31 Agosto 2020
"O cristianismo em si é uma experiência, e não há ioga nisso que segure. “Venham e vejam” disse um certo Jesus aos dois primeiros discípulos que lhe perguntaram quem ele era. Ele não fez catequese. Ele pediu que eles vivessem uma experiência", escreve Danilo Fenner, em artigo publicado por Trentino, 29-08-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o artigo.
Uma bênção. "Doutor, por favor, me abençoe." Um dos pedidos mais frequentes expressos a médicos e enfermeiros por pacientes com Covid-19 em fim de vida foi esse. As crônicas dos últimos meses são inundadas por um desejo incontrolável de infinito. Que não se encontra sob as abóbadas douradas das catedrais, mas também – e talvez acima de tudo – sob uma tenda de oxigênio. Por outro lado, como agora se sabe, enquanto as igrejas se esvaziam, as aulas de ioga se lotam. Na Itália, existem cerca de dois milhões de praticantes de alguma disciplina oriental.
Além disso, mesmo a própria palavra "praticante" indicaria uma discriminação significativa: "Eu acredito, mas não pratico", é como, de fato, muitos católicos se justificam. Mas praticar, o quê? O cristianismo é uma prática, uma disciplina, como a ioga ou o tai chi? Se é verdade que os anúncios devem ser sempre seguidos de ações concretas, deveríamos seriamente – como a próprio CEI e o próprio Arcebispo de Trento Lauro Tisi convidaram recentemente a fazer – refundar a Igreja, pensar numa nova forma de ser comunidade cristã.
A começar pelas paróquias: que poderiam, aliás, deveriam tornar-se verdadeiros “oásis de espiritualidade”. Significaria, em primeiro lugar, abandonar para sempre um modelo já ultrapassado pelos tempos, ou seja, aquele das paróquias que coincidem com um território e com uma dada comunidade: da geografia física, enfim, para uma geografia da alma. Onde a comunidade se forma, ou se reforma, em torno de uma oferta de "infinito" que não tem vizinhança nem fronteiras, e que é justamente do que muitos cristãos sentem falta (talvez matriculando-se então em um curso de práticas orientais).
Fora disso, todo o resto é "estrutura". Que se torna mortífera quando se identifica com uma instituição. A velha União Soviética entrou em colapso por causa disso. Uma estrutura é sempre um aparato de poder. Que se manifesta de mil maneiras, mesmo nos níveis mais baixos. Para permanecer dentro da Igreja, vamos tomar o exemplo da velha "catequese". Que é realmente velha. No sentido de que era funcional para o esquema clássico de acordo com o qual o cristianismo era uma disciplina a ser ensinada, como na escola. E assim como na escola havia até registros de frequência. Você não veio para a catequese? Não vai ter direito à primeira comunhão. Em algum lugar as pessoas ainda pensam assim de verdade. O poder, justamente.
Para dizer a verdade, a catequese deveria ser eliminada. Hoje são necessários testemunhos, experiências diretas e concretas. O cristianismo em si é uma experiência, e não há ioga nisso que segure. “Venham e vejam” disse um certo Jesus aos dois primeiros discípulos que lhe perguntaram quem ele era. Ele não fez catequese. Ele pediu que eles vivessem uma experiência.
Quando você pratica uma experiência forte, como a do fim da sua vida, você percebe que tudo salta: as lógicas terrenas do poder, do controle, dos aparatos e das instituições. A ponto de pedir para o primeiro que passa à sua frente uma bênção. E quem se importa se ele não está usando o uniforme de padre. Procuramos o divino nos outros, naqueles que nos rodeiam: mas não seria esta a própria essência do cristianismo?
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Superar o modelo de paróquia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU