28 Janeiro 2020
O diabo faz as panelas, mas não as tampas. Coincidentemente e com muita ironia do destino, as novas nomeações para a cúpula do Colégio Cardinalício - o decano e vice-decano - nas pessoas dos cardeais Giovanni Battista Re e Leonardo Sandri, foram anunciadas enquanto está em curso a revisão radical dos Legionários de Cristo, cuja história acaba de trazer à luz o terrível balanço criminal realizado pelo padre Maciel Marcial Degollado, o fundador da ordem que abusou de cerca de 60 menores, incluindo seus dois filhos naturais, que teve com uma mulher mexicana com a qual manteve ligação por décadas. Pode ser considerado o maior escândalo de pedofilia, corrupção e crimes da Igreja do século XX. Um escândalo que explodiu no final dos anos 1990, mas foi sistematicamente ocultado na última parte do pontificado de João Paulo II.
A reportagem é de Franca Giansoldati, publicada por Il Mattino , 25-01-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Leonardo Sandri - o novo vice-decano do Colégio Cardinalício - na época era o substituto na Secretaria de Estado e o cardeal Angelo Sodano era secretário de Estado. Tanto um como o outro, pelos papéis que ocupavam na cúpula, estavam cientes das denúncias muito pesadas que chegavam de várias partes contra Maciel, um padre muito rico, influente e muito bem inserido na cúria, tanto que conseguiu passar ileso por todos os pedidos que chegaram até do então cardeal Ratzinger, na época prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé.
Sobre esse enorme escândalo, a cúpula do Vaticano silenciou enquanto a imprensa internacional solicitava insistentemente informações sobre o que estava sendo conhecido sobre a conduta do padre Maciel no México e nos Estados Unidos. No início de 2005, a sala de imprensa do Vaticano, na época sob o total controle da Secretaria de Estado, emitiu um comunicado dizendo que a situação estava sob controle. Que, no fundo, eram todas mentiras. Enquanto isso, os Legionários estavam jogando pelas beiradas: “A Santa Sé informou recentemente a nossa Congregação que, neste momento, não há nenhum processo canônico em andamento, nem que será iniciado, nem está previsto para o futuro contra o padre Marcial Maciel, fundador do mesmo Instituto”. Apenas alguns meses antes, Maciel havia celebrado seu 60º aniversário de ordenação sacerdotal no Vaticano.
Quem leu a afetuosa mensagem de votos de aniversário do Papa em vez de Wojtyla (já que ele falava mal por causa do Parkinson avançado), foi justamente Sandri. “Sua vida foi marcada por uma grande fecundidade espiritual (..) Confio-vos caro padre Maciel à proteção celestial da Virgem Maria, mãe dos sacerdotes, e com afeto envio-lhe uma bênção especial”.
As primeiras denúncias contra Maciel chegaram ao Vaticano em meados dos anos 1990.
Uma das muitas vítimas, Alberto Athiè, contou que também enviou uma carta ao cardeal Ratzinger, mas recebeu em resposta uma breve mensagem afirmando que "o padre Maciel é muito caro ao Papa e, portanto, não é conveniente reabrir o caso".
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O papa aprova como vice Decano o argentino Sandri que se calou sobre os crimes do padre Maciel, estuprador de 60 crianças - Instituto Humanitas Unisinos - IHU