17 Setembro 2020
A desigualdade social é um tema que afeta o mundo todo. A pandemia revelou a cara desse problema em países que maquiavam essas diferenças entre a elite e a classe baixa e tornou o assunto mais debatido, principalmente, revelando os interesses políticos presentes nas sociedades. Em entrevista recente ao Estadão, Thomas Piketty, economista e autor do livro “Capital e Ideologia”, disse que o Brasil é hoje desigual demais para conseguir se desenvolver de alguma maneira. “Há um discurso conservador, especialmente no Brasil, em que as elites dizem que a redistribuição de renda só poderá ser feita no futuro, quando o País for mais rico, e que, se feita agora, será um desastre até mesmo para os pobres. O que eu quero dizer para os brasileiros é que, pelas evidências internacionais e pelas evidências históricas, o Brasil é hoje desigual demais para conseguir se desenvolver”.
A reportagem é de André Martins, estagiário do Curso de Jornalismo da Unisinos.
Para Piketty, o maior culpado da desigualdade mundial é o capitalismo. O autor afirma em seu livro que a culpa da desigualdade não é a tecnologia ou a economia, mas a ideologia e a política. Além disso, as desigualdades não são naturais e, sim, edificadas por categoriais: mercado, salários, capital, dívidas, trabalhadores, bolsa de valores, ricos, pobres, nobreza, paraísos fiscais, competitividade nacional e internacional. Piketty mostra em sua obra, aclamada por muitos, como o capitalismo contribui para a desigualdade e apresenta alternativas para acabar com esse problema social.
O livro “Capital e Ideologia” será tema do curso “A construção histórica da desigualdade: Análise à luz do livro Capital e Ideologia de Thomas Piketty”, oferecido pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU entre 29-09-2020 e 27-10-2020 e ministrado pelo doutor em História Econômica pela Universidade de São Paulo - USP, Alexandre Alves. Acesse aqui para saber mais.
O livro tem 1248 páginas e mostra como a desigualdade social das sociedades contemporâneas foi criada pelo capitalismo, traçando os processos revolucionários e políticos que reduziram a desigualdade no passado. A obra também trata sobre o futuro do capitalismo e alternativas para acabar com os problemas que ele causou. “Em seu conjunto, as diversas rupturas e processos revolucionários e políticos que permitiram reduzir e transformar as desigualdades do passado foram um imenso êxito”, afirma o economista, que em sua obra defende o fim do capitalismo e pensa em uma nova estrutura que possa acabar com a desigualdade.
Piketty apresenta em seu livro “Capital e Ideologia” elementos para um novo socialismo, o qual ele chama de participativo. Segundo ele, a partir desse novo sistema, é possível superar o capitalismo. A obra também apresenta uma análise para identificar as ideologias que serviram como base para a desigualdade e sugere que, no campo das experiências históricas, existem alternativas que podem ser eficazes para a sua diminuição. Entre elas, ele menciona a necessidade de dar mais poderes aos trabalhadores nas empresas, retomar uma tributação fortemente progressista, como existia entre as décadas de 1930 e 1980, aproveitar essas receitas para conceder a todo cidadão uma dotação de capital, uma espécie de herança para todos. Piketty também defende uma melhor educação para acabar com a injustiça escolar.
Em seu livro anterior, “O Capital no Século XXI”, Piketty apresenta algumas informações sobre heranças. O economista acredita que numa economia na qual a taxa de rendimento sobre o capital supera a taxa de crescimento, a riqueza herdada sempre crescerá mais rapidamente do que a conquistada. Ou seja, os filhos ricos podem viver uma vida mais tranquila e têm condições de ficar um ano sem trabalhar e depois conseguem empregos bons, com salários altos, enquanto os filhos dos pobres não podem abandonar o trabalho porque precisam garantir o sustento. Para Piketty, essa situação demonstra apenas o sistema funcionando normalmente. Portanto, o capitalismo cria automaticamente seus níveis de desigualdades. A crescente riqueza da classe alta não é um episódio isolado.
Justamente por discutir questões relativas à herança, o livro “Capital e Ideologia” foi proibido na China, pois Piketty teceu críticas ao formato de imposto sobre herança que o Partido Comunista implementa no país. “Mas agora que dois terços do capital chinês está em mãos privadas, é surpreendente que aqueles que mais se beneficiam da privatização e da liberalização da economia têm autorização para passar toda a riqueza que têm aos filhos sem nenhum imposto, nem mesmo um imposto mínimo”, escreve Piketty.
O presidente chinês Xi Jinping elogiou o primeiro livro do economista, “O Capital no Século XXI”, que critica as falhas do capitalismo, mas recusou que trechos críticos acerca das diferenças de riqueza no seu país fossem veiculados, censurando essa parte do livro. Piketty, por sua vez, não aceitou retirar esses pontos da obra.
Neste livro, de modo geral, Piketty apresenta uma tentativa de restaurar a social-democracia, acrescentando os cidadãos em todas as ordens da vida social, política, econômica e cultural. Piketty não traz em seu livro um emaranhado de teorias. Ao contrário, ele explica sua hipótese de trabalho, justifica e argumenta. Expõe seus objetivos e investiga o capital, compartilhando os argumentos que justificarão e apoiarão suas conclusões. O leitor pode até discordar de sua ideia de socialismo participativo. Porém, os argumentos dados pelo autor dão ao texto fidelidade ao que está sendo explicado, afirma o portal ALAI em artigo publicado no site do IHU.
Em entrevista reproduzida pelo sítio do IHU, Piketty apresenta as propostas do livro com cautela, colocando o debate, sem expressá-las de maneira taxativa. Humilde, mas firme com base em suas análises, afirma não existir nenhum direito a uma propriedade privada inviolável. A acumulação é o resultado de um processo social não individual. “Nessas circunstâncias, faz todo o sentido que as pessoas que acumularam patrimônios significativos devolvam uma fração disso todos os anos à comunidade”, diz.
Para compreender o diagnóstico do economista francês sobre as causas das desigualdades e discutir alternativas para enfrentá-las, o Prof. Dr. Alexandre Alves ministrará o curso intitulado “A construção histórica da desigualdade: Análise à luz do livro Capital e Ideologia de Thomas Piketty”, entre 29 de setembro e 27 de outubro. Inscreva-se aqui.
Card do curso “A construção histórica da desigualdade: Análise à luz do livro Capital e Ideologia de Thomas Piketty”
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O maior culpado da desigualdade é o capitalismo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU