30 Agosto 2019
Se você já esteve dentro de uma prisão, sabe que isso geralmente é horrível. Muito, muito pior do que o imaginário popular sobre as nossas prisões. George Pell, tendo lecionado pelo mundo inteiro sobre moral e ética desde os anos 1960, deve ter descoberto isso no momento em que foi revistado ao chegar à Prisão de Avaliação de Melbourne há seis meses.
O comentário é de John Ferguson, publicado em The Australian, 28-08-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Assim que o cardeal descobriu que estaria relativamente seguro sob vigilância 24 horas, isso pode ter proporcionado algum conforto de muito curto prazo.
Mas o impacto de longo prazo da liberdade privada é um processo cruel de destruição psicológica, no qual é extremamente difícil se comunicar com a família e os amigos.
Nada acontece rapidamente. Há pessoas terríveis e feridas por toda parte, embora, na maioria dos casos, sejam apenas pessoas que tomaram o rumo errado ou nasceram nas circunstâncias erradas. Três quartos delas estarão dentro de uma maneira ou de outra, por causa das drogas.
No caso de Pell, ele tem poucas desculpas. De fato, tem sido uma vida de privilégio por muitas décadas.
Em breve, o Vaticano terá que “revistar” seus próprios valores quando surgir a questão de Pell e da Suprema Corte.
De muitos modos, a Suprema Corte definirá o perfil tanto de Pell quanto da Igreja sobre a questão dos abusos.
No caso de a Suprema Corte concordar em rever o caso, o Vaticano – na verdade, o papa – desejará um resultado claro.
Se as condenações de Pell forem anuladas, então o papa Francisco terá a tarefa relativamente fácil de aposentar o cardeal. Para além disso, torna-se um exercício de relações públicas bastante simples.
O papa, seja qual for o processo que a Congregação para a Doutrina da Fé decidir, não terá outra opção a não ser expulsá-lo.
Assim como muitas outras coisas na Igreja, o processo de lidar com um cardeal abusador sexual é obscuro.
Não é evidente que a Igreja possa elaborar um processo canônico completo, fundamentalmente porque é difícil ver como qualquer investigação fornecerá aos bispos o acesso necessário a todas as provas.
Isso deixa em aberto o espectro de uma investigação truncada em Roma, ou mesmo – como relatou o jornal The Australian ontem – de uma decisão unilateral do papa sobre o futuro de Pell.
Esse escândalo não foi bem cronometrado para Pell, se é assim que se pode descrevê-lo. Ele veio à tona quando o Papa Francisco havia se comprometido com a tentativa de erradicar o abuso em todo o âmbito da fé. No mundo inteiro.
Isso não lhe deixará outra opção senão ser rápido e brutal se a Suprema Corte decidir contra o cardeal. Qualquer coisa a menos seria vista justamente como uma caricatura total da justiça da Igreja, já que Pell é um criminoso sexual condenado, culpado de molestar dois meninos de coro.
É algo complexo para a Igreja australiana.
Pell tem o apoio dos bispos australianos, e seus amigos mais íntimos na Igreja continuam bem do lado dele.
Embora isso possa parecer difícil de entender, parece haver uma forte crença de seus apoiadores de que as agressões de que ele é acusado são implausíveis.
Essas questões sobre as agressões não significam necessariamente que todas as pessoas da Igreja sejam pró-Pell. Não são.
Mas as pessoas que passaram muito tempo na catedral ou, de fato, trabalhando junto ao altar de outras igrejas, acham difícil de entender.
Elas foram estimuladas pelo julgamento dissidente do juiz Mark Weinberg, que compartilha o ceticismo.
É claro que, como constatou o julgamento da maioria na Corte de Apelação, os abusadores sexuais podem realmente fazer coisas estranhas e desdenhosas.
Caberá à Suprema Corte pôr fim à especulação.
Se ela não conseguir entregar à Equipe Pell o que eles querem, então o machado do Vaticano terá que cair sobre o pescoço Pell.
Dada a maneira como o caso se desenrolou, esse parece ser o resultado mais provável.
Isso deixaria o papa sem outra opção senão agir decisivamente, de acordo com os interesses de longo prazo de uma Igreja adoecida.
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Papa não tem outra opção senão ser rápido e duro, caso a Suprema Corte australiana decida contra George Pell - Instituto Humanitas Unisinos - IHU