10 Agosto 2019
No total, 54.055 bilhões de aves, 3.863 bilhões de mamíferos e 990 bilhões de peixes são mortos a cada ano para consumo humano. Matamos, prendemos e causamos danos aos animais de maneira sistemática, estrutural e institucionalizada em fazendas, zoológicos, laboratórios e matadouros. A pergunta que ninguém se faz é: por quê?
A reportagem é de Borja Martínez, publicado por El Salto, 09-08-2019. A tradução é do Cepat.
Basta a simples observação da realidade para perceber três coisas: em primeiro lugar, os animais sofrem e têm a capacidade de sentir dor. Em segundo lugar, eles querem viver livres, e, em terceiro lugar, querem preservar suas vidas. Não é difícil perceber que os animais fazem tudo o que é possível para sobreviver diante do perigo, escapar do que lhes causa danos e tentar se libertar de qualquer encarceramento ou confinamento por todos os meios possíveis. Você apenas tem que olhar em volta para entender essa realidade inegável.
No entanto, as pessoas se comportam de uma maneira que é estranha a essa realidade. Preferimos pensar que os animais são produtos, meros objetos para o nosso consumo. Simplesmente, preferimos ignorar que não querem morrer. Esquecemos que não desejam passar a vida presos em fazendas, aquários ou circos. Não levamos em conta que não desejam sofrer dores, não querem ser eletrocutados, introduzidos em água fervente, abatidos, esfolados, etc.
Cada vez mais pessoas tomam consciência de que não é necessário comer carne de animais para levar uma vida saudável e plenamente satisfatória, como reconhecido pela maior associação profissional de nutricionistas do mundo (Associação Americana de Dietistas) em seu relatório de junho de 1996, atualizado em 2016. Também não precisamos usar peles de animais para poder nos abrigar, nem para seguir a moda ou para nos sentirmos elegantes.
Quem se importa com sua imagem pessoal, deve começar a perceber o quanto ela se deteriora com o uso de peles frente aqueles que respeitam os animais. As peles, as plumas, a seda e o couro são perfeitamente dispensáveis. Da mesma forma, não é necessário assistir uma tourada, nem ir ao circo com animais, nem ir aos zoológicos ou aquários, como também não é necessário caçar ou pescar por diversão. Existem inúmeros entretenimentos nos quais podemos passar nosso tempo livre, sem oprimir animais.
Por que agir assim, então? Por que prejudicar, matar e encarcerar os animais transformando suas vidas em sofrimento constante? Não posso fornecer qualquer justificativa para isso. No entanto, posso lhe dar razões para não agir assim.
Porque são capazes de sentir, essa é a chave. Para determinar se é ético causar sofrimento, não é relevante a espécie a qual o indivíduo pertence, nem o seu grau de inteligência, nem sua capacidade racional. A única coisa relevante é se são capazes de sofrer.
A ciência nos ensina que, sem dúvida, a grande maioria dos animais tem um sistema nervoso que nos torna capazes de perceber estímulos externos e transmiti-los ao cérebro, que os interpreta como dor, prazer, etc. É por isso que somos capazes de sofrer. As plantas, por outro lado, não possuem sistema nervoso, nem cérebro capaz de interpretar a dor.
Se pararmos para analisar nosso comportamento, não é difícil perceber que exploramos animais por imitação. Repetimos o que sabemos, porque nos ensinaram desde a infância. Ou por acaso você se lembra em que momento tomou a decisão de comer os animais? Você não decidiu, é algo que nos ensinaram a fazer na infância e que assumimos, sem analisar.
Para tomar uma decisão em liberdade, é essencial tomá-la por si mesmo, não por repetição do que fazem outras pessoas. E é necessário possuir toda a informação real, não uma versão adocicada e maquiada. Temos o direito de conhecer a informação que está oculta com falsas imagens de animais felizes, em idílicas fazendas. Temos o direito de não falsear a dramática realidade dos animais em centros de exploração e matadouros, uma realidade de grades e concretos, na qual o dia a dia consiste literalmente em medo, violência, sangue e morte.
Não estamos enfrentando um problema de maus-tratos. O problema dos animais não se deve a pessoas ou empresas que maltratam, é um problema estrutural, é toda a sociedade que participa da exploração devido aos hábitos aprendidos na infância.
Reduzir o grau de maus-tratos durante a exploração não os livra do confinamento e da morte, nem os liberta de serem convertidos em produtos para consumo humano. Nada "humanitário" pode acontecer dentro de um matadouro. As medidas denominadas "bem-estar animal", destinadas a reduzir os maus-tratos durante a exploração, são na realidade apenas realizadas para tranquilizar a consciência das pessoas e tornar mais fácil olharmos para o outro lado.
Cada um de nós podemos fazer algo para mudar a situação injusta dos animais. O primeiro passo lógico é deixar o grupo de opressores, isto é, parar de agredi-los, deixar de fazer parte do problema, não os utilizar como produtos, não se alimentar de animais, substituir roupas de couro e pele, escolher produtos cosméticos não testados em animais, etc.
É fácil apontar para outras pessoas, buscar culpados do lado de fora e acusar as pessoas que vão a touradas, caçam e abandonam animais. Mas, não é tão fácil auto-observar-se e mudar os próprios hábitos. É legítimo exigir que outras pessoas mudem, enquanto nós não mudamos nada em nossa área de responsabilidade?
O segundo passo para ajudar os animais é conversar com outras pessoas para fazer parte dessa solução, difundir informações para fazer a sociedade refletir sobre essa injustiça e fazer ativismo para ajudar outras pessoas a evoluir e autoquestionar seus hábitos de opressão sobre os animais
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Por que transformamos os animais em produtos? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU