05 Junho 2020
Um médico católico de Bangladesh que lutou com sucesso contra a mortal Covid-19 creditou sua recuperação à fé em Deus e à sua esperança inabalável pela cura.
“A esperança é um dom do Espírito Santo e eu sempre me apeguei a ela. Em todos os momentos de crise, temos que ter fé e esperança em Deus para poder superá-la”, disse o Dr. Edward Pallab Rozario à UCA News.
Rozario, 47 anos, coordenador dos programas de saúde da Caritas Bangladesh e ex-secretário da Comissão da Saúde da conferência episcopal nacional, pegou o vírus no final de abril.
A reportagem é de Rock Ronald Rozario, publicada por UCA News, 03-06-2020. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Pai de três, Rozario foi infectado enquanto tratava pacientes em um hospital cristão na capital Daca. Alguns pacientes apresentaram febre leve e tosse. Eles acabaram conseguindo vagas de internação no hospital depois que vários outros os haviam rejeitado com medo da Covid-19.
“O hospital permaneceu de portas abertas para servir estas pessoas e foi generoso no apoio prestado, mesmo sabendo que era arriscado. O nosso objetivo é servir as pessoas em um momento de grande crise. Vimos o que Jesus fez em seu tempo, curando os enfermos com o seu amor”, disse Rozario.
Mais tarde, alguns dos pacientes foram confirmados como portadores de Covid-19, e Rozario, temendo uma infecção em potencial, fez um exame em 25 de abril. O resultado, em 1º de maio, deu positivo.
O médico ficou preocupado com sua a saúde de sua família, tendo uma mãe em idade avançada, esposa e três filhos. Ele teve de ficar isolado por duas semanas.
Manter o distanciamento físico dos membros da família foi difícil, principalmente por causa dos filhos.
“Como as crianças não faziam ideia do perigo, foi difícil convencê-los a ficar longe. Eles nunca tinham me visto trancado dentro de uma sala. As crianças vinham e batiam na porta, queriam me ver e falar comigo. Elas acabaram ficando desanimadas”, segundo Rozario.
Sua mãe, já em idade avançada, chateou-se e começou a orar para Deus desejando a recuperação do filho. Além disso, parentes, amigos e colegas, incluindo conhecidos do exterior, oraram por Rozario e o incentivaram para que permanecesse firme e forte.
Começando com uma febre leve nos primeiros dias, Rozario teve uma crise de diarreia aguda, que o fazia correr para o banheiro a cada 2 ou 3 minutos. Isso ficou assim por alguns dias. Ele não teve outros sintomas associados à Covid-19, como dores de garganta e problemas respiratórios.
“Fiquei fraco, mas não me chateei. Depois de usar o banheiro a todo o momento, tomei soro fisiológico por via oral, para que pudesse substituir aquilo que havia perdido”, disse ele.
Para se manter conectado com o mundo exterior, o médico católico buscou estar sempre on-line e entrou em contato com vários fóruns de profissionais da saúde, dividindo a provação pela qual passava. Muitos expressaram preocupação, oraram e o incentivaram a permanecer firme na luta contra a doença.
Mesmo durante esse período, Rozario continuou prestando ajuda médica por telefone e via internet.
“Eu ajudava umas 30 ou 40 pessoas por dia. Minha mãe e minha esposa perguntavam por que eu fazia isso, já que estava doente. Falei que tinha que oferecer ajuda aos que não podem sair ou visitar um médico por causa das medidas de confinamento. De fato, o que fiz me ajudou a passar o período de isolamento e a superar o tédio”, disse ele.
Depois que superou a crise de diarreia, Rozario passou a tomar antibióticos, o que melhorou ainda mais a sua saúde. Foi testado duas vezes, na primeira e na segunda semanas de maio, com os dois testes dando negativo.
Após 14 dias, saiu do isolamento e sua família ficou muito feliz. A sala de isolamento foi desinfetada, bem como seus os pertences. Sua mãe, esposa e filhos foram testados. Todos tiveram resultados negativos para a Covid-19.
O médico já voltou ao trabalho e tem visitado pacientes, mas também tem tomado precauções extras, mantendo distância física e usando máscaras e luvas.
Em 26 de maio, o Dr. Rozario doou 600 mililitros de plasma no Hospital Médico Universitário de Daca para que seus anticorpos contidos neste material sejam usados no tratamento de, pelo menos, três pacientes de Covid-19.
“Minha família não queria que eu fosse porque o hospital já tinha muitos pacientes com Covid-19 e eu há pouco havia me recuperado. Falei que era uma questão humanitária que poderá salvar vidas”, completou Rozario.
O médico observou que os hospitais estão com dificuldade para conseguir doações de plasma, já que muitos dos pacientes recuperados têm medo de ir doá-lo.
Rozario acredita que esta sua vitória sobre a Covid-19 não seria possível sem a forte fé que ele deposita em Deus.
“Nasci em uma família católica devota e sempre tive muita fé e confiança em Deus, bem como em Jesus, na Mãe Maria e em José. Enquanto parentes, amigos e colegas oravam pela minha recuperação, também nós orávamos diariamente usando aplicativos on-line em casa. Tudo isso me deu muita força e eu nunca perdi a esperança. A crise nos aproximou de Deus”, disse ele.
Rozario também leu a Bíblia, participou de celebrações on-line, assistiu missas ao vivo e buscou inspiração em textos religiosos que o contavam sobre como as pandemias atingiram a humanidade antes e como Deus salvou as pessoas.
“Acredito firmemente que Deus vai nos ajudar a superar essa crise e que a humanidade começará tudo de novo”, disse.
Rozario propõe que, em tempos de crise, as pessoas não percam a esperança. “Essa pandemia não se resume a desastres. É também um momento de avaliar nossa vida e trabalho, é um tempo de descobrir as nossas fraquezas e superá-las”, afirmou.
Bangladesh registrou 52.445 casos de Covid-19 e 709 mortes, com cerca de 12% dos infectados sendo médicos e equipe médica, segundo dados do governo.
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Bangladesh. Fé e esperança ajudam médico católico a superar a Covid-19 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU