25 Abril 2022
Se, na Alemanha, cada vez mais sacerdotes, religiosos e religiosas estão declarando sua sexualidade em paralelo ao caminho sinodal que está para se concluir na igreja alemã, na Itália cada vez mais crentes LGBT estão apelando ao Vaticano e pedindo o reconhecimento de sua identidade. Em 2018, durante o Sínodo dos Jovens, por exemplo, houve uma exigência concreta de repensar a sexualidade a partir de novas perspectivas teológicas e antropológicas, depois obstaculizadas por resistências dentro da própria Igreja, como mostrou o debate entre os delegados sinodais sobre a sigla LGBT em um documento do magistério. Três anos depois, a igreja italiana ainda está se movendo no plano pastoral, mostrando, no entanto, que a presença de crentes agregados é de fato vital.
A reportagem é de Marco Grieco, publicada por Domani, 21-04-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Enquanto as celebrações do primeiro Mês da História LGBTQ+ começaram em abril na Itália, 50 anos após o primeiro evento gay no país, no primeiro fim de semana de abril as Irmãs Ursulinas de Cesenatico realizaram um encontro de oração sobre o amor homossexual para casais LGBT com a coordenação de dois sacerdotes, Pe. Maurizio Mattarelli e Gabriele Davalli: 23 casais vieram de toda a Itália para se encontrar e refletir sobre seu caminho como fiéis.
No início de junho, porém, à sombra do santuário bolonhês de Nossa Senhora de São Lucas, 35 jovens cristãos se reunirão para compartilhar sua experiência de fé à luz de sua identidade LGBT: "Ao contrário da peregrinação às Dolomitas de dois anos atrás, neste encontro vamos meditar sobre o Evangelho, rezar e conhecer as muitas realidades territoriais da comunidade, ainda que não faltem elementos de diversão”, explica o organizador dos cinco dias (1-5 de junho), Luca Bocchi.
Bocchi é membro do Projeto jovens cristãos LGBT, um pequeno movimento nascido há 42 anos com o objetivo de unir jovens que se assumiam para suas famílias e agentes pastorais: "Desde então, a Igreja não parou de se perguntar sobre esses aspectos e, em comparação com o passado, essas questões são mais facilmente discutidas, também graças às muitas declarações de sexualidade que estão surgindo entre os católicos”, ele nos conta.
Como já aconteceu com as religiosas de Cesenatico, também desta vez o retiro será possível em uma estrutura da igreja: Villa San Giuseppe, administrada pelos jesuítas da província italiana: "Nosso centro de espiritualidade já se colocou à disposição para iniciativas relacionadas à pastoral com cristãos LGBT, especialmente pelo fato de serem cristãos que pedem para ser acompanhados em um caminho de fé e espiritualidade”, diz padre Pino Piva, que há anos está envolvido na pastoral com pessoas LGBT na Itália.
Em Milão, porém, os fiéis LGBT puderam participar das iniciativas dos Giovani del Guado, grupo nascido na década de 1980 com o objetivo de colocar em diálogo homossexuais com a Igreja Católica. Graças ao seu empenho foi possível abrir as portas de San Carlo al Lazzaretto, uma histórica igreja milanesa na Via Lecco, a chamada rua gay da cidade.
De fato, durante a Quaresma, os Giovani del Guado organizaram encontros de oração vespertinos abertos a todos, mas em particular aos fiéis LGBT: um passo importante realizado em diálogo com o arcebispo de Milão, Mons. Mario Delpini, e pelo vigário episcopal de Milão, Dom Luca Bressan.
No entanto, não faltam resistências na Igreja, como explica o teólogo Andrea Grillo, autor do ensaio Cattolicesimo e (omo)sessualità - Catolicismo e (homo)sexualidade, em tradução livre -, lançado hoje pela Morcelliana: “A posição tradicional está impregnada de preconceitos, problema comum a toda a tradição humana. O problema é que às vezes os preconceitos na igreja duram mais porque são projetados sobre Deus”, explica.
Ainda hoje nos documentos relativos ao magistério universal não se usa a sigla LGBT e a própria Igreja italiana a evita nos documentos do magistério universal: “A exclusão da sigla não significa a recusa de um debate sério. É certo que a questão de reduzir o fenômeno a um vício pode induzir a não considerar as diferentes formas de sua manifestação”, esclarece Grillo.
Mas com certeza se revela uma igreja de duas velocidades.
Em uma igreja de duas velocidades sobre o acolhimento aos fiéis LGBT, os passos decisivos são tornados possíveis com o pontificado de Francisco, um papa-pastor: "O pontificado de Francisco é pastoral no sentido do Concílio Vaticano II: ou seja, se preocupa em sinalizar a diferença entre a substância do depositum fidei e a formulação de seu revestimento. Há uma profunda coerência entre o atual pontificado e o projeto de abertura do Vaticano II. Aqui há diferenças maiores com os últimos 40 anos”, explica Grillo.
Em um dos principais documentos do Concílio Vaticano II, Gaudium et spes, reitera-se que todos fazem parte da criação, de modo que toda realidade deve ser interpretada na perspectiva da fé, não em contraste com ela.
Recentemente, causou discussão uma entrevista do cardeal alemão Reinhard Marx para a revista alemã Die Stern, onde indicou como possibilidade a modificação do Catecismo da Igreja Católica:
“Não se deve esquecer que apenas dez anos atrás pretendeu-se celebrar o aniversário do Vaticano II tornando o Catecismo seu intérprete mais autorizado: uma coisa paradoxal", aponta Grillo, que reitera a exigência de modificar o documento: "Em sua estrutura sistemática, o Catecismo sofre alguns defeitos graves, como o de compreender o fenômeno homossexualidade no contexto dos vícios contra a castidade, em continuidade com masturbação e estupro. Hoje tornou-se sistematicamente inaceitável”.
As dúvidas dos teólogos alemães dizem respeito aos dois pontos do Catecismo que colocam a homossexualidade entre as "ofensas à castidade" no sexto mandamento: “Como pode a Igreja reconhecer que aquelas das pessoas LGBT é uma condição em que a pessoa se encontra e, por outro lado, dizer que é contra a natureza?"
"É como admitir que Deus permite que algumas pessoas sejam criadas contra a sua própria ordem de criação”, explicam os teólogos alemães, citando a exortação apostólica Amoris Laetitia.
“Alguns jovens LGBT desejam se beneficiar de uma maior proximidade e de um maior cuidado da Igreja, enquanto algumas Conferências Episcopais se perguntam sobre o que propor aos jovens que, em vez de formar casais heterossexuais, decidem constituir casais homossexuais”, diz o Instrumentum laboris do Sínodo em 2018. Uma pergunta que também encontra múltiplas respostas na Itália.
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Cristãos LGBT, também na Itália a Igreja faz a revolução - Instituto Humanitas Unisinos - IHU