01 Outubro 2019
Em preparação para o caminho sinodal ("Sinodaler Weg"), que terá início no primeiro domingo do Advento, a Conferência Episcopal Alemã, na assembleia do começo do ano havia instituído quatro fóruns com a tarefa de aprofundar temas relacionados ao poder na Igreja, moral sexual, forma de vida sacerdotal e papel das mulheres nos serviços e administração da Igreja. Os quatro grupos começaram a trabalhar imediatamente e agora, alguns meses depois, publicaram os resultados de seus encontros. O Katholisch.de divulgou os conteúdos, em um resumo muito conciso, escrito a três mãos, com um anexo contendo as palestras integrais de aproximadamente vinte páginas.
A reportagem é de M. Altmann, C.P. Hartmann, R. Müller, publicada por Settimana News, 27-09-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Vamos reproduzir, com tradução nossa, a síntese como foi relatada no katholisch.de em 19 de setembro passado.
Chegou a hora de renovar a Igreja no setor "Poder, participação e separação de poderes": esse é o fio condutor do documento de trabalho do primeiro Fórum. Os autores do artigo (cerca de vinte páginas) pretendem "tirar algumas lições do escândalo dos abusos" que, segundo dados do estudo MHG, tem suas raízes também no abuso do poder espiritual.
Ao mesmo tempo, sobre esse argumento, convidam a "focar novamente nas sagradas Escrituras" e na primazia da evangelização. Em sua indagação, eles identificam na Igreja uma vistosa contradição entre doutrina e ação. Precisamente no séc. XIX, reproduzindo o modelo da monarquia, numerosos poderes haviam se acumulado nas "sacra potestas" do ministério ordenado, de modo a estabelecer uma hierarquia segundo a qual "os fiéis eram considerados de maneira unilateral dependentes dos padres". Algo que não é mais possível em tempos de democracia.
Os autores do texto perguntam de maneira provocativa: "A Igreja ainda acredita no que prega com o Evangelho da esperança sobre a reconciliação, o amor e a salvação?" A atual crise da Igreja ameaça sua existência se medidas adequadas não forem tomadas.
Os participantes do Fórum apresentam algumas propostas bastante concretas sobre como o poder e a divisão de poderes na Igreja poderiam ser organizados de uma nova maneira. Mas não pretendem com isso chegar a formular "definições". Assim, por exemplo, pedem, em virtude da "igualdade fundamental de todos os membros da Igreja", que se estabeleça como vinculante a colaboração dos vários serviços na Igreja, "incluindo o ministério episcopal". Em termos concretos, deve ser garantido que "a liderança e o poder de decisão não estejam ligados exclusivamente à ordenação".
Além disso, propõem que os fiéis possam se expressar sobre o problema do imposto sobre as religiões (Kirchensteuer), sobre a designação das funções administrativas que devem ser estritamente ad tempus, sobre o controle dos gerentes em todos os níveis, que deve ser realizado por órgãos independentes, e sobre a pregação dos fiéis na Santa Missa.
Ao mesmo tempo, os autores do documento de trabalho exortam para que o "caminho sinodal" constitua já em si "uma modalidade de mudança" rumo a uma nova cooperação entre clérigos e laicos. A consciência de que o poder deve ser compartilhado e seu exercício justificado deve ser desenvolvido. Mas também deve haver "a segurança do processo": o âmbito de tomada de decisão dos comitês do processo de reforma e como as decisões devam ser vinculantes devem ser esclarecidos antes mesmo de começar.
A partir do documento de trabalho do Fórum sobre "Moral sexual", é possível reconhecer claramente as distâncias existentes entre as opiniões dos participantes sobre esse tema. De fato, em diferentes pontos dos relatos, ao lado da opinião da maioria dos presentes, também é especificada a opinião de uma minoria não especificada. Por exemplo, um dos pedidos aceito por grande maioria afirma que "as normas sobre a moral sexual da Igreja devem ser revistas em termos de valor normativo". A minoria, por outro lado, não deseja nenhuma mudança, mas propõe uma explicação e comunicação plausíveis para o nosso tempo.
O documento de trabalho (mais de 20 páginas) foi redigido com base na conferência que o teólogo moralista de Freiburg, Eberhard Schockenhoff, realizou em março na assembleia dos bispos alemães. É concebido de acordo com as três fases: "ver-julgar-agir".
Depois de uma descrição da situação atual que, segundo a opinião da maioria, mostra "uma tangível distância entre o ensino da Igreja e a vida das pessoas", seguem alguns "perfis de uma ética teológica sexual humana para os nossos tempos" e alguns juízos sobre atos sexuais e homossexualidade, que são diferentes entre a maioria e a minoria.
As possíveis consequências são ilustradas por dois exemplos: o primeiro diz respeito ao problema da autodeterminação sexual, em que a maioria se expressa por uma moral sexual da Igreja que reconheça aos indivíduos o direito de "dizer sim aos atos sexuais que querem" e poder escolher "quem amar". A opinião oposta entende por autodeterminação no campo sexual, unicamente "o direito pessoal de estabelecer limites". Entre outras coisas, é apresentado o problema sobre a bênção a parceiros. Três posições foram apresentadas, desde a solicitação de mais detalhes até a recusa. No entanto, essas não foram discutidas nem votadas.
Embora o Fórum seja intitulado "Forma de vida sacerdotal", no entanto, não se refere apenas aos clérigos. De fato, o grupo, referindo-se ao "sacerdócio de todos os batizados", pretende acima de tudo falar dos "problemas eclesiológicos fundamentais", antes de entrar em detalhes. Além disso, a "forma de vida sacerdotal" é tratada "não como um estado, mas com base nos critérios de evangelização". Dessa forma, se seguem as indicações de Roma, segundo as quais a evangelização deve constituir o principal critério de todas as determinações.
Em primeiro lugar, a missão, numa sociedade cada vez mais secular, deve dizer respeito a todo o povo de Deus. O Fórum considera o "caminho sinodal" uma oportunidade para a Igreja, no sentido de que não vê mais apenas propostas já preparadas, mas se dirige abertamente às pessoas. Dessa maneira, a Igreja também pode crescer como presença.
No documento de trabalho também se fala da missão de cada um, assim como pode ser vivida e experimentada.
Apenas em um segundo momento é tratado concretamente o tema específico dos padres, suas tarefas e a organização de seu ofício. Nesse sentido, dentro do Fórum, constata-se um desacordo de base: isto é, se o sacerdócio também deve ser pensado em vista das mulheres. Sobre essa questão, o documento de trabalho remete ao quarto Fórum, que trata explicitamente do papel das mulheres na Igreja.
Quanto aos padres, fala-se sobre a relação entre sacramentalidade e poder (sobre o problema do poder, também quer ouvir a opinião do Fórum competente) e dos pressupostos para aceder ao ofício. Aqui entram em cena os "pontos escaldantes": trata-se das diferentes orientações sexuais dos padres e do problema se "o celibato é a única forma apropriada à natureza do sacerdócio?" Além disso, o grupo de trabalho tenta indagar sobre o modo de prevenir as frustrações inerentes ao ofício.
Para o Fórum, é importante que a discussão seja aberta e se desenvolva em um plano de igualdade. Aqui é levada em consideração a possibilidade de participação das mídias sociais e de observadores externos. Mas é atribuída importância - em estrita referência às declarações do papa - ao fato de que não se trata de tomar decisões por maioria como em um parlamento, mas de uma "efetiva escuta do Espírito Santo".
O Fórum "O papel da mulher na administração e ministérios da Igreja" enfatiza em seu documento de trabalho (18 páginas) "a grande urgência do tema".
O problema das mulheres é considerado pela opinião pública como o "banco de testes" da seriedade do que a Igreja entende com sua vontade de reforma. Para não perder as mulheres envolvidas, é necessário discutir abertamente sobre os problemas que surgem, inclusive aqueles relacionados à ordenação.
A "evidente discrepância entre a doutrina da Igreja e a doutrina amplamente uniforme da teologia científica” nesse âmbito constitui um "escândalo". A esse respeito, o documento de trabalho pede para indagar o quanto realmente sejam vinculantes os documentos do magistério relacionados a esse tema, para reexaminar os argumentos e verificar sua solidez.
Há unanimidade no grupo de trabalho em exigir que as possibilidades para as mulheres participarem da vida da Igreja em igualdade sejam ampliados. À luz da igualdade jurídica entre homens e mulheres presentes em muitos estados, o valor da posição das mulheres na Igreja Católica não "corresponde às expectativas da sociedade de uma participação equitativa nas funções diretivas".
O fato de o ministério ordenado ser limitado apenas aos homens é percebido como uma contradição da igualdade entre homem e mulher, igualdade que se baseia tanto na teologia quanto na criação, como é continuamente repetida inclusive pela Igreja.
O problema da participação das mulheres na administração e ministérios da Igreja, de acordo com o Fórum, está intimamente ligado à evangelização. A Igreja não pode proclamar com credibilidade o Evangelho se excluir "metade da humanidade" do anúncio oficial.
No entanto, independentemente do serviço ligado à ordenação de mulheres, o direito canônico já oferece algumas possibilidades para as mulheres participarem da direção como guias da comunidade - como já ocorre, por exemplo, em algumas dioceses alemãs. Essa possibilidade deve ser mais conhecida e promovida, afirma o documento.
O grupo de trabalho também se expressa positivamente sobre o diaconato da mulher. A existência de mulheres diaconisas e sua ação como diaconisas é demonstrada e elas foram abençoadas e autorizadas. Os membros do Fórum afirmaram que é grande a expectativa de que a Igreja se expresse em relação ao seu serviço diaconal. Uma indicação ao cargo de diaconisas poderia constituir o caminho para fortalecer esse serviço. No entanto, não está claro se o diaconato conferido a uma mulher faria parte da ordenação sacramental.
No parágrafo de encerramento, o documento de trabalho do Fórum espera que, nos problemas em questão, prevaleçam "a criatividade e uma riqueza de ideias". E também acrescenta que se poderia pensar em "formas alternativas àquelas do ministério ordenado até o momento em uso".
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Igreja da Alemanha: os 4 fóruns - Instituto Humanitas Unisinos - IHU