03 Dezembro 2019
Os teólogos devem explorar e debater questões controversas, às vezes até mesmo assumindo “riscos” com aquilo que propõem, mas essas discussões devem ocorrer dentro da academia, para não confundir os fiéis, disse o Papa Francisco.
A reportagem é de Cindy Wooden, publicada em Catholic News Service, 02-12-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
“O teólogo deve seguir em frente”, disse o papa aos membros da Comissão Teológica Internacional. “Deve também enfrentar as coisas que não são claras e arriscar na discussão. Porém, isso entre os teólogos.”
“Mas é preciso dar o ‘alimento’ sólido da fé ao povo de Deus, não alimentar o povo de Deus com questões disputadas”, porque isso poderia confundi-los e fazê-los perder a fé, disse o papa ao grupo no dia 29 de novembro, durante um encontro em comemoração do 50º aniversário da comissão.
São Paulo VI estabeleceu a comissão para continuar a colaboração entre teólogos e a autoridade magisterial da Igreja experimentada no Concílio Vaticano II, disse o papa. E ele queria garantir que a congregação doutrinal se beneficiasse das contribuições dos teólogos refletindo sobre questões de fé em diferentes partes do mundo e em diferentes contextos culturais.
“De fato”, disse o papa, “vocês se põem à escuta daquilo que o Espírito diz hoje às Igrejas nas diferentes culturas para trazer à tona aspectos sempre novos do inesgotável mistério de Cristo.”
Ao “traduzir” a fé para pessoas de diferentes culturas, disse ele, os teólogos ajudam as pessoas a se sentirem “mais próximas e abraçadas pela Igreja, tomadas pela mão lá onde elas se encontram e acompanhadas para degustar a doçura do ‘kerygma’ (o anúncio de Cristo) e a sua novidade atemporal”.
“A isto a teologia é chamada”, disse ele: “Não é uma indagação catedrática sobre a vida, mas sim encarnação da fé na vida”.
A “boa teologia” é uma busca que nasce da vida espiritual ativa do próprio teólogo, disse ele. “A teologia nasce e cresce de joelhos!”
E, acrescentou Francisco, a teologia se desenvolve no interior da vida da Igreja e contribui com ela. “Não se faz teologia como indivíduos, mas em comunidade, a serviço de todos, para difundir o gosto bom do Evangelho aos irmãos e às irmãs do próprio tempo, sempre com doçura e respeito.”
Francisco agradeceu aos membros da comissão especialmente pelo documento de 2018, intitulado “Sinodalidade na vida e na missão da Igreja”.
“Vocês mostraram como a prática da sinodalidade, tradicional, mas sempre necessitada de renovação, é a implementação, na história do povo de Deus a caminho, da Igreja como mistério de comunhão, à imagem da comunhão trinitária”, disse o papa.
“Como vocês sabem, esse tema está muito perto do meu coração”, disse ele aos teólogos.
“A sinodalidade é um estilo, é caminhar juntos e é aquilo que o Senhor espera da Igreja do terceiro milênio”, afirmou.
O documento da comissão teológica diz que a sinodalidade promove a dignidade e o chamado batismal de todos os católicos, valoriza a presença dos diversos dons dados pelo Espírito Santo e reconhece o ministério específico confiado aos pastores e bispos em comunhão com o papa para a preservação da fé e a renovação da Igreja.
“Agradeço-lhes pelo seu documento”, disse o papa aos membros, “porque hoje se pensa que fazer sinodalidade é se dar as mãos e andar no caminho, fazer festa com os jovens ou fazer uma pesquisa de opinião: ‘O que se pensa sobre o sacerdócio das mulheres?’.”
Na realidade, disse ele, é “um caminho eclesial que tem uma alma, que é o Espírito Santo. Sem o Espírito Santo, não há sinodalidade”.
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Debatam as ideias, diz papa aos teólogos, mas não confundam os fiéis - Instituto Humanitas Unisinos - IHU