03 Julho 2021
Em seu escritório na Igreja da Santíssima Trindade, administrada pelos jesuítas, em Georgetown, Kevin Gillespie, SJ tem um quadro do relato do Evangelho sobre a tempestade no Mar da Galileia. Sacudidos pelo vento e pelas ondas, os discípulos tentam freneticamente retomar o controle da barca, enquanto duvidam que Jesus se importa com eles. Acalmando o vento e as ondas, Jesus exorta seus seguidores a terem fé, a acreditarem que as tempestades passarão.
A reportagem é de America, 02-07-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Enquanto os bispos dos Estados Unidos preparam um documento sobre a Eucaristia que poderia incluir uma seção sobre os políticos católicos e a Comunhão, uma igreja que tem o presidente Joe Biden como membro do seu rebanho pode enfrentar mares mais agitados.
A imagem foi um presente ao Pe. Gillespie do arcebispo de Washington, cardeal Wilton Gregory. No mês passado, o cardeal Gregory tentou persuadir seus colegas bispos a não seguirem em frente com uma proposta de redigir um documento sobre a “coerência eucarística”, que alguns bispos disseram que tem como objetivo o presidente Biden por causa do seu apoio ao aborto legal.
O cardeal, que havia dito anteriormente que não apoiava a proibição da Comunhão para políticos pró-escolha, não teve sucesso no seu apelo, já que os bispos votaram esmagadoramente para iniciar o processo de redação do documento.
O Pe. Gillespie disse que ele e muitos de seus paroquianos ficaram “surpresos” com o apoio dos bispos ao documento, dada a intervenção do cardeal Gregory.
“O arcebispo de uma diocese tem autoridade sobre questões em torno dos políticos e da Eucaristia, e o cardeal Gregory tornou público que essa é a postura dele do ponto de vista pastoral”, disse o Pe. Gillespie. “Ele não concorda com tudo o que o presidente diz sobre o aborto, nem eu, mas, pastoralmente, essa é a abordagem dele. O arcebispo e eu conversamos sobre isso, e eu estou totalmente de acordo com ele.”
Quando o Pe. Gillespie, ex-reitor da Saint Joseph’s University, na Filadélfia, ouviu que seus paroquianos estavam irritados com a votação, ele encorajou o conselho paroquial a divulgar uma declaração de apoio ao cardeal Gregory. Ele participou do processo de redação e, quando a declaração foi concluída, ele convidou um membro do conselho eleito para ler a declaração após a missa.
O Pe. Gillespie disse que um conselho paroquial não pode determinar quem é elegível ou inelegível para receber a Comunhão e que a declaração pretendia ser uma demonstração de apoio ao cardeal Gregory.
“Quando os paroquianos leigos ouvem outros leigos fazendo esse tipo de declaração a partir do altar, eu gosto de acreditar que isso empodera não apenas as pessoas do conselho paroquial, mas também diz às pessoas comuns que estão nos bancos da igreja que elas têm voz nessa questão controversa”, disse o Pe. Gillespie. “E as suas vozes estão ressoando junto com a voz do nosso arcebispo.”
O Pe. Gillespie disse acreditar que as lideranças da Igreja têm uma oportunidade única para ensinar sobre a Eucaristia, à medida que os católicos começam a voltar às missas depois de meses afastados devido à pandemia do coronavírus. Ele ouviu de muitos paroquianos que estavam ansiosos para voltar à missa, dizendo que os ritos online não atendiam às suas necessidades espirituais.
Esse anseio pela Eucaristia, combinado com dados que mostram que muitos católicos dos EUA não entendem ou não concordam com o ensino da Igreja sobre o sacramento, diz a ele que um documento magisterial dos bispos seria útil. Mas a politização em torno do documento “nos desequilibrou”, disse ele.
“Este é um momento para dizer: ‘Sim, vamos falar do faminto e do sedento da presença de Deus’. Este é o momento, e eu acho que os bispos querem fazer isso”, disse ele. “Mas alguns das nossas lideranças pastorais estão dificultando isso.”
Quanto ao fato de liderar uma igreja que se tornou a paróquia de escolha do presidente quando ele está em Washington – ele passa muitos fins de semana em sua casa em Delaware, que atualmente aguarda a posse de um bispo recém-nomeado – o Pe. Gillespie disse que viu a reverência de Biden pela Eucaristia de perto. Ele disse que o presidente se ajoelha regularmente perante o sacrário antes de sentar nos bancos e que até mesmo ficou no fundo da igreja depois da missa, alguns meses atrás, para parabenizar um jovem que acabara de fazer a sua primeira comunhão. Quando Biden está na igreja, disse o Pe. Gillespie, ele é tratado como qualquer outro paroquiano, tanto pelos padres quanto pelos outros fiéis.
Embora o Pe. Gillespie diga que não concorda com todas as posições políticas de qualquer político, ele se recusa veementemente a transformar a Eucaristia em uma “arma”.
Questionado se ele daria a Comunhão a Biden caso ele se aproximasse do altar da Igreja da Santíssima Trindade, o Pe. Gillespie respondeu: “Sim”.
“Todos são bem-vindos”, continuou ele. “Ele é um homem de fé, e eu daria a Comunhão a ele assim como qualquer outro católico que se aproxima da Eucaristia”.
Não passou despercebido do Pe. Gillespie que a leitura do Evangelho no primeiro domingo após a polêmica votação dos bispos estadunidenses era sobre a tempestade no mar. Ele disse que esse relato o ajudou a proclamar a mensagem enviada pelo conselho paroquial: “Arcebispo, estamos na barca com você. Aliás, o presidente também está nessa barca”.
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EUA: o que o pároco de Joe Biden pensa a respeito do documento sobre a Comunhão - Instituto Humanitas Unisinos - IHU