07 Junho 2022
Alta de mais de 100% de casos deixa claro recrudescimento da pandemia no Brasil. Respostas, mais uma vez, são desordenadas. Medidas que podem mitigar problema são claras – o que falta, ainda, é vontade política para adotá-las.
A reportagem é de Gabriela Leite, publicada por Outra Saúde, 06-06-2022.
Desde o início de maio, a tendência de queda dos casos de covid no Brasil inverteu-se. Agora está claro que atravessamos uma nova onda. A média móvel de infecções registrada neste domingo (5/6) foi de 29.342, o que significa um aumento de 103% em comparação a duas semanas atrás. Os riscos de um nível ampliado de internações e mortes, semelhante ao do início do ano, são reais. Há meios de enfrentá-los — mas persistem as hesitações políticas que tornaram o Brasil um dos países mais atingidos pela pandemia.
Dois fatores dificultam a notificação de casos. O primeiro, pontual, é que no domingo nove estados não atualizaram os dados de casos e óbitos, incluindo os três mais populosos do país: São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Há registros de que o sistema do ministério da Saúde apresenta falhas. O segundo fator que dificulta a contabilização tem a ver com os autotestes: quando foram autorizados, em fevereiro, não se criou uma estratégia para informar seu resultado às autoridades de Saúde – o que os tornou apenas um instrumento de avaliação individual.
O aumento do número de casos ainda não se refletiu em crescimento dos óbitos. A média, móvel, no domingo, foi de 80 óbitos, 17% menor que duas semanas antes. A ausência dos dados de cinco estados é uma das causas. Outra é a vacinação em massa. Esta tendência contraditória — explosão de casos, mas mortes estabilizadas — também é observada em outros países como Estados Unidos e Alemanha.
Diante do aumento de casos e hospitalizações, autoridades de saúde de alguns estados e municípios voltaram a recomendar a volta do uso de máscaras – sem, contudo, torná-las obrigatórias. A vacinação também avançou pouco: a partir de sábado, a quarta dose dos imunizantes foi liberada para todos aqueles com idade acima de 50 anos e aos trabalhadores da saúde. Mas a dose de reforço (a terceira) – que já está disponível para toda a população acima de 12 anos – segue estagnada, tendo alcançado apenas 43,6%. A ômicron, variante da covid que tem a capacidade de infectar mesmo aqueles que estão imunizados, é melhor combatida com ao menos três doses de vacina.
Em artigo publicado na semana passada, o médico sanitarista Claudio Maierovitch analisou o estágio atual da pandemia e indicou medidas que seriam eficazes para minimizar o sofrimento da população, hoje. “Desenhar cenários para as próximas semanas ou meses é tarefa arriscada. Contrariando a ideia de que a crise passou, linhagens BA.2, BA.4 e BA.5, derivadas da variante ômicron, fazem aumentar os casos em vários países e podem infectar até quem teve infecção recentemente”, afirma.
Maierovitch traça um plano para diminuir as contaminações e as mortes. Ele inclui reforçar a vacinação e retomar o uso de máscaras em locais fechados. Mas também testar a população em massa, com e sem sintomas, com autotestes distribuídos de graça pelo SUS, em escolas e locais de trabalho – e que seja garantido o isolamento daqueles que adoecem.
Outra medida ainda não adotada de maneira ampla no Brasil e que poderia ser útil agora é o rastreamento de contatos, para o médico. “Com número menor de doentes, é possível identificar quem teve contato recente com casos, realizar exames, orientar isolamento e quarentena. Dessa forma, pode-se interromper as cadeias de transmissão.” O último ponto diz respeito à vigilância laboratorial, integrando laboratórios públicos e privados para identificar as variantes em circulação. Alguns pesquisadores pensam que a covid se tornará uma doença como a gripe comum, com forte capacidade de contágio mas mortalidade relativamente baixa. Cientistas ouvidos pela revista norte-americana The Atlantic, porém afirmam que não é possível ter certezas a respeito. Ainda não há conhecimento suficiente sobre como as novas variantes afetarão as populações. A covid ataca o coração, o cérebro, o fígado e os rins – e mesmo que se torne mais branda, continuará causando transtornos à Saúde pública. Embora a vacinação de grande parte das populações, em países como o Brasil, reduza as ameaças, o futuro parece ser ainda de incerteza.
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Covid: como enfrentar a nova onda - Instituto Humanitas Unisinos - IHU