A Polícia Federal (PF) reafirmou a falta de indícios de estupro e morte de uma menina Yanomami na aldeia Aracaçá, no mês passado. Nesta sexta-feira (6), em Boa Vista (RR), a PF convocou a imprensa para dizer que descobriu um conflito de narrativa após dois dias de investigação (27 e 28 de abril), em depoimentos traduzidos por dois indígenas Yanomami. A conversa entre os policiais federais e um grupo de Sanöma (um subgrupo dos Yanomami) da aldeia Aracaçá foi traduzida por Júnior Hekurari Yanomami, presidente do Conselho de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kwana (Condisi-YY), e por outro indígena da comunidade que sabe falar português. Foi o próprio Júnior quem divulgou, no dia 25 de abril, a morte da menina e o desaparecimento de uma criança de três anos no rio. O assunto teve repercussão nacional, com artistas, lideranças indígenas, ativistas e até o Supremo Tribunal Federal (STF) cobrando respostas.
A entrevista é de Fabrício Araújo, publicada por Amazônia Real, 06-05-2022.
O delegado Daniel Pinheiro Leite Pessoa Ramos atribuiu a uma “sequência de falas e narrativas” a divulgação do estupro e morte da menina. Para ele, tudo não passou de um mal entendido iniciado durante uma conversa entre um funcionário da Fundação Nacional do Índio (Funai) e um morador de Aracaçá, quando os dois comentavam sobre um vídeo produzido pela organização Instituto Socioambiental (ISA) que relatava abusos sexuais contra mulheres Yanomami.
Segundo a PF, o indígena informou a outro Yanomami sobre o assunto e este tomou como um “fato”, repassando assim a informação para Júnior Hekurari Yanomami.
Conforme o delegado Ramos, a liderança indígena teria comentado, enquanto assistia ao vídeo: “Eu tenho muita preocupação que isto esteja ocorrendo na comunidade Aracaçá, que é a comunidade dos meus familiares”.
“Esta informação ele passou para outro indígena. Este outro indígena tomou como fato. Através disso, repassou para outra liderança e assim veio à público como fato ocorrido, com riqueza de detalhes, mas como podem ver, este vídeo fala de casos passados”, afirmou Ramos.
Segundo o delegado, ao chegar na comunidade foram encontradas seis pessoas, já que três delas estão na Casa de Apoio Indígena (Casai), em Boa Vista. Este número é contestado por Júnior Hekurari, que disse anteriormente ter contado 24 pessoas na aldeia.
Procurado para comentar as declarações do delegado da PF, Júnior Hekurari, que atuou com um dos tradutores da diligência dos policiais, lamentou a versão de que tudo não passou de um “mal entendido” e teme que o caso seja encerrado sem uma explicação ou investigações aprofundadas. Para ele, os garimpeiros seguem calando os indígenas. Hekurari também comentou que está “impedido de representar o próprio povo”.
“Não tem uma população de nove pessoas, mas sim de 24 pessoas. É necessário continuar as investigações. Eu acredito que a violência ocorreu, mas os garimpeiros taparam as bocas do povo Yanomami para falar comigo”, afirmou a liderança.
Hekurari disse também que não foi avisado sobre o caso por apenas uma pessoa, como apontou a PF. Ele contou ter ouvido o mesmo relato de três líderes indígenas que têm a confiança dele.
Durante o primeiro dia de sobrevoo, em 27 de abril, Hekurari fez um vídeo de dentro do helicóptero que levava a equipe da PF. Ele reafirmou que a maloca já estava queimada.
Além dos oito policiais federais e de Júnior Hekurari, viajaram até o local o procurador da República, Alisson Marugal, um servidor da Fundação Nacional do Índio (Funai), um representante da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) e cinco militares.
Daniel Pinheiro Leite Pessoa Ramos contou ainda na coletiva que foram feitas “várias fotos e escavações e algo que parecia uma cova ou era indicado pela liderança que dizia que podia ser uma coisa ou outra”. Segundo o delegado, os policiais “fizeram escavações para tentar achar restos mortais, mas os indícios não se confirmaram”.
Sobre a maloca encontrada queimada, o delegado falou como se fosse um conhecedor da cultura Yanomami, ao dizer que “o luto deles é muito forte”, mas que “não havia nenhum componente da comunidade de luto”.
“A gente vem numa crescente de informações que levam a crer que não aconteceu, né? A origem da denúncia, por tudo que a gente vem colhendo como policial, mas eu gostaria de frisar novamente, a investigação ainda está em pé. Ela está no começo, ou seja, o que eu posso falar pra vocês e ser verdadeiro com a sociedade hoje fiquei com relação a quantidade de indígenas”.
Conforme o delegado, os peritos da PF também colheram as cinzas dessa queimada para análise se existem “material orgânico ou biológico” que tenham relação com as mostras coletadas.
Os delegados durante a coletiva de imprensa. (Foto: Reprodução TV)
A Amazônia Real apurou que as narrativas contadas por indígenas nem sempre seguem a lógica e o tempo ocidental. Há relatos e denúncias que ocorrem em tempos remotos ou recentes que ficam na memória dos indígenas e que vêm à tona quando se deparam com experiências semelhantes. Mas, sem uma investigação profunda e qualificada, não é possível atribuir e nem negar a atemporalidade para o caso denunciado no mês passado.
Na nota que divulgou nesta sexta-feira (6), a Hutukara Associação Yanomami (HAY) contou uma experiência de horror vivida por mulheres da aldeia Aracaçá, cujo “histórico de tragédias” acontece desde 2017. A Hutukara relatou a morte de um homem Yanomami durante uma briga fomentada pela distribuição de cachaça por garimpeiros.
As duas esposas do homem ficaram desassistidas e foram prostituídas por garimpeiros. A filha de uma delas, aos 16 anos, também foi explorada sexualmente, engravidou e perdeu um bebê por traumatismo craniano. A adolescente sofreu “sequelas pelas violentas relações sexuais com os garimpeiros” e engravidou novamente de um outro garimpeiro. Este levou o filho da jovem Yanomami para Boa Vista. “Desesperada, tirou sua própria vida se enforcando”, diz relato da Hutukara.
“A vulnerabilidade das pessoas da comunidade é tamanha que é bastante provável que episódios assim se repitam cotidianamente. As denúncias sobre Aracaçá só podem ser compreendidas dentro desse cenário, no qual metade das aldeias da Terra Indígena Yanomami está sujeita ao assédio dos invasores”, diz trecho da nota da organização.
Maloca incendiada na aldeia Aracaçá, segundo o presidente do Condisi-YY. (Foto: Júnior Hekurari)
Desassistida de ações de saúde e humanitária, cercada pelo garimpo ilegal que devasta florestas e rios, é assim que o presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’Kwana (Condisi-YY), Júnior Hekurari, descreve a pequena comunidade Aracaçá.
Localizada no rio que leva o mesmo nome, a comunidade Aracaçá fica na região do Waikás, distante a oito minutos de viagem de barco do rio Uraricoera, no extremo norte da Terra Indígena Yanomami, em Roraima, na fronteira com a Venezuela. Júnior Hekurari afirma que as pessoas da comunidade pertencem ao subgrupo dos Sanöma – que falam línguas da mesma família: Yanomae; Yanõmami; Sanima e Ninam.
Dos mais de 26,7 mil indígenas Yanomami que vivem no território, que inclui uma parte no estado do Amazonas, cerca de 3 mil são do subgrupo Sanöma (segundo dados da Sesai de 2018). A maioria vive no extremo norte da terra indígena Yanomami.
Para os Sanöma, um bom local para viver é onde há terra boa para plantio, pois assim se garante a alimentação a partir da natureza. A comunidade Aracaçá, criada em 2010, tinha todas essas características para sobrevivência. No entanto, desde 2019 a situação começou a mudar drasticamente com a intensificação das invasões dos garimpeiros, que começaram a cercar suas comunidades, cavando o leito do rio e destruindo a floresta. De 49 indígenas que viviam na região, a comunidade viu seu número reduzir para 24, em 2022.
Júnior Hekurari afirma que a redução da população de Sanöma ocorreu em razão de violência dos garimpeiros contra os indígenas. “Uma mulher se suicidou após um garimpeiro levar a filha dela embora”, diz o presidente do Condisi-YY, órgão subordinado ao Ministério da Saúde e um braço da Sesai. A Covid-19 e a malária também contribuíram para o genocídio e apagamento desse povo.
Segundo o artigo “O povo indígena Sanöma/Yanomami e a trilha de adoecimentos na pandemia da covid-19”, de autoria da professora Sílvia Guimarães, do Departamento de Antropologia da UnB, e publicado pela revista Espaço Ameríndio, “até janeiro de 2021, mais de 80 Sanöma foram contaminados por covid-19”. Ainda de acordo com o artigo, “ao todo quatro bebês faleceram com suspeita de covid quando estavam em tratamento na cidade de Boa Vista. Outras mortes estão acontecendo nas comunidades com transmissão comunitária sem que explicações sejam dadas por parte do serviço de saúde”.
Entre os bebês Sanöma mortos, estão as crianças que foram dadas como desaparecidas pelas mães e enterradas no cemitério de Boa Vista, sem o consentimento delas, em 2020, segundo reportagem da Amazônia Real.
Além de violência, Júnior Hekurari afirma que garimpeiros levaram drogas, bebidas e construíram uma mini-cidade ao redor da comunidade Aracaçá, com direito a ponto de internet, supermercados, bares e prostíbulos.
Há 11 dias, Júnior Hekurari denunciou em um vídeo publicado nas redes sociais, que uma menina Yanomami, de 12 anos, foi estuprada até a morte por garimpeiros. As notícias dramáticas chegaram a ele via radiofonia, o único meio de comunicação entre a terra indígena e a cidade. A morte da garota foi o resultado de mais um ataque contra a comunidade Aracaçá. Segundo o presidente do Condisi-YY, uma criança de 3 anos e sua mãe, que também sofreram violência dos garimpeiros, continuam desaparecidos.
O presidente do Condisi-YY visitou a aldeia Aracaçá, junto com a comitiva da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, entre os dias 28 e 29 de abril para investigar os fatos. Em novo vídeo gravado, ele afirmou que identificou a comunidade como Sanöma. O que encontrou no lugar foi a maloca queimada e abandonada pelos indígenas.
Na tarde de quinta-feira (5), a agência Amazônia Real encontrou Júnior Herukari Yanomami na sede do Distrito Especial de Saúde Indígena (Dsei Yanomami), no centro de Boa Vista. O líder ainda estava almoçando. Ele demonstrava cansaço e comentou que ainda estava comendo aquela hora, 14 horas, “porque a rotina estava corrida”.
Durante a entrevista, Júnior Herukari disse que sua vontade é levar Justiça à Terra Indígena Yanomami. Ele fez um esforço para falar todas as palavras em português e ao fim pediu desculpa caso tivesse falado algo errado porque “português é muito difícil”.
Nesta semana o líder Yanomami relatou que vem recebendo ameaças de morte por parte de garimpeiros. O minerador e aviador Rodrigo Martins de Mello, conhecido como Rodrigo Cataratas, disse que vai processá-lo por difamação.
Júnior Hekurari, coordenador do Condisi Yanomami. (Foto: Conceição escobar | Amazônia Real)
Quem estuprou a adolescente trabalha para o Rodrigo?
Isso eu não sei. Ele só está nas redes sociais dizendo que está chateado comigo e que vai me processar. Já disse que foi na Polícia Federal, na Justiça Federal, no Ministério Público Federal e que vai me processar por difamar os trabalhadores dele porque garimpeiro é ‘trabalhador’. O de sempre.
Você já teve contato com ele?
Não. Nunca o conheci.
Depois da denúncia do estupro e da criança jogada no rio foi que ele passou a falar de você?
Isso. Exatamente.
Onde fica a comunidade?
A comunidade Aracaçá fica próxima ao rio Uraricoera, mas está no rio Aracaçá mesmo. Eles se encontram em formato de Y. É preciso subir cerca de oito minutos pelo Rio Uraricoera para chegar a comunidade Aracaçá. É próxima à região do Parimá.
Já era uma comunidade de 30 pessoas ou foi diminuindo com o tempo?
Em 2019, tinha 45 pessoas. Agora, tem 24 pessoas. Morreram muitos e as histórias é que houve violência, como estupro das mulheres. Já tem um histórico de violência dos garimpeiros contra essa comunidade. Essa comunidade fica muito isolada, não temos tanto contato, não tem posto de saúde, estão realmente desassistidos. Quem toma conta são os garimpeiros.
Existe um garimpo muito forte nessa região? Tem estimativa de quantos garimpeiros vivem lá?
Sim. Entre 10 mil e 12 mil garimpeiros no Aracaçá. Lá é maior a presença de garimpeiros porque parece que é possível chegar de barco. Mas também vimos helicópteros quando nos aproximamos [na visita com a PF].”
Além do histórico de violência, tem algum outro motivo para a redução do número de pessoas?
A gente não tem ainda. Eu perguntei ao Pedro e à Claudia [indígenas Yanomami] se a comunidade morreu só por violência, mas disseram que não. Há dois que morreram de coronavírus e malária. Eles sofrem muito, eu vi eles assustados porque os garimpeiros estão dominando eles.
A qual subgrupo essa comunidade pertence?
Aos Sanöma, que também falam a língua Sanöma.
Quais os costumes mais tradicionais que tinham antes do contato com garimpeiros?
Eles têm a mesma cultura do povo Yanomami, se mudam bastante. Em 2010 foi que chegaram nessa comunidade em que estavam. E, em 2013, uma equipe da Fiocruz foi até lá e detectou que essa comunidade estava contaminada com mercúrio até no cabelo.
O que ocasiona a mudança de território?
Nessa mudança da semana passada não entendemos o por quê. Estamos em dúvida sobre quem queimou a comunidade. Existe a marcação, que eu analisei 10 vezes, chamei até lideranças, e eles afirmam que houve cremação de uma pessoa, que seria a adolescente.
O que vai ser feito com essas cinzas?
Está lá com eles. As lideranças recolheram e colocaram em uma cumbuca para ficar por um ou dois anos. Depois, eles enterram. Costumam enterrar dentro da comunidade mesmo. No caso dessas cinzas, vão precisar construir outra comunidade. Enquanto eles estiverem sem comunidade não irão fazer ritual.
O que mais pode ocasionar mudanças de território?
Ameaças. Quando houver algo muito grave, como ameaças, nós Yanomami mudamos. Lá ainda tem roça, plantações com macaxeira e banana deles lá. Não tem motivo para abandonar a comunidade, eles tinham alimentação, mas quando tem ameaças eles abandonam. Deixaram tudo lá, não quebraram nada.
O contato com pessoas que não são da Terra Yanomami mudou os costumes dessa comunidade?
Mudou bastante. Passaram a conviver com os garimpeiros e tem muita bebida alcoólica. Tem relatos de drogas, como maconha, que teria entrado na comunidade. Tem o relato de um jovem que morreu depois de fumar maconha. Os relatos é que as bebidas alcoólicas são muito fortes nessa comunidade. Vimos muitas latas de cerveja.
Antes do caso dessa adolescente, teve outros casos de estupro?
Sim. Tem três. Aconteceram todos no ano passado na mesma comunidade.
E o que foi feito quando vocês receberam essas denúncias de estupro?
Avisamos às autoridades. Os policiais têm muita dificuldade para investigar por distância. A Polícia Federal tem boa vontade, mas autonomia, facilidade de acesso e apoio do governo, não tem. Não é perto e helicóptero é caro pra deslocar os agentes até às comunidades. E o próprio governo apoia os garimpeiros. O governo federal apoia os garimpeiros desde a entrada dele [Bolsonaro]; na verdade, desde que ele era deputado. Antes de ser presidente, ele nunca teve projeto. A boca dele é só falar em mineração e sem cabeça para ajudar o Brasil.
Como se sente com a falta de declarações do presidente após a denúncia de estupro?
É bem claro que ele apoia a atividade dos garimpeiros, esses invasores. Ele está apoiando estes crimes que estão acontecendo como o povo Yanomami. Isso é grave. A própria Funai deu uma declaração de que os garimpeiros são vítimas, mas não. As vítimas somos nós. Quem está perdendo as crianças somos nós. Quem está perdendo a história somos nós. Somos vítimas e o que os garimpeiros estão fazendo é culpa do Bolsonaro e da Funai, que não protegem o território e povo Yanomami. Nós sobrevivemos da floresta, sem floresta não somos Yanomami. A floresta e a água sustentam nós. E muitas crianças estão com diarreia por causa da água suja.
Tem relatos de suicídios entre as mulheres dessa comunidade?
Tem. Houve uma mulher que se suicidou, porque um garimpeiro levou sua filha.
Tem outros relatos de suicídio?
Não.
Tem relatos de traumas dessas mulheres estupradas?
A gente não tem contato para conversar assim com eles.
Como estão as buscas ao grupo que abandonou a aldeia?
Eu falei com indígenas e pedi para fazerem uma busca e me disseram que acharam eles próximos ainda. Estão na parte de baixo do rio Uraricoera, mas ainda não sabem quantos ainda têm lá.
Mas ainda não tenho informações concretas.
São 24 ou 25?
No censo tem 24, mas dois ficaram de fora. Eu não sei o motivo.
O que acha sobre a PF ter dito que não há indícios do ataque?
A Polícia Federal queria ver corpo, mas nós que conhecemos a cultura sabemos que os Yanomami não esperam muito e cremam o corpo para fazer o ritual. A nossa ida [até a comunidade] demorou demais. Os garimpeiros chegaram antes de nós e intimidaram a comunidade para não falar.
Imagens de garimpeiros com os Sanöma/Yanomami na aldeia Aracaçá (Reprodução | vídeo Junior Hekurari)
Por que afirma que eles foram intimidados?
Porque tem vídeo. Os garimpeiros conversaram e filmaram. Nesse vídeo, os indígenas só balançam a cabeça.
Como estão as buscas do corpo da criança?
Não tem ninguém fazendo as buscas e a mãe deve estar entre os desaparecidos. Quem está procurando são alguns parentes do grupo Ye’kwana (outro povo indígena do território, também conhecido como Maiongong) mesmo.
O que espera agora?
Espero que o governo federal faça o seu dever para a retirada dos garimpeiros, porque eles estão na Terra Indígena Yanomami. Essa terra é protegida por lei e só queremos viver em paz, mas só temos medo porque os garimpeiros não têm respeito com ninguém.
Além de garimpeiros, há outros grupos não-indígenas?
Não. Há investigações da Polícia Federal [sobre facções], como no caso de Palimiu, que a Polícia Federal concluiu que foi uma facção. (Disse que não sabe qual é a facção). Os indígenas não relatam a existência de facções. Eu nunca vi.
Você sabe se há venezuelanos na Terra Yanomami?
Sim, tem muitos. Os Yanomami até chegaram a dizer que não foram brasileiros, mas sim venezuelanos que estupraram [a adolescente]. É isso que os Yanomami relataram. Existem currutelas com venezuelanas e brasileiros, principalmente na comunidade Aracaçá.
Além disso, há outros tipos de comércios?
Tem comércios. A própria Polícia Federal nessa ida pousou em um ponto de distribuição de gasolina. Lá tinha mais de 20 mil litros de gasolina. Eles queimaram tudo. Tinha supermercado com chocolate, frango, cinco geladeiras, dois freezers, televisão e ponto de internet.
Tem quantos acampamentos de garimpeiros?
Acredito que há mais de 3,5 mil pontos de garimpeiros. Há cerca de 8 a 10 pessoas trabalhando em cada máquina. Todos os pilotos são estrangeiros de outros países. Mas tem pessoas de todos os estados do Brasil, dizem que tem muitos do Maranhão. A Polícia Federal encontrou muitos documentos.
Como os Yanomami constroem um novo local quando decidem se mudar?
Vai demorar um pouco, geralmente leva dois meses. Por conta do luto é porque precisam achar um bom local. Eles vão analisar a terra se é boa para crescer bem a alimentação. A Comissão do Senado tem que vir e não fazer audiência pública.
A Comissão fez contato com você?
A assessoria do Senado fez contato comigo e estamos organizando. Eles estão pedindo apoio do Exército e vou recebê-los. Sugeri o roteiro para irmos direto para o Aracaçá, depois Parima, Surucucu, Xitei, Romoshi e todos onde tem pontos mais fortes [de garimpo].
Como está a comunidade Aracaçá?
Vai ser derrubada. Está muito próximo. Tem 400 metros de distância do garimpo. A comunidade está cercada pelo garimpo. (Colaboraram Kátia Brasil e Elaíze Farias)
Garimpo no rio Uraricoera, Terra Indígena Yanomami. (Foto: Bruno Kelly | HAY)