19 Novembro 2019
O chefe da autoridade de vigilância financeira do Vaticano deixará seu cargo até o fim do mês, disse a cidade-Estado em um anúncio inesperado no dia 18 de novembro, alimentando uma saga de meses de duração que trouxe à tona novas questões sobre os controles econômicos do Vaticano.
A reportagem é de Joshua J. McElwee, publicada por National Catholic Reporter, 18-11-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
René Brülhart, um advogado suíço e ex-chefe da unidade de inteligência financeira de Liechtenstein, liderava a agência, formalmente conhecida como Autoridade de Informação Financeira (AIF), desde 2014.
A saída de Brülhart pareceu pegar o Vaticano de surpresa. O comunicado de três frases divulgado à imprensa não mencionou um novo presidente para a agência, mas garantiu que o Papa Francisco identificou “uma figura de alto perfil profissional e de credenciada competência em nível internacional”.
Em um breve telefonema após o anúncio, Brülhart disse que decidiu renunciar ao fim do seu mandato de cinco anos, que termina no dia 19 de novembro.
A agência de vigilância financeira esteve no centro de desdobramentos altamente incomuns nas últimas semanas. Seus escritórios foram invadidos pela polícia vaticana no dia 1º de outubro, e seu diretor, um subordinado imediato de Brülhart, foi suspenso do ofício por suspeita de possível improbidade financeira.
Brülhart emitiu um comunicado no dia 23 de outubro defendendo esse subordinado, Tommaso Di Ruzza, e dizendo que o conselho da organização havia reafirmado sua “plena confiança” em seu trabalho.
Após a inesperada investigação do dia 1º de outubro, que também envolveu os escritórios da poderosa Secretaria de Estado do Vaticano, um jornal italiano informou que cinco autoridades, incluindo Di Ruzza, haviam sido temporariamente impedidos de entrar novamente no território vaticano.
No dia 14 de outubro, apenas 12 dias após a divulgação da reportagem italiana, o antigo chefe da polícia vaticana, o comandante Domenico Giani, renunciou ao seu cargo, expressando pesar de que o vazamento da sua ordem impedindo a entrada de pessoas havia sido “prejudicial à dignidade das pessoas envolvidas”.
O comunicado vaticano do dia 18 de novembro anunciando a saída de Brülhart dizia que Francisco nomeará um novo diretor da agência de vigilância após a visita papal de 19 a 26 de novembro à Tailândia e ao Japão.
Em uma declaração adicional cerca de uma hora após a notificação da saída de Brülhart, a Sala de Imprensa do Vaticano disse que a cidade-Estado ainda não podia anunciar o nome do novo presidente da agência devido a seus “compromissos institucionais anteriores” e por causa de alguns “procedimentos internos” ainda a serem concluídos pelo Vaticano.
Embora se saiba que a polícia vaticana levou documentos e computadores durante a investigação do dia 1º de outubro, não se sabe o que está sendo investigado especificamente.
Reportagens italianas indicaram que a questão tem a ver com a venda de uma propriedade vaticana em Londres. Um comunicado do dia 1º de outubro dizia apenas que a investigação foi autorizada pelo promotor-chefe do Vaticano, após um relatório sobre o assunto do auditor geral do Vaticano e de autoridades do Instituto para as Obras de Religião, vulgarmente conhecido como banco do Vaticano.
A agência de vigilância financeira foi criada em 2010 pelo Papa Bento XVI na esperança de pôr um fim aos escândalos financeiros do Vaticano e de levar as transações financeiras da cidade-Estado aos padrões internacionais aceitos.
Brülhart ingressou na agência em 2012, antes de se tornar presidente em 2014.
A saga contínua sobre os controles financeiros vaticanos ocorre enquanto a cidade-Estado se prepara para uma revisão local em meados de 2020 por parte do comitê Moneyval do Conselho da Europa, que avalia a conformidade com os padrões internacionais contra a lavagem de dinheiro e o financiamento do terrorismo.
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Presidente da agência de vigilância financeira do Vaticano renuncia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU