26 Agosto 2019
L’Osservatore Romano publicou o capítulo “Novos modelos de desenvolvimento”, que compõe o livro “O Sínodo para a Amazônia” (Editora Paulus, 2019), escrito por cardeal Cláudio Hummes, presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica – REPAM,.
Abaixo reproduzimos alguns fragmentos.
Os destaques do livro foram publicados por Vatican News, 24-08-2019. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
A selva amazônica está concebida em termos de uma imensa reserva que pode ser explorada por indústrias de todo tipo: processamento de madeira, pesca, mineração, procura de pedras preciosas, pecuária intensiva, monoculturas para a exportação (soja, milho, algodão, etc.); e, por parte do governo, grandes projetos para a produção de eletricidade (hidrelétricas) e muitas outras coisas.
Com o desmatamento e a contaminação, se perde a imensa, rica e complexa biodiversidade desse entorno vital. Simultaneamente e como consequência direta dessas ações, milhares de indígenas se veem obrigados a emigrar para as cidades, porque perderam a possibilidade de viver nas áreas florestais devastadas.
Uma vez que chegam às cidades, a grande maioria deles acabam em subúrbios, reduzidos à pobreza, frequentemente presos ao alcoolismo, em um estado de abandono total. Portanto, são descartados, jogados fora como lixo, em nome do progresso.
Esse modelo de desenvolvimento é a expressão do “paradigma tecnocrático” denunciado na Laudato Si’:
“Nesse paradigma destaca uma concepção do sujeito que progressivamente, no processo lógico-racional, compreende e desta maneira possui o objeto que encontra fora. Esse tema se expressa no estabelecimento do método científico com sua experimentação, que já é explicitamente uma técnica de posse, dominação e transformação. É como se o sujeito se deparasse a uma realidade descrita totalmente disponível para sua manipulação” (n.106).
O Sínodo para a Amazônia enfrentará o desafio de formular e promover novos modelos de desenvolvimento.
É evidente que a Igreja como tal não tem competência para formular tais modelos, porém certamente é capaz de denunciar os males que o modelo atual causa, pode indicar princípios que jogam luz sobre a formulação de novos modelos e pode estimular sua aplicação e funcionamento.
“O modelo socioambiental parte de um princípio básico: a articulação entre biodiversidade e sociodiversidade. Em outras palavras, concilia o desenvolvimento e a proteção do meio ambiente. Está concebido em função e para o benefício dos povos do bosque, que tem centenas de anos de experiência e conhecimento, para manejar os recursos florestais sem produzir um impacto que a longo prazo torna-se suicida” (Felício Pontes Jr., Povos da floresta, páginas 82-83).
O modelo atual de depredação está bem descrito pelo papa Francisco, quando denuncia “aqueles que tem suas malas prontas para partir, depois de ter explorado tudo o que poderiam explorar” (Discurso aos bispos brasileiros, Rio de Janeiro, 2013). O Papa disse que a Igreja não está na Amazônia com os que enriqueceram com a devastação da Amazônia e, depois de tê-la explorado, se vão a outra parte sacando as riquezas acumuladas, deixando para trás um rastro de destruição e nada para a população do território.
O modelo socioambiental deve ser “um modelo de redistribuição de renda, porque favorece a forma coletiva do uso da terra, como reservas minerais, terras indígenas, territórios administrados em forma de quilombos e projetos de desenvolvimento sustentável”. Esse é, no entanto, o modelo de povos que consideram que o “desenvolvimento” é exatamente o que já possuem: água limpa e florestas protegidas” (Felício Pontes Jr., ibidem, pág. 83).
Uma coisa é certa: se o atual modelo de desenvolvimento da Amazônia persiste, toda a região terminará sendo destruída, com todas as consequências desastrosas previsíveis.
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“O Sínodo para a Amazônia enfrentará o desafio de promover novos modelos de desenvolvimento”, afirma cardeal Hummes - Instituto Humanitas Unisinos - IHU