11 Agosto 2020
Exatamente cinco anos se passaram desde que a misericórdia revolucionária do Papa Francisco passou a estar no centro de tramas, para não dizer conspirações, da direita clerical e católico-massônica. Tudo começou em 2015 com a falsa notícia do tumor cerebral de Bergoglio. Depois, em ordem totalmente aleatória, foi a vez dos cartazes anônimos em Roma; os Dubia contra a Amoris laetitia; as acusações de heresia; o caso dos preservativos dos poderosos Cavaleiros de Malta; a série bombas-relógio de dossiês sobre a pedofilia. Em suma, uma vasta frente de fogo para forçar Francisco a "renunciar" como seu antecessor Ratzinger ou para induzir o colégio dos cardeais a declará-lo apóstata (basta pensar às polêmicas sobre o sínodo para a Amazônia e às aberturas para mulheres e homossexuais). Tudo isso não aconteceu (até agora) e assim, em teoria, só restaria um único caminho: deter o pontífice argentino com um atentado.
O comentário é de Fabrizio D'Esposito, publicado por Il Fatto Quotidiano, 10-08-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
La donna cardinale
Lucetta Scaraffia
A dar forma e voz a essa tremenda hipótese é um romance de intrigas lançado recentemente e que impressiona pela autoridade de sua autora: Lucetta Scaraffia. Historiadora de Sapienza, Scaraffia foi colunista do Osservatore Romano, na época de Giovanni Maria Vian, para o qual também dirigiu o encarte mensal Donne Chiesa Mondo. E são justamente as mulheres que salvam o papa em seu La donna cardinale publicado pela editora Marsilio (142 páginas, 15 euros).
O protagonista inicial é o tranquilo médico Gregorio Cesi, que desempenha o delicado papel do médico pessoal de Inácio: um guatemalteco franciscano que optou por se chamar como o fundador dos jesuítas quando se tornou pontífice. Um artifício igual e contrário para identificá-lo com Bergoglio, jesuíta sul-americano que, por sua vez, quis para si o nome de santo do amor universal e evangélico.
Cesi é próximo de cardeais e monsenhores e um dia é dominado pela paixão por uma atraente e misteriosa estudante francesa de música. Página após página, o complô revela seu objetivo certeiro e atávico: impedir as reformas econômicas e financeiras e a consequente revelação dos negócio do IOR, o banco do Vaticano que triangulava com a máfia e a P2 e por onde também passou parte da propina da Enimont.
Segundo os conspiradores, a Igreja não resistiria à transparência de Inácio: os fiéis se afastariam, decepcionados com a dimensão dos escândalos. O atentado, porém, acaba sendo frustrado no último minuto, mas o papa se coloca em isolamento para fazer uma reforma ainda mais clamorosa: nomear uma mulher laica da Coreia do Sul como secretária de Estado, isto é, primeira-ministra do Vaticano. “Já aconteceu na história da Igreja, cardeais que não eram clérigos”, diz Inácio a Cesi. As duas facções da Cúria desde sempre em luta entre si – uma é o lobby gay – aliam-se para impedir aquela que é mais do que uma revolução.
Desta vez, se elaboram dossiês, não atentados, e a irmã do médico, Irene, será decisiva na trama.
Scaraffia denuncia de modo direto a condição de servidão absoluta das mulheres de fé no Vaticano e fora dele, sejam elas consagradas ou leigas, e será Violet, teóloga estuprada na África pelo seu bispo diocesano e depois forçada ao aborto, a peça final de uma intriga que em muitos aspectos está muito próxima da realidade.
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Será uma mulher cardeal que salvará Bergoglio das conspirações (mas por enquanto é apenas ficção) - Instituto Humanitas Unisinos - IHU