A Gendarmeria vaticana investiga o marido de Francesca Chaouqui na trama de documentos vazados

Mais Lidos

  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • Dilexi Te: a crise da autorreferencialidade da Igreja e a opção pelos pobres. Artigo de Jung Mo Sung

    LER MAIS
  • Às leitoras e aos leitores

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

Por: André | 06 Novembro 2015

A Gendarmeria vaticana investiga Corrado Lanino, especialista em informática e marido de Francesca Chaouqui, por seu possível envolvimento no escândalo de vazamento de documentos pelo qual a italiana e o padre espanhol Lucio Vallejo Balda foram presos e interrogados.

A reportagem é de Jesús Bastante e publicada por Religión Digital, 04-11-2015. A tradução é de André Langer.

Lanino trabalhava, até o começo do escândalo, para a Fundação Santa Lúcia de Roma, um organismo dependente da Santa Sé, sendo máximo responsável pelo terceiro nível de segurança do sistema de comunicações vaticanas, conhecido como “Arcanjo Gabriel”. O nível pirateado é o segundo, o “Arcanjo Rafael”, ao passo que o nível máximo – que não foi tocado – é o “Arcanjo Miguel”.

Ambos, Chaouqui e Lanino, aparecem publicamente quando, há um pouco mais de um ano, posaram nas redes sociais – e na revista Panorama – por causa da nomeação da italiana como membro do COSEA, o organismo encarregado da reforma econômica vaticana, onde trabalhou lado a lado com Vallejo Balda, de quem se tornou íntima, convertendo-se em imprescindível.

O nome da “broker” foi vinculado ao do jornalista Gianluiggi Nuzzi, autor de Sua Santidade, o livro que trouxe à tona o escândalo Vatileaks e autor de um dos dois livros, Via Crucis (o outro é Emiliano Fittipaldi, com Avareza). Em alguns ambientes vaticanos ganha força a hipótese de que Vallejo Balda tenha sido uma “vítima útil” para a gravação e vazamento de alguns documentos, em especial aqueles referentes diretamente ao Papa Francisco (qualquer um dos dois teria acesso aos documentos do organismo econômico). A própria investigação reconhece que o religioso espanhol não tinha conhecimentos de informática suficientes para nenhum tipo de hacker.

O que parece claro é que, após a descoberta da trama, Vallejo Balda teria envolvido diretamente a Chaouqui e que esta, por não ser funcionária do Vaticano – não pode ser presa nem julgada sem uma “extradição” por parte da Itália –, decidiu jogar toda a responsabilidade sobre o padre, negando qualquer relação. Mais ainda: acusando-o diretamente e afirmando que “eu tentei impedi-lo”.

A colaboração a posteriori demonstrada por Chaouqui, que na terça-feira foi chamada novamente para declarar, segue os mesmos passos que durante a investigação do caso Vatileaks: ninguém duvidou naquela vez de que o mordomo Paolo Gabriele foi um cabeça de turco, mas foi o único que as autoridades vaticanas puderam julgar. Questão diferente são as motivações que levaram Vallejo Balda a agir dessa maneira, que serão conhecidas conforme avançar a investigação, elucidando se só agiu por despeito, se foi enganado ou se simplesmente tentou “ajudar” o Papa.

Seja como for, o certo é que as antecipações dos livros que serão publicados nesta quinta-feira refletem a luta do Papa Francisco contra a corrupção e o desperdício. Em um dos textos, publicado por Nuzzi, vê-se como Bergoglio defende o não pagamento no caso de não haver orçamentos prévios e autorizados. “Se alguma coisa é feita sem orçamento prévio e sem autorização, não se paga. (...) Clareza! Isto se faz nas empresas mais simples e temos que fazê-lo também nós”, assinala o Papa.

Em outro momento, o Pontífice urge estudar cuidadosamente todos os contratos, pois escondem “muitas armadilhas”, e destaca que “os nossos provedores devem ser empresas que garantem a honradez e que proponham o preço justo de mercado para os produtos e serviços. Alguns não garantem isso”.

Fittipaldi, por sua vez, revela dados desconhecidos sobre os orçamentos no Vaticano. Assim, a Santa Sé teria propriedades no valor de 4 bilhões de euros, que em sua maior parte não produzem benefícios, ao passo que a Rádio Vaticano tem um déficit de 26 milhões de euros ao ano, por outros 5 milhões do L’Osservatore.

Em Avareza, Fittipaldi revela uma longa conversa com um monsenhor vaticano – que hoje todos identificam com Balda – em que se critica duramente George Pell, que é chamado de “sociopata” e que teria gastado meio milhão de euros em seis meses. “Deve saber – afirma o texto – que a Santa Sé vende combustíveis, cigarros e roupas sem impostos, arrecadando 60 milhões de dólares ao ano”.

Também se critica os gastos do ático de Bertone e de outros hierarcas vaticanos, como Demenico Calcagno ou Carlo María Viganò, assim como o desvio de fundos da Fundação Menino Jesus. Também que o Vaticano investiu em corporações como a Exxon ou a Dow Chemical. E a lista de documentos continua, enquanto a Polícia vaticana segue sua investigação.