13 Abril 2021
O cosmonauta foi o primeiro homem a entrar em órbita. Mas na época Moscou optou por não tornar público tudo o que aconteceu naquele dia.
A reportagem é de Antonio Lo Campo, publicada por Avvenire, 10-04-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
"A paisagem é absolutamente linda e nova ... a superfície da terra muda de cor à medida que é iluminada pelo céu negro, de onde vejo muito bem as estrelas". A voz é do primeiro cosmonauta da história: Yuri Gagarin. É 12 de abril de 1961. Aquele dia, no cosmódromo de Baikonur, no Cazaquistão, parecia como outro qualquer. Até que, na base da plataforma de lançamento "número 1", chega um micro-ônibus semelhante aos usados para viagens turísticas. O veículo laranja e branco para a uma curta distância da plataforma sobre a qual está apoiada a grande torre de treliça metálica, que envolve um foguete conhecido como "Zemiorka". Junto com a gigantesca grade de metal, existem algumas passarelas que levam aos "pontos nevrálgicos" do foguete, com cerca de 40 metros de altura.
Dois homens saem do micro-ônibus vestidos com um macacão laranja e um capacete pressurizado; eles se despedem e, com um movimento repentino, fecham a viseira externa de seus capacetes. Antes de entrar no elevador, acenando com os dois braços, cumprimenta os técnicos que o aguardavam e os que o acompanharam até à rampa, bem como o seu colega (German Titov) que está destinado a ficar no solo, pois, de fato, era seu reserva. Quando o elevador chega ao topo da torre, o cosmonauta cruza o braço de metal e chega à abertura de uma pequena escotilha circular, com a porta aberta. Entra na escotilha e em pouco tempo se acomoda, deitado, no único assento dentro da nave, e posicionado sobre um assento ejetável. A espaçonave é a Vostok 1 (em russo: "Oriente"). O nome daquele cosmonauta não é conhecido naquele momento, mas dentro de uma hora o mundo inteiro o saberá.
Yuri Gagarin nasceu em 9 de março de 1934 no vilarejo russo de Kluchino, na província de Smolensk. Ele era um piloto de aviação russo, com um currículo ideal para as demandas dos responsáveis pelo programa espacial russo. A seleção ocorreu em 1960. O pai era carpinteiro e a mãe agricultora. O primeiro cosmonauta da história era casado com uma enfermeira, Valentina, um ano mais nova que ele. Na época de seu primeiro voo orbital histórico, Yuri era pai de duas filhas, Yelena e Galina, nascida apenas cinco semanas antes. “Minha irmã e eu perdemos o momento de glória máxima para meu pai, mas na realidade o mito continua indestrutível - disse Yelena Gagarina, em nosso recente encontro no Palácio de Venaria Reale, em Torino - eu tinha apenas dois anos quando ele realizou a missão. Mas me lembro dos anos seguintes, ele sempre esteve muito ocupado com o programa espacial. E, infelizmente, lembro-me bem dos dias dramáticos após sua morte. A incrível multidão, a dor do mundo inteiro ... Meu pai era um homem extraordinário. E mesmo que não o víssemos muito, quando ele estava conosco não nos deixava faltar seu amor, suas atenções. Ele continua sendo um ícone não apenas para a Rússia - acrescenta Yelena, que é historiadora da arte e hoje diretora dos Museus do Kremlin - mas para o mundo inteiro. Onde quer que eu vá, em qualquer país do mundo, mesmo depois de todo esse tempo me fazem sentir como é grande a admiração por um verdadeiro mito”.
O foguete ligava seus motores e se lançava no céu do Cazaquistão quando eram 9h07min em Moscou. O vídeo da partida, muito sugestivo, só foi divulgado ao mundo sete anos depois: “Pojechali!, Partida!”, comunica Gagarin, que em 10 minutos entra em órbita ao redor da Terra: “O céu - comunica lá de cima – parece-me preto, totalmente preto, e vejo a terra azul abaixo de mim”. E continua: “Ao longo do horizonte está uma faixa de laranja brilhante que depois assume nuances de azul e depois passa para o preto. O que mais me impressiona é como a Terra parece próxima, mesmo desta altura”. A Vostok 1 estava passando sobre a América Latina, seguindo depois para o Atlântico Sul e a África. Após uma órbita completa ao redor da Terra, aconteceu a reentrada, crítica, nas camadas atmosféricas. A cerca de 7 km o paraquedas auxiliar se abre, seguido a 4 km de altitude pela abertura daquele principal. Então, na mesma altitude, Gagarin se joga para fora da cápsula com o assento ejetável e desce ao solo com o paraquedas, a uma distância de segurança do ponto de pouso da cápsula.
A descida ocorreu na região de Smelovska, não muito longe de uma vaca e dois agricultores que assistiam com espanto e incredulidade de sua fazenda. O pouso do assento ejetável só seria confirmado trinta anos depois. Temia-se que, com o pouso fora da cápsula, a missão não fosse homologada pela Federação Internacional de Astronáutica. Jornais de todo o mundo classificaram o feito como "lendário" e alguns definiram Gagarin como "um Cristóvão Colombo dos tempos modernos". Assim começou uma nova era com aquela histórica missão: a do homem no espaço. Uma era que completa 60 anos hoje. Hoje, e há 20 anos, de três a seis astronautas habitam permanentemente o espaço, na Estação Espacial Internacional. O homem caminhou na Lua e agora se prepara para novas conquistas, por meio da cooperação internacional. Mas tudo começou naquele 12 de abril de 1961.
"Olhei para todos os lados, mas não vi Deus." É uma frase famosa de Gagarin. Mas ele nunca disse isso. Valentin Petrov, um ex-cosmonauta, confirmou isso alguns anos atrás, alegando que Gagarin, batizado na Igreja Ortodoxa, era um homem de fé. Um fato, este último, também confirmado por seu amigo Alekseij Leonov, outra lenda da cosmonáutica. A própria filha Yelena foi batizada e a família sempre comemorava o Natal e a Páscoa. E na casa havia muitos ícones religiosos. Em suma, outro mito desfeito sobre o primeiro lendário homem do cosmos e sobre aquelas primeiras empreitadas pioneiras da ex-URSS.
Depois do feito histórico, Gagarin colaborou na preparação de outras missões espaciais, como a que em 1963 colocaria Valentina Tereskova em órbita. Posteriormente, ele colaborou no desenvolvimento da espaçonave Soyuz (ainda hoje em operação) e continuou com o treinamento, destinado a comandar o voo da Soyuz 3, primeiro do programa tripulado após aquele da Soyuz 1 que em 1967 terminou tragicamente com Vladimir Komarov a bordo, de quem Yuri era reserva. Ele, portanto, continuou a voar em caças Mig, para manter o número de horas de voo e treinamento. Mas em 27 de março de 1968, enquanto realizava um voo normal de treinamento com seu copiloto Seregin em um caça Mig-15, perdeu o controle da aeronave, que precipitou em parafuso. Ele não saltou com o paraquedas: assim teriam se salvado, mas o Mig teria caído em uma área habitada. Yuri morreu com apenas 34 anos.
Majestoso é o monumento dedicado a ele em uma praça em Moscou; com 40 metros de altura e construído em titânio, retrata o rastro de um foguete no topo do qual está a estátua do primeiro cosmonauta da história. Em todo o mundo, já há alguns anos, todos os dias 12 de abril, associações de apaixonados por astronomia e astronáutica, celebram eventos de astronomia e divulgação espacial chamados "Yuri’s Night". A Noite do Yuri, justamente, que neste 2021, ao vivo para quem tiver oportunidade, ou via web, será ainda mais comemorada.
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12 de abril de 1961: Gagarin no espaço. Homem de fé, morreu no céu aos 34 anos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU