09 Dezembro 2019
Segundo o Global Times, um jornal do oficial Diário do Povo, o Vaticano e a China estariam organizando a visita histórica do Papa Francisco, no antigo Celeste Império. Trata-se de uma notícia sobre a qual já se discute há algum tempo. Bergoglio expressou repetidamente o desejo de visitar a China e, recentemente, durante a viagem ao Japão (onde muitos dos fiéis que vieram ouvi-lo eram chineses), o Pontífice havia admitido: "Gostaria de ir a Pequim, amo a China". E, como relatado pelo jornal, sua posição sobre os fatos de Hong Kong parecia orientada para satisfazer o partido comunista chinês: "existem várias situações com problemas que eu não sou capaz de avaliar neste momento. Eu respeito a paz e peço paz a todos esses países que têm problemas, também a Espanha. É adequado relativizar as coisas e chamar para o diálogo, para a paz, para que se resolvam os problemas".
A reportagem é de Simone Pieranni, publicada por il manifesto, 08-12-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
O Partido Comunista Chinês - PCC – obviamente – apreciou isso. Como fonte da notícias, o Global Times citou o bispo Marcelo Sánchez Sorondo, chanceler da Pontifícia Academia de Ciências Sociais, que anteriormente havia elogiado a China como um "país extraordinário", dizendo: "Não tem favelas, os jovens não consomem drogas". Em vez disso, havia relatado, existe uma "consciência nacional positiva", acrescentando que a China estaria implementando a encíclica do papa Francisco Laudato Si’ melhor do que muitos outros países", além de questões relacionadas ao clima.
Em setembro de 2018, Pequim e o Vaticano assinaram um acordo secreto, do qual Luca Kocci havia escrito no il manifesto:
“Após a proclamação de Mao, da República Popular, em 1958 foi criada, com o apoio do governo, a Associação Patriótica Católica Chinesa, da qual nasce uma espécie de Igreja oficial, que ordena que bispos não reconhecidos e automaticamente excomungados pelo Vaticano. Ao mesmo tempo, uma Igreja clandestina se desenvolve, com bispos fiéis em Roma. Entre os adeptos das duas comunidades, existem contatos e sobreposições, mas na verdade existem duas igrejas na China. O acordo "provisório" de 22 de setembro estabelece um procedimento único para a escolha dos bispos. O texto permanece secreto, para que possa ser modificado sem clamor. No entanto, o processo deveria ser o seguinte: os candidatos são selecionados nas dioceses, o governo concede sua aprovação e, finalmente, o papa os consagra bispos. Se, ao longo do caminho, houver algum problema, tudo será zerado. Dessa maneira, o papa é o único a consagrar os bispos, mas o governo mantém um controle sobre os nomes. Uma mediação na qual ambos os atores concedem algo obtendo algo em troca, e que poderia pôr fim à duplicação de igrejas e levar à 'Paz' entre Roma e Pequim ".
Na China existem duas igrejas católicas, uma oficial cujos bispos são nomeados pelo Partido Comunista, objeto do acordo acima, e uma clandestina, não reconhecida pelo Partido Comunista e contida, quando não perseguida, pelas autoridades chinesas.
No ano passado, em fevereiro de 2018, surgiram notícias sobre a destruição de igrejas, um sintoma de um arrocho do partido sobre as religiões e, em particular, contra a Igreja clandestina. Pequim justificou tais atos alegando que as demolições eram necessárias, pois eram prédios ilegais, mas isso preocupou bastante as autoridades do Vaticano, com a intenção de abordar um número muito grande de fiéis. A esse respeito, é necessário um esclarecimento: os católicos costumam ser estimados em 12 milhões na China, mas, de acordo com dados recentes fornecidos pelo Holy Spirit Study Center em Hong Kong, de 2015 a hoje teriam caído para 10 milhões e um acordo para o Vaticano seria, portanto, o caminho para voltar aos números anteriores e talvez aumentá-los.
Além disso, os católicos chineses estão tradicionalmente presentes nas zonas mais rurais do país. Dessa maneira, os bispos ou prelados sempre mantiveram suas comunidades sob controle, de modo a trazê-las "em dote": cada bispo chinês quase sempre está associado ao número de fiéis que "administra". Segundo fontes relatadas em um artigo no New York Times de 14 de fevereiro de 2018, essas comunidades agora estavam prestes a se desmanchar, porque o desenvolvimento chinês leva muitas pessoas a deixar o campo. Desse modo, perde-se o controle sobre os fiéis e, com isso, se perdem números - e poder, provavelmente -, além da possibilidade de fazer proselitismo.
O Vaticano e o Partido Comunista são duas organizações muito mais similares do que poderia parecer: vivem em liturgias semelhantes, controlam de maneira decisiva a orientação ideológica de seus "fiéis", tentam esconder do exterior suas brigas internas.
No caso do acordo do ano passado e da possível visita do papa, as duas organizações obteriam um resultado histórico e - acima de tudo - "win win" (como os chineses gostam de dizer) para ambos.
Para a China, isso significa credenciar-se diante do mundo como o país capaz de estabelecer um acordo com a organização religiosa mais importante do mundo, colocando-se em uma posição difícil de atacar em termos de direitos humanos e de perseguição aos católicos.
Para a Igreja, significaria aproximar-se de um potencial de fiéis amplo e até agora inatingível.
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A visita do Papa Bergoglio a Pequim está cada vez mais próxima - Instituto Humanitas Unisinos - IHU