17 Março 2020
Uma de cal e outra de areia. Nos últimos meses, o pontificado do Papa Francisco passou por diferentes altos e baixos. Acima de tudo, com abordagens que poderiam implicar verdadeiras mudanças de rumo para o Vaticano, como, por exemplo, a possibilidade de permitir a existência de padres casados na Amazônia, onde há cada vez menos presença católica. A verdade é que dentro da cúria romana existem dois grupos bem diferenciados: os progressistas e os conservadores. Como na vida secular, mas com especificidades. E o Santo Padre também tem que lidar com assuntos polêmicos que despertam a contrariedade dos “oponentes” do papa sul-americano.
A reportagem é de Manuel Tori, publicada por Público, 16-03-2020. A tradução é do Cepat.
Jorge Mario Bergoglio, nos últimos tempos, está apostando no equilíbrio. O mesmo que se aproxima de uma reforma do celibato sacerdotal, abandona a ideia para não abrir um debate muito quente entre os setores mais dogmáticos da Igreja. Se, por um lado, parecia que tudo estava resolvido no escândalo do livro que Ratzinger não escreveu e que era contra Francisco, Bergoglio decidiu finalmente tirar algumas competências de D. Georg Gänswein, secretário de Bento XVI, para que se dedique completamente ao pontífice emérito. Se, por um lado, Francisco esteve aberto à ideia de padres casados, por outro, há um mês, publicou um livro-entrevista na qual afirma sua “total sintonia com o pensamento de São João Paulo II em relação ao sacerdócio”.
O início dos altos e baixos foi em meados de janeiro, quando o Vaticano viveu uma semana de incêndio. O Papa Emérito, Bento XVI, teve que retirar sua assinatura de um livro que não escreveu e que era contra Francisco. Joseph Ratzinger, para surpresa de muitos, estava prestes a publicar um livro em quatro mãos com o cardeal Robert Sarah, líder dos conservadores, no qual criticaria a posição do Papa Francisco sobre o celibato sacerdotal. No conteúdo da publicação, lia-se que Bento XVI “não pôde permanecer calado” sobre esse assunto, que a imprensa italiana leu como uma “bofetada” e um “desafio” de um pontífice contra o outro. Nada está mais longe da realidade. Mas a crise desencadeada há dois meses, se a princípio parecia uma rivalidade declarada contra o papa argentino, finalmente, chegou a uma falta de controle da situação, por parte de monsenhor Gänswein, secretário pessoal de Bento XVI.
O jornal progressista italiano La Repubblica enfatizou, há algumas semanas, a importância da figura de Joseph Ratzinger, também em relação ao pontificado de Francisco: “Bento XVI deve ser reconhecido com um mérito histórico”, explicou La Reppublica em um editorial. “O primeiro, por ter inventado um código de conduta para um papa renunciante que deixará pegadas no futuro: deixar Roma durante um conclave, residir dentro dos muros do Vaticano e manter uma discrição obediente ao papa atual. São decisões que terão o valor de precedente para outros papas que desejarão fazer uso da liberdade de renunciar ao ministério petrino”. E acrescenta: “Se o Papa pede a D. Gänswein que auxilie melhor Bento XVI, para que ninguém use seu prestígio, é um sinal de que existe um certo clima de tensão. Francisco não está desatento, nem atemorizado”. E mais, é um sinal para aqueles que pretendam agitar inutilmente, as águas.
O Papa Francisco também teve que se adaptar à crise de saúde do coronavírus. Há algumas semanas, de fato, começou a realizar suas primeiras Audiências Gerais e o Angelus dentro do Vaticano e via streaming para evitar multidões de pessoas na Praça de São Pedro. Neste domingo, o Santo Padre deixou o Vaticano de forma privada para visitar as igrejas romanas de Santa Maria Maior e São Marcelo. Na segunda delas, Jorge Mario Bergoglio pediu “o fim da pandemia que atinge a Itália e o mundo”, pedindo ajuda para os doentes, suas famílias, amigos e equipe médica. A visita ao templo de São Marcelo n Via del Corso teve muito de simbólico, pois nele está o Cristo que, em 1522, foi levado em procissão pelas ruas de Roma para acabar com a grande peste, durante o século XVI. Alguns dias atrás, o Santo Padre também pediu que o coronavírus não permita “esquecer aos sírios, um povo que sofre há anos na fronteira entre a Turquia e a Grécia”.
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O equilíbrio do Papa Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU