30 Mai 2019
O “vínculo destrutivo agora impossível de negar” é entre “poder, celibato e moral sexual na Igreja”, disse uma professora de teologia dogmática aos bispos da Alemanha.
A reportagem é de Delphine Nerbollier, publicada por La Croix International, 27-05-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A teóloga alemã Julia Knop, professora de teologia dogmática da Faculdade de Teologia Católica de Erfurt, causou admiração na Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Alemã em março.
Convidada a falar em uma sessão sobre a crise da Igreja em torno das revelações de abuso sexual desde 2010, Knop, 41 anos, não mediu suas palavras.
“Eu fui direto ao ponto, mas não disse o que eles já não soubessem”, disse Knop, comentando sobre o “silêncio de chumbo” que caiu sobre a assembleia a partir do momento em que ela começou sua fala.
Em uma análise claramente além do desafio, ela disse aos bispos que “o abuso sexual não faz parte do DNA da Igreja” e “não se origina nem do celibato nem da super-representação de homens homossexuais entre o clero católico”.
Por outro lado, ela apontou para o “vínculo destrutivo agora impossível de negar” entre “poder, celibato e moral sexual na Igreja”.
A novidade está em “reconhecer que esses temas precisam ser refletidos em conjunto”, disse Knop.
A apresentação em setembro passado de um relatório independente encomendado pela Conferência Episcopal sobre o abuso sexual também marcou um ponto de virada para muitos católicos alemães, continuou Knop.
“Isso mostrou que não se tratava de alguns casos isolados ou de casos individuais, mas sim que esses abusos estavam ligados a fatores sistêmicos”, disse ela.
Os bispos alemães, portanto, precisam agir rapidamente, argumentou.
“Os fiéis estão fazendo uma enorme pressão para que se encontrem soluções teológicas para essa crise”, disse Knop.
“O tempo está se esgotando, a janela de oportunidade parece limitada e já pode ser tarde demais”, sugeriu, alertando para uma possível “divisão interna entre fiéis e clero”.
No entanto, Knop também está convencida de que, teologicamente, a Igreja está em um momento histórico emocionante, particularmente desde que a Conferência Episcopal Alemã anunciou no início de março que realizará um sínodo para abordar esses problemas.
A eficácia do sínodo, segundo Knop, dependerá de uma condição, a saber, que os teólogos recebam “liberdade real para trabalhar sem medo de serem punidos”.
No ano passado, o reitor da Faculdade de Teologia Católica Sankt Georgen, em Frankfurt, Ansgar Wucherpfennig, viu-se ameaçado de perder seu cargo depois de desafiar a posição oficial da Igreja sobre a homossexualidade.
Knop foi uma das que apoiaram Wucherpfennig publicamente.
Natural de Münster, um bastião católico no oeste da Alemanha, mas vivendo agora em uma das regiões menos praticantes do país, Knop está convencida de que o papel das Igrejas locais será central.
“Uma mentalidade altamente centralizada se desenvolveu na Igreja Católica”, advertiu ela. “Mas cada Igreja local precisa aceitar sua parcela de responsabilidade.”
“Podem ser encontradas soluções locais para problemas teológicos”, observou ela, apontando para a responsabilidade particular da Igreja Católica alemã, com suas universidades teológicas de renome internacional.
Em Erfurt, pelo menos, Knop observou o “imenso interesse” pelas questões de poder, moral sexual e celibato por parte dos estudantes, incluindo alguns que estão se preparando para o sacerdócio.
“Eles conceberão a Igreja do futuro e não poderão mais seguir os passos dos seus antecessores”, afirmou.
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Poder, celibato e moral sexual: um vínculo destrutivo para a Igreja, opina teóloga alemã - Instituto Humanitas Unisinos - IHU