21 Janeiro 2020
A ordem celebra sua congregação geral entre novas acusações de vítimas dos Legionários de Cristo: a árvore de Maciel segue podre e não rebrota
A “condenação” de Fernando Martínez, que apesar de deixar de ser padre poderá seguir vivendo como mais um na comunidade, esgota os sobreviventes.
Como sobrevive uma organização que permitiu que seu fundador abusasse de crianças que se tornaram abusadores e cujas vítimas também acabaram sendo vitimadores?
Mais de uma dúzia dos 66 participantes na congregação geral pertencem à velha guarda de Maciel.
A reportagem é de Jesús Bastante, publicada por Religión Digital, 21-01-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Uma “herança maldita”. Assim definem os especialistas o presente e o futuro da Legião de Cristo, que esta semana celebra sua Congregação Geral, a primeira desde sua refundação em 2014, e justo depois de ter feito público o escandaloso relatório oficial, que demonstra como desde 1941, 175 menores de idade foram vítimas de abusos sexuais, cometidos por um total de 33 padres da congregação.
Uma árvore apodrecida desde a raiz do seu fundador, Marcial Maciel Degollado, que violou – que se sabe – mais de 60 menores, meninos e meninas, durante décadas. Destes, 11 tornaram-se abusadores. Abusadores que, também, abusaram de outros menores, em uma espiral de pedofilia e ocultamento que se prolongou durante oito décadas.
Como sobrevive uma organização que permitiu seu fundador abusar de crianças que se tornaram vitimadores de outros menores que também abusaram de outros? Como ressuscitar a uma cadeia de poder escuro, benzido pelas altas esferas eclesiásticas de distintos países e do mesmíssimo Vaticano? Pode superar uma congregação como está o desgarro de ver como seu criador, a ponto de ser canonizado, foi condenado ao inferno pelo mesmíssimo Bento XVI?
Encobrimentos e negligência... no passado?
Os próprios legionários informavam como “alguns dos assuntos principais sobre a mesa são a missão apostólica da Congregação e sua relação com as demais vocações do Regnum Christi, a formação dos seminaristas, o caminho para avançar na atenção às vítimas de abusos sexuais, os possíveis encobrimentos, negligências ou omissões em relação com os mesmos no passado, a vivência da pobreza na Congregação, a vida comunitária, a pastoral vocacional e a disciplina religiosa em geral”.
Pode a Legião avançar “nos possíveis encobrimentos, negligências ou omissões com os mesmos no passado” quando algumas das vítimas seguem denunciando abusos, em alguns casos recentes, resolvidos com a mesma resposta de silêncio ou tratamento "desigual"? O caso de Fernando Martínez, condenado por abusos – primeiro foi uma das vítimas de Maciel – e despojado da ordem sacerdotal, porém que continua vivendo como um membro mais da Legião em suas casas, é paradigmático.
Como também escândalos de abusos em colégios de elite da ordem seu país natal, México. Ex-sacerdotes da Legião dizem que o caso é um golpe devastador do que advertiram durante muito tempo, já que perder credibilidade frente aos mexicanos endinheirados privaria a ordem de sua base chave.
A respeito disso, Aaron Smith, porta-voz da ordem, alegou que a cúpula da Legião sim mudou na última década, apontando que 11 padres participam no Capítulo Geral deste ano pela primeira vez e que a maioria dos 66 participantes entraram na assembleia depois que começou a reforma do Vaticano. No entanto, restam mais de uma dúzia que pertence à velha guarda de Maciel. É possível construir um futuro assim? As vítimas estão convencidas de que não. A Legião poderá sobreviver a sua própria sombra?
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Legionários de Cristo: a árvore de Maciel segue podre e não rebrota - Instituto Humanitas Unisinos - IHU