11 Setembro 2020
A Rede Global de Católicos do Arco-Íris (GNRC, na sigla em inglês) pediu ao Papa Francisco e a outras autoridades da Igreja que o Vaticano retire suas objeções a um relatório das Nações Unidas que busca melhores proteções para os requerentes de asilo e refugiados LGBTQ.
A reportagem é de Robert Shine, publicada por New Ways Ministry, 10-09-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A GNRC emitiu um comunicado à imprensa [disponível aqui, em inglês] em resposta aos comentários do representante da Santa Sé junto aos escritórios das Nações Unidas em Genebra, o arcebispo Ivan Jurkovič. O arcebispo se opôs ao uso dos termos “orientação sexual” e “identidade de gênero” em um relatório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados.
(Foto: Global Network of Rainbow Catholics)
A declaração da GNRC também emitiu outros dois pedidos às lideranças da Igreja:
“A GNRC pede ao Papa Francisco e ao secretário de Estado do Vaticano, cardeal Parolin, que retirem as objeções do Vaticano ao relatório do ACNUR e ajudem os bispos da Polônia a trabalhar com a comunidade LGBTIQ+ naquele país de uma forma que ajude a proteger as pessoas para não serem marginalizadas e prejudicadas. Além disso, a GNRC apela ao Vaticano, aos bispos e às autoridades da Igreja de todos os lugares para acabarem com qualquer apoio à chamada ‘terapia de conversão’, que tem sido desacreditada como prejudicial por quase todas as organizações das ciências sociais e terapêuticas confiáveis.”
Christopher Vella, copresidente da GNRC, disse que os acontecimentos em Genebra e na Polônia são “profundamente angustiantes” e “literalmente uma questão de vida ou morte para alguns”.
Ruby Almeida, outra copresidente da GNRC, observando o recente relatório da rede sobre a opressão anti-LGBT na Igreja, comentou:
“Nossa Igreja não pode simultaneamente reivindicar que honra a dignidade de todas as pessoas e apoiar ativamente a continuação e até a expansão da opressão contra nossas comunidades do Arco-Íris.”
O comunicado da GNRC inclui comentários adicionais de representantes de dois de seus grupos membros:
“Junko Shimada, parte do grupo Nijirono Tomoshibi, do Japão, membro da GNRC, que apoia particularmente os refugiados LGBTIQ+ no Quênia, declarou que ‘mesmo que as autoridades da Igreja não possam entender conceitos como orientação sexual ou identidade de gênero os refugiados LGBTIQ+ existem e são presos sob as mesmas leis que proíbem as relações entre pessoas do mesmo sexo, de modo que são discriminados e processados até mesmo dentro dos acampamentos onde deveriam buscar asilo’
“Carolyn Minchin, parte do grupo Rainbow Catholics Interagency for Ministry, membro da GNRC com sede na Austrália, declarou: ‘Eu acredito que ajudar refugiados LGBTIQ+ é fundamental para a sua sobrevivência, devido à intensidade da violência e da discriminação que eles sofrem em cada etapa das suas viagens como refugiados. A integração e a invisibilidade [na vida familiar e comunitária] são impossíveis para eles, e o silêncio sobre a questão de como melhorar a segurança para os refugiados LGBTIQ+ está custando vidas diariamente.’”
Essas declarações seguem-se a uma recente carta aberta aos bispos poloneses escrita pela GNRC depois que os bispos divulgaram um documento sobre as questões LGBTQ, no qual eles erroneamente alegam que os ensinamentos da Igreja sobre a homossexualidade são infalíveis e aparentemente endossam a terapia de conversão, uma acusação que uma liderança da Igreja na Polônia tentou negar de forma não convincente.
A GNRC identifica corretamente os perigos muito reais representados por declarações como as do arcebispo Jurkovič e as dos bispos poloneses. Os ensinamentos da hierarquia não são exercícios na teoria; em muitos casos, eles se tornam uma arma para justificar a discriminação, a criminalização e até a violência anti-LGBTQ.
Os católicos de todo o mundo devem repercutir as preocupações da GNRC e somar as suas próprias vozes aos apelos ao Papa Francisco e às lideranças vaticanas para que intervenham em nome de algumas das pessoas mais marginalizadas e vulneráveis da sociedade.
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Católicos pedem ao Vaticano que retire sua oposição às proteções a refugiados LGBTQ - Instituto Humanitas Unisinos - IHU