14 Outubro 2021
No último 10 de maio escrevemos sobre o discreto e difícil caminho de reaproximação, depois de muitos séculos de hostilidade aberta de todo tipo, entre os muçulmanos sunitas (ramo majoritário) e os muçulmanos xiitas (ramo minoritário). [1] Essa possibilidade, impensável até recentemente, começou a ser discutida com insistência e fundamento justamente quando o Papa Francisco visitou o Iraque (5 a 8 de março de 2021 - Eventos e discursos) e em particular quando visitou Najaf, cidade sagrada dos xiitas, para se encontrar, conversar e prestar homenagem ao idoso e respeitado Grande Aiatolá Ali al-Sistani.
A reportagem é publicada por Il sismografo, 09-10-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Algumas semanas depois, foi Sayyid Jawad Al-Khoei, Secretário-Geral do Instituto Al-Khoei e Professor do Hawza em Najaf, quem revelou pela primeira vez que o Grande Imã Ahmad al-Tayyeb estava preparando com a colaboração de muitos dignitários muçulmanos, além de autoridades estatais, um inédito encontro com o Grande Aiatolá Al-Sistani na residência do líder espiritual na cidade de Najaf a 160/170 km ao sul de Bagdá. Agora, nos círculos políticos árabes, entre diplomatas do Oriente Médio e também em algumas mídias árabes especializadas e bem informadas, confirma-se que o dia do encontro entre os dois líderes, al-Sistani (91 anos) e al-Tayyeb (75 anos), está se aproximando rapidamente, pois as principais dificuldades e pré-condições mútuas teriam sido substancialmente superadas. Além disso, o Grande Imã de al-Azhar deveria chefiar uma grande delegação de especialistas e estudiosos - ele próprio é considerado o mais importante jurista islâmico sunita do mundo – que, como representante de al-Azhar, visitará a capital do Iraque, Bagdá e também as cidades de Erbil e Mosul.
Em Najaf, o Grande Imã egípcio visitará os estudiosos anciãos do seminário (Hawza), bem como o famoso santuário da cidade, Masjid ʿAlīou mesquita de Alī, considerado por cerca de 200 milhões de xiitas do mundo o terceiro local mais sagrado do Islã (depois de Meca e da Mesquita do Profeta, Medina).
Sayyid Jawad Al-Khoei, secretário-geral do Instituto Al-Khoei, especificou que as datas exatas da visita ainda não foram confirmadas pelos gabinetes dos respectivos líderes religiosos sunitas e xiitas, mas deixou claro que o encontro poderia ocorrer "em final de outubro ou início de novembro".
Khoei também enfatizou a alguns meios de comunicação árabes que "embora Al-Azhar seja obviamente uma das maiores instituições do Islã sunita, deixaram claro que esta visita não será apenas para uma parte do Iraque ou para os seguidores de uma única religião, mas sim uma oportunidade de entrar em contato com iraquianos de todas as origens confessionais" (...) e reforçar "a luta contra o sectarismo em toda a região e promover a coesão da comunidade".
Nos últimos três anos, no âmbito do diálogo e do intercâmbio, inúmeras iniciativas bem-sucedidas foram registradas entre xiitas e sunitas para derrubar séculos de desconfiança e aumentar a confiança mútua. Todos os estudiosos atribuem ao Papa Francisco um papel discreto, silencioso, mas fundamental nesse percurso de diálogo mas também de amizade social. Não seria um acaso a proximidade temporal das viagens do Papa aos Emirados Árabes Unidos para a assinatura da Declaração sobre a Fraternidade Humana com o Grande Imã al-Tayyeb, com quem o Pontífice se encontrou novamente há poucos dias em Roma e no Vaticano, e depois a recente Peregrinação ao Iraque, que incluiu o inesperado encontro com o Grande Ayatollah Xiita al-Sistani.
Nesse contexto inter-religioso, complexo, delicado e por vezes frágil, por ser também muito condicionado por perspectivas políticas, diplomáticas e geopolíticas, deve-se destacar uma indiscrição de fonte respeitada que poderia ser uma grande virada no diálogo entre as grandes religiões, entre o Islã e o Cristianismo: paralelamente ao referido encontro, estão em curso vários esforços e trabalhos para chegar em breve a uma cúpula católico-xiita-sunita no Vaticano, nos moldes do que sempre foi dito nos encontros de Francisco com al-Tayyeb e depois com al-Sistani sete meses atrás.
Por enquanto, as datas possíveis e os nomes dos participantes não são conhecidos. Alguns jornais árabes especulam que a reunião poderia ocorrer até o final de 2021. A presença do Papa e do Grande Imã de al-Azhar parece certa para muitos. O idoso e doente Ali al-Sistani poderia delegar a tarefa a outro alto dignitário xiita.
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Aproxima-se o histórico encontro entre o Grande Aiatolá Xiita Ali al-Sistani e o sunita Grande Imã de al-Azhar Ahmad al-Tayyeb. E o Vaticano trabalha na preparação de uma reunião de cúpula católica-xiita-sunita - Instituto Humanitas Unisinos - IHU