05 Janeiro 2021
A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) contabilizou a morte de 59 jornalistas em 2020, dentre esses quatro mulheres. A América Latina e o Caribe, junto com a Ásia e o Pacífico, lideram a lista de assassinatos: 22 em cada região, seguidas pelos Estados Árabes, com nove, e pela África com seis. Em 2019, esse dado macabro foi um pouco menor, 57 jornalistas, mas assustador em 2018, com 99 casos.
A reportagem é de Edelberto behs, jornalista.
Na última década, em média um jornalista foi morto a quatro dias! Relatório da Unesco sobre Segurança de Jornalistas e a Impunidade do Perigo, divulgado em 2 de novembro passado, Dia Internacional pelo Fim da Impunidade para Crimes contra Jornalistas, aponta que sete em cada oito assassinatos seus autores ficam impunes.
Para muitos jornalistas, assinalou a diretora geral da Unesco, Audrey Azoulay, dizer a verdade tem um preço ao investigarem casos de corrupção, tráfico de drogas, irregularidades na política, violação dos direitos humanos, questões ambientais, além da cobertura de conflitos.
A Unesco identificou, de 1º de janeiro de 2015 a 30 de junho de 2020, 125 protestos – 21 deles só no primeiro semestre deste ano - em 65 países nos quais jornalistas foram atacados ou presos. A morte, arrolou Azoulay, não é o único risco que profissionais correm. Ataques à imprensa também assumem a forma de ameaças, sequestros, detenções, assédio, dirigidos, especialmente, contra mulheres.
A jornalista britânica Carole Cadwalladr, que se destacou na cobertura do escândalo da Cambridge Analytica, em 2018, contou que à medida que o seu trabalho começou a ter impacto “comecei a ter mais seguidores e trolls”.
Em outubro de 2020, a Unesco e o Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ) lançaram pesquisa global para avaliar a escala da violência contra mulheres jornalistas no mundo e identificar soluções para enfrentá-la.
O levantamento apurou que 73% das jornalistas que responderam a pesquisa sofreram violência online durante o trabalho; 25% receberam ameaças de violência física, enquanto 18% foram ameaçadas de violência sexual; 20% das entrevistadas relataram ataques off-line em conexão com a violência online que sofreram.
Esse quadro leva a outro: 30% das participantes da pesquisa disseram que passaram a se autocensurar e relataram impactos em sua saúde mental. “Eu queria largar as redes sociais, queria largar o jornalismo. Essas coisas não acontecem com homens”, afirmou a jornalista investigativa indiana Rana Ayyub.
O ataque de ódio vem entrelaçado muitas vezes com desinformação: 41% das pesquisadas disseram que foram alvo de ataques online que pareciam estar ligados a campanhas orquestradas de desinformação. São casos voltados “especificamente para desacreditar jornalistas, para desacreditar o seu trabalho”, explicou Cadwalladr.
Em muitos países, a legislação de emergência e as medidas adotadas para conter a propagação do vírus serviram de álibi para restringir a liberdade de expressão e de imprensa, e jornalistas foram processados por expor falhas no manejo da crise na saúde pelas autoridades, quando o Estado tem a obrigação de proteger jornalistas e assegurar que os autores dos delitos cometidos contra tais profissionais sejam responsabilizados, defendeu a Unesco.
“Os jornalistas são essenciais para a preservação do direito fundamental à liberdade de expressão, garantido pelo artigo 19 da Declaração dos Direitos Humanos. Quando jornalistas são atacados impunemente, ocorre um lapso dos sistemas de segurança e do judiciário”, argumentou a diretora geral da Unesco, Audrey Azoulay.
Na Conferência Mundial sobre Liberdade de Imprensa, realizada dias 9 e 10 de dezembro num novo formato, mesclando elementos digitais e presenciais com acesso limitado para público e imprensa em Haia, o governo da Holanda anunciou o aporte de 7 milhões de euros (cerca de 45 milhões de reais) à Unesco e ao Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos com o intuito de fortalecer a liberdade de imprensa e a segurança de jornalistas.
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Campanhas de desinformação atingem jornalistas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU