12 Agosto 2019
"Se salvar vidas em perigo é um crime, eu sou culpada. Mas não como os traficantes que ganham milhões de euros, ficam em terra firme em um lugar seguro, não no mar, não arriscam suas vidas como essas 121 pessoas que estamos tentando ajudar". Esta é Ani Montes Mier, 31 anos, encarregada do Open Arms, firmemente no controle de seu navio no décimo dia de impasse.
A entrevista é de Alessandra Ziniti, publicada por La Repubblica, 09-08-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Ani, o que vocês vão fazer? Vocês vão entrar na Itália?
Eles merecem um porto seguro, eles merecem uma vida, como todos os seres humanos. E vamos levá-los a um porto seguro.
Vocês estão no mar há dez dias. Como administra a situação a bordo?
Estou preocupada com a evolução da situação, porque não sei o que dizer às pessoas, porque não posso falar para elas quando terminará e, acima de tudo, porque me pergunto como poderei manter sua confiança. Assim que vejo os olhos dos 121 migrantes a bordo ficarem tristes, mostro um dos tantos vídeos de solidariedade que nos foram enviados. E logo se percebe como é grande a resiliência humana.
Depois de Pia Klemp e Carola Rackete, as comandantes do Iuventa e do Sea-Watch, é a vez da ex-salva-vidas de trinta e anos asturiana, um passado de estudos de história e filosofia, já há quatro anos a bordo do navio da Open Arms. A jovem voluntária se transformou em uma forte chefe de missão, uma verdadeira mulher do mar com seus cabelos loiros que ficaram azuis e seus braços cheios de tatuagens. Quatro anos atrás subiu a bordo pela primeira vez como simples voluntária. E nunca mais desceu.
Minha vida mudou para sempre. Significa que não posso, nem quero voltar à minha antiga vida. Desde que conheci a vida real, percebi todos os privilégios que eu tinha. É difícil desconstruir o próprio mundo, não te ensinam isso na escola, mas é a melhor coisa que já aconteceu comigo. Ajudar as pessoas necessitadas é o que cada ser humano precisa fazer. Eu prefiro envelhecer com a clara consciência de ter feito a coisa certa. Não importa o que possa acontecer comigo se eles estiverem a salvo.
Na Itália, você e o Comandante Marc Reig já estão sob investigação por ajudar e encorajar a imigração ilegal e a violência privada. Você sabe que riscos está correndo?
É fácil demais provar que não estamos em contato com nenhum traficante. Essa é a razão pela qual ainda estamos trabalhando, porque não existem provas. Uma mentira falada muitas vezes não se torna verdade apenas porque é repetida.
Vocês desobedeceram à ordem da Espanha de não partir para a Sar líbica e estão prontos também a desobedecer à Itália?
Não estamos violando nenhuma lei, trabalhamos no mesmo quadro jurídico em que viemos trabalhando nos últimos anos. É por isso que nos sentimos abandonados pelos Estados: estamos respeitando as convenções internacionais que os Estados assinaram. Estamos aqui para mostrar que são eles que as estão violando, não nós.
Como Carola, também seus perfis sociais estão sendo visados, com insultos e ameaças.
Eu tenho coisas mais importantes a fazer do que ler comentários de pessoas que escrevem de um lugar com um jantar, um banho quente, uma cama, sobre coisas das quais nada sabem. Não tenho tempo a perder, preciso levar à terra essas pessoas. Ajude-nos.
A quem você quer se dirigir?
Todo mundo sabe quais são os portos seguros mais próximos, Lampedusa e Malta. Mas quero fazer outro tipo de apelo: não estou apenas pedindo um porto seguro do ponto de vista jurídico, mas também do ponto de vista humano. A solidariedade nunca morre. Eu não vou deixa-la morrer.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Ani, encarregada da Open Arms: “Se salvar é um crime, eu sou culpada” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU