ayetoro (Ogun).
O bispo da diocese de Ondo, por ocasião do funeral das vítimas de 5 de junho, qualificou como "promessas vazias" os empenhos das forças policiais de procurar bandidos e mandantes, convidando todos a "defender o país daqueles que o destroem".
O narcotráfico e o submundo mexicano também visam preferencialmente as figuras dos padres. Em 20 de junho, foram mortos em sua igreja (Urique, Sierra de Chihuahua) os dois jesuítas J. Camòpos e J. Mora, culpados de defender um paroquiano. Os corpos foram levados. Os jesuítas mexicanos denunciam: “Todos os dias, mulheres e homens são arbitrariamente privados de vida, como aconteceu com nossos coirmãos”.
Em 2021, foram registrados 33.308 homicídios em todo o país. A matança de padres e do pessoal religioso faz parte desse drama que parece não ter fim. Desde 2014, se registram cerca de uma dezena de padres mortos por ano, mas as ameaças contra eles são quase mil.
A figura do religioso é muitas vezes uma das poucas referências locais. Matá-lo significa que ninguém está seguro, impor o terror e a cultura do silêncio.
Há algumas semanas, o presidente da Conferência Episcopal, Mons. Rogelio Cabrera López disse: “É verdade (a violência é uma questão estrutural), essa realidade vai além do nosso próprio país, tem ramificações em todos os lugares. Penso no tráfico de droga, no tráfico de seres humanos. Comportamentos que visam ganhos milionários. A violência é o resultado de um desejo ilimitado por dinheiro. A isto só podemos contrapor um trabalho de paz... A Igreja deve usar a sua voz para convencer as autoridades a unirem forças pela paz”.
The Church on the Run (a Igreja em Fuga) é o título do relatório que Open Doors, uma associação inter-religiosa dedicada a denunciar perseguições anticristãs, publicou em 17 de junho. Diz respeito às modalidades como a perseguição anticristã atua entre os crentes que se viram forçados a abandonar tudo para se salvar, uma parte não negligenciável dos 100 milhões de refugiados e deslocados que as agências da ONU registram para o ano em curso.
Obrigar os crentes e suas famílias a ir embora parece um assédio administrativo, mas pode ser parte de uma lúcida perseguição.
A viagem da esperança é muitas vezes atravessada por violências antirreligiosas específicas. De qualquer forma, a perda de referência à comunidade põe à prova a fé professada e expõe à violência psicológica e física.
Ser cristão às vezes é mais uma razão de fragilidade não percebida nem mesmo por associações humanitárias.
Reconhecer a identidade confessional é uma tarefa urgente diante do fenômeno de massa de refugiados e "deslocados internos" (no mesmo país).
A conexão entre as confissões cristãs e migrações forçadas é evidente pelo fato de que, nos primeiros 76 países da lista com maior perseguição, são 58 aqueles que registram cristãos que declaram ter sido deslocados à força.
46% dos deslocados internos estão registrados em cinco países no topo da violência anticristã: Síria, Afeganistão, Congo, Colômbia, Iêmen.
68% dos refugiados vêm de países sujeitos a severa discriminação religiosa, como Síria, Venezuela, Afeganistão, Sudão do Sul e Mianmar.
De acordo com Helen Fischer, uma das especialistas que organizou a pesquisa: "A obrigação de ter que ir embora não é apenas um subproduto da perseguição, mas em muitos casos é um elemento deliberado de uma estratégia mais ampla para remover o cristianismo de uma comunidade ou país”. A começar pelos comportamentos dramáticos das famílias que não toleram as conversões.
“Em muitos contextos, há mais possibilidades de os cristãos serem forçados a deixar seu país e a sofrer violência psicológica e física em sua viagem”.
Tanto para os indivíduos quanto para os grupos ou povos, a decisão de ir embora vem após um longo processo de exclusão. É argumentado em uma série de pressões crescentes ao nível de famílias (especialmente sobre as mulheres convertidas), das administrações nacionais ou locais (por exemplo, leis contra a blasfêmia), de estados ou de grupos religiosos violentos. Este último é o caso que justifica as migrações internas no Mali, Níger, Burkina Faso e Nigéria.
Nos países do Golfo (Oriente Médio) é a pressão do Estado que amplifica os sistemas de pressão sobre os cristãos. A Síria os obrigou a chegar aos territórios curdos, onde são vítimas das operações anti-curdas da Turquia.
Na Ásia, a maior pressão para a expulsão dos cristãos é a família e a comunidade local. Em Mianmar, um grupo de extremistas budistas (Ma Ba Tha) é liderado pelo slogan "ser birmanês significa ser budista".
Os norte-coreanos que fogem para a China ficam à mercê de seus empregadores, que podem denunciá-los quando quiserem. Uma condição que, no mesmo país, torna as mulheres norte-coreanas presas fáceis para a prostituição.
Na América Latina, os cristãos, na opinião de um especialista citado no relatório, “são o principal inimigo do submundo que tenta dificultar a vida deles”.
O Iraque é um caso clássico. Antes de Saddam Hussein, havia mais de um milhão de cristãos. Hoje são 166.000. A estratégia da terra arrasada para os cristãos pelo ISIS está sendo cumprida. O texto cita um fragmento de uma entrevista: “Todos vão embora lentamente e muitas vezes ninguém sabe que se foram. Acontece silenciosamente, mas acontece todos os dias. As pessoas arrumam suas coisas, fecham as portas de casa e deixam toda a vida para trás. Às vezes aqui (na Jordânia) encontro pessoas que conheço e fico surpreso ao vê-las. Acho que em todos exista um sentimento de vergonha, mesmo que não conheça nenhum de nós que poderia fazer outra escolha”.
A vida de um cristão deslocado ou emigrado internamente está carregada de vulnerabilidades em que a fé é um recurso, mas muitas vezes também mais um motivo de exclusão.
A insegurança física e os desafios psicológicos são as principais formas de pressão. Sobrecarregadas pelo fato de ser mulher ou criança.
Os cristãos tentam, por exemplo, evitar os campos de refugiados da Líbia e do Iraque.
Em linhas gerais, o estudo procura destacar os desafios específicos que a fé cristã suporta no contexto dos deslocados internos e refugiados no exterior. E sugere o desenvolvimento de programas específicos de combate à discriminação para proteger os direitos dos crentes refugiados e deslocados, instando-os a participar na elaboração de programas de ajuda e envolvendo as organizações religiosas presentes.
A formação específica também é desejável para os agentes humanitários e o fornecimento de meios adequados para os operadores religiosos locais que trabalham com pessoas deslocadas internamente.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Perseguições: crimes e novos estudos. Artigo de Lorenzo Prezzi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU