“Igreja na Amazônia e Ministérios à luz do Sínodo Amazônico e da Exortação Querida Amazônia”. Conferência on-line com Paulo Suess

12 Setembro 2020

A pandemia da Covid-19, especialmente no âmbito das assembleias litúrgicas e da ação pastoral, expôs de uma forma nova a urgência de retomar e aprofundar a reflexão teológica sobre a Igreja, os Ministérios e a Liturgia. O distanciamento social revelou para a Igreja universal alguns dos antigos problemas já sofridos pela na Igreja da Amazônia, que profícua e profundamente foram debatidos nos últimos anos pelo Sínodo Pan-Amazônico: a privação da Eucaristia e a necessidade de se repensar os ministérios e o rito litúrgico.

O Instituto Humanitas Unisinos – IHU, com o objetivo de debater as implicações teológicas e pastorais das transformações e crises do mundo contemporâneo, promove uma série de conferências “Igreja, Ministérios, Liturgia. Desafios e perspectivas na confluência das crises atuais”.

O evento, em sua segunda conferência, contará com a exposição do Prof. Dr. Paulo Suess, teólogo e assessor especial Conselho Missionário Indigenista, sobre a “Igreja na Amazônia e Ministérios à luz do Sínodo Amazônico e da Exortação Querida Amazônia”.

O evento ocorrerá no dia 18 de setembro de 2020, às 10h, com transmissão on-line pelo Microsoft Teams e pelo canal IHU Comunica, do Youtube.

 

 

Arte: IHU

 

As inscrições podem ser feitas neste link.

Paulo Suess durante o Sínodo para a Amazônia (Foto: Luis Miguel Modino)

Ainda em 2014, Paulo Suess viajou ao Vaticano com dom Erwin Kräutler, bispo da prelazia do Xingu, onde se reuniram com o papa Francisco para lhe apresentarem um panorama da situação vivida pelos povos amazônicos, sobretudo a violação de direitos que as populações indígenas sofriam. Suess revelou, em entrevista à IHU On-Line, que entregou ao pontífice o texto “Carência Eucarística – Altares sem Celebrantes”, no qual relata que “70% das nossas comunidades estão privadas da Eucaristia dominical”.

Deste encontro, com inspiração na Conferência de Aparecida em 2007 e na vinda de Francisco ao Brasil para a JMJ em 2013, começou a se materializar a proposta de um Sínodo Pan-Amazônico, uma resposta da Igreja para os clamores vindos da floresta. Suess, com referência a Michel de Certeau, afirmava a necessidade de “rupturas inovadoras” na Igreja, dentre as quais “podemos nos imaginar um grupo de viri probati que celebra em conjunto a Eucaristia. A Igreja os convoca e encarrega para fazer comunitariamente o que nenhum deles pode fazer sozinho”.

Na dimensão eclesial, os focos midiáticos sobre o Sínodo Pan-Amazônico foram postos sobre a questão dos ministérios. A ordenação de viri probati ou de mulheres para o diaconato, e de transformação no papel da vida religiosa e de leigos e leigas nas comunidades afastadas. Porém, esse debate exige mais complexidade e aprofundamento, tendo como chave de leitura a integralidade do processo, e não respostas imediatas.

Diante dos problemas sociais e destruição ambiental causados pelas elites fundiárias e pelo Estado, seja por inação na garantia de direitos e na proteção contra a invasão de terras indígenas, ou por uma ação desenvolvimentista e colonialista, Francisco apresentou os seus sonhos na Exortação Querida Amazônia, que apontam os caminhos de uma Igreja que “fala com sua amada Amazônia mais ou menos assim: ‘Nós, te amamos apaixonadamente (n. 3), nós aprendemos muito de você (n. 26 e 55) e nós te defendemos (n. 63), tua vida, teus direitos, tuas culturas e terras. Podes contar conosco no que der e vier’”. Porém, na análise que Suess fez da exortação em sua última entrevista à IHU On-Line, ponderou que na parte eclesial o Papa “muda o tom da carta como se o amante tivesse esquecido algo. O sonhador parece ‘cair na real’ e a amada, a ‘Querida Amazônia’, recebe uma lição-lembrete que, na ‘cultura do encontro’ (n. 61), o passado, que deixou condicionantes contraditórias e heranças históricas, não pode ser esquecido”.

Para o teólogo, “A Exortação ‘Querida Amazônia’, em seus três primeiros capítulos, mostra uma contextualização importante da Encíclica Laudato si’ na Amazônia, mas decisões internas da Igreja Católica que poderiam, na quarta parte do texto, fortalecer essa contextualização e sua bandeira ecológica e sociocultural através de uma presença ministerial plena, aguardam ainda luz verde”. Segundo Suess, a exortação não encerra o debate sobre os ministérios e expõe que há um longo caminho para “uma Igreja pós-colonial, inculturada em todas as dimensões sociais, culturais e pastorais”.

A entrevista foi feita ainda em fevereiro de 2020, na semana da publicação de Querida Amazônia, algumas semanas antes de o mundo e a Igreja entraram em estado de confinamento pela pandemia. No encerramento da sua análise, um alerta que parecia específico, tornou-se generalizante com o passar do tempo: “não temos o direito de privar os povos, em nome de uma lei humana, da celebração dessa esperança decisiva ou reduzi-la para uma mera doutrina catequética”.

 

Conheça mais de Paulo Suess

Paulo Suess é doutor em Teologia Fundamental, fundador do curso de Pós-Graduação em Missiologia, na então Pontifícia Faculdade Nossa Senhora da Assunção, em São Paulo, assessor teológico do Conselho Indigenista Missionário - Cimi e professor em várias Faculdades de Teologia no ciclo de Pós-Graduação em Missiologia. Participou do Sínodo dos Bispos sobre Amazônia, como perito. Entre suas últimas publicações, destacamos Introdução à Teologia da Missão (Petrópolis: Vozes, 4a ed., 2015); Dicionário de Aparecida. 40 palavras-chave para uma leitura pastoral do Documento de Aparecida (São Paulo: Paulus, 2007); Dicionário da Evangelii gaudium (São Paulo: Paulus, 2015); Missão e misericórdia - A transformação missionária da Igreja segundo a Evangelii gaudium (São Paulo: Paulinas, 2017); e Dicionário da Laudato si’ – Sobriedade feliz (São Paulo: Paulus, 2017).

 

Confira outras palestras do Prof. Dr. Paulo Suess em eventos do IHU

 

Confira a primeira conferência de "Igreja, Ministérios, Liturgia. Desafios e perspectivas na confluência das crises atuais"

No dia 02-09-2020, o Prof. Dr. Andrea Grillo, do Pontifício Ateneu Sant'Anselmo - Roma, proferiu a palestra "Ministérios, liturgia, eucaristia. Chances para além do clericalismo". Confira no vídeo abaixo:

 

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