09 Fevereiro 2021
"É errado dizer que não há reformas porque Roma não as promove. As reformas estão avançando. Eles acontecem por meio de ações de indivíduos. São realizadas em fóruns obtidos à força com obstinação. E o fato de esses fóruns existirem é uma reforma. Elas se realizam por meio da crítica das professoras, dos padres e as comissões pastorais contra o poder que se compraz de si mesmo", escreve Britta Baas, jornalista, em artigo publicado por Publik-Forum, 03-02-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Cerca de 230 delegados retomam o caminho sinodal nesta terça e sexta-feira. Uma coisa é certa: só quem não espera por Roma muda a Igreja. O Caminho Sinodal funciona - a revolução vinda de cima não.
O que há de bom no catolicismo? No Vaticano, os cardeais pré-modernos determinam os destinos da Igreja. O aparato ficou preso em um pântano de abusos de poder, desprezo pelas mulheres e concepções de passado. A frustração dos críticos da Igreja sobre este estado de coisas também é descarregada sobre os movimentos de reforma. O que teriam conseguido as pessoas de Nós somos Igreja, da Igreja de baixo, do movimento de mulheres católicas Maria 2.0? Como o catolicismo associativo contribuiu para as reformas? Não serviu para nada! Na Alemanha, como em toda a Europa ocidental, o catolicismo é um modelo ultrapassado, cujo declínio é evidente nas saídas em massa da Igreja.
Por um lado, há pessoas sem mais esperança, mas, por outro lado, há também pessoas animadas por um grande espírito inovador. Como a teóloga Johanna Rahner de Tübingen, que está empenhada em apoiar as reformas. Ela olha para o mundo, para além das fronteiras alemãs, e afirma: “O catolicismo moderno tem a característica de ser pluralista”. Em entrevista ao semanário Die Zeit, ela afirma que com Francisco o elemento intercultural se fortaleceu.
De fato, o papa em exercício deu respostas sobre a modernidade do mundo que, de acordo com a análise de Charles Taylor e Ulrich Beck, ainda não é um processo concluído e muda de aspecto a cada dia.
Nas lutas por justiça e igualdade, nas condições de luta para quem parte de pontos de partida negativos, Francisco é insubstituível. E com ele há milhões de católicos e católicas para os quais o pluralismo não é apenas uma bela palavra, mas uma tarefa.
No entanto, contra o aparato romano, Francisco não tem sucesso. Ele também não consegue em implementar qualquer reforma na Igreja. A revolução de cima não acontece. Então, o processo alemão de reforma do Caminho Sinodal também está fadado ao fracasso?
O catolicismo moderno de que fala Johanna Rahner, os católicos alemães e as católicas alemãs foi inventado há mais de 150 anos. Com aquele ordenamento, deram respostas aos desafios alemães, ao nascimento da democracia, ao rápido desenvolvimento da cultura, educação e ciência modernas. Daquele movimento católico - que desafiou o ultramontanismo de um lado e a redução protestante-prussiana na Kulturkampf do outro - nasceu uma tradição própria. "Reformkatholizismus" (catolicismo de reforma) é o nome que os católicos modernos deram à sua corrente de renovação no final do século XIX. O Caminho Sinodal do século XXI seguiu coerentemente essa orientação.
Quem olha superficialmente para o atual Caminho sinodal pensará: o que pode sair relevante para a sociedade, de um lugar onde apenas se discutem os conflitos dentro da Igreja, como a exclusão das mulheres dos ministérios, o poder centralizado da Igreja , a crise dos padres e a falta de uma moral sexual adequada aos tempos?
O que pode ser rapidamente descartado por pessoas "externas" como "Nachhol-Moderne" (uma modernidade de recuperação) na verdade abre uma questão radical: mas o catolicismo interessa a alguém?
Pode ser vivido em uma sociedade caracterizada por Iluminismo, democracia, igualdade, liberdade de escolha? Nesta sociedade, o passo em direção a um papa mulher, um Sínodo da Igreja e um magistério eclesial eletivo desprovido de poder corporativo aparece como um pequeno passo. Mas é um passo enorme para uma parte dos católicos. Entre eles, há também bispos alemães que estão convencidos de que o catolicismo só vai bem sem o Caminho sinodal. Segundo eles, os debates sobre consciência e credibilidade destruíram a Igreja. Mas é verdade o contrário. Teria ocorrido a descoberta do escândalo de abusos na Alemanha sem um padre Mertes que acreditou em seus alunos? Teria havido a renúncia do bispo de Limburg, Tebartz van Elst, se o cônego da catedral Johannes zu Eltz não tivesse dado a conhecer o que estava errado? Teria havido um Caminho Sinodal sem os protestos das católicas na assembleia geral dos bispos em Lingen na primavera de 2019? Sem a forte pressão das associações laicas? A todas essas perguntas devemos responder: não.
Portanto, é errado dizer que não há reformas porque Roma não as promove. As reformas estão avançando. Eles acontecem por meio de ações de indivíduos. São realizadas em fóruns obtidos à força com obstinação. E o fato de esses fóruns existirem é uma reforma. Elas se realizam por meio da crítica das professoras, dos padres e as comissões pastorais contra o poder que se compraz de si mesmo.
Aqueles que esperam por reformas de cima e, enquanto isso, reclamam da incapacidade da Igreja para fazer reformas, tornam-se dependentes do centralismo. Confie em si mesmo, gostaríamos de dizer a eles. Ajam. E vocês verão.
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Caminho sinodal - As reformas avançam - Instituto Humanitas Unisinos - IHU