A Bíblia une e divide os cristãos. E também as cristãs

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25 Janeiro 2022

 

Só a fidelidade às Escrituras pode salvar a Igreja, disse o Papa Francisco nesse domingo por ocasião do terceiro Domingo da Palavra de Deus. Mas – destacamos – foi precisamente uma interpretação diferente e muitas vezes inconciliável da Bíblia que levou à divisão entre as Igrejas que, do lado católico, se tentou começar a superar com o Concílio Vaticano II.

 

O comentário é de Luigi Sandri, jornalista italiano, publicado em L’Adige, 24-01-2022. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

 

“A Palavra de Deus nos transforma, penetrando na alma como uma espada. Porque, se por um lado ela consola, revelando-nos o rosto de Deus, por outro – explicou Francisco – ela provoca e sacode. Ela não nos deixa tranquilos, se quem paga o preço por essa tranquilidade é um mundo dilacerado pela injustiça e pela fome.”

O pontífice olhou apenas para a atualidade, para convidar os fiéis a não se limitarem a “crer” intelectualmente, esquecendo, porém, que seria insípida uma fé que não se traduzisse no compromisso de libertar o mundo daquilo que traz sofrimento e morte.

Mas, se olharmos para a história europeia com uma visão mais ampla, constatamos que, no século XVI, a Reforma protestante e a Contrarreforma católica (que encontrou a sua ponta de lança no Concílio de Trento) pensaram em encontrar justamente na Bíblia a base para afirmar as respectivas verdades e, depois, para fortalecer, cada um do seu lado, os exércitos que, na virada daquele século e no seguinte, lutaram entre si nas “guerras religiosas”.

Silenciadas as armas, pelo menos aquelas diretamente em suas mãos, mas permanecendo o contraste teológico entre as partes, a Reforma e a Contrarreforma começaram a se falar apenas com o Vaticano II e no pós-Concílio.

E assim, em 1999, a Igreja Católica e a Federação Luterana Mundial assinaram um acordo sobre pontos-chave da doutrina da justificação (como Deus salva o fiel gratuitamente em Cristo), o ponto nodal que, na época, havia dividido irremediavelmente Roma de Martinho Lutero.

Esse foi um passo importante; mas outros ainda devem ser dados, e são muito difíceis, como a compreensão dos ministérios eclesiais.

Nesse domingo, Bergoglio conferiu a leigos, homens e mulheres provenientes de diversos países do mundo, o ministério do Leitorado (que lê as Escrituras durante a missa) e o ministério do Catequista. Foi uma forma de pôr um selo em uma prática em vigor há décadas. No entanto, enquanto os luteranos e outras Igrejas ligadas à Reforma também têm pastoras e bispas, ele continua mantendo o “não” às mulheres nos “ministérios altos”, reiterado pelos papas Montini e Wojtyla.

Precisamente nesta quarta-feira, 25 de janeiro, para encerrar a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, o pontífice celebrará as segundas Vésperas em São Paulo Fora dos Muros, onde, no dia 25 de janeiro de 1959, o Papa Roncalli anunciou o seu Concílio, que se calou sobre os ministérios femininos. Mas, mais cedo ou mais tarde, outro papa terá que convocar um novo concílio, desta vez de “padres” e de “madres”, para dizer que não é contra a vontade de Cristo acolher mulheres em todos os ministérios eclesiais reservados até agora aos homens.

 

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