27 Julho 2019
A mudança climática é uma ameaça para as espécies de animais e as extinções podem impactar na saúde dos ecossistemas. Uma equipe internacional de cientistas, com participação de pesquisadores do Conselho Superior de Investigações Científicas (CSIC), avaliou mais de 10.000 artigos científicos que relacionam as mudanças no clima, dos últimos anos, com as possíveis variações nas características fenológicas (mudanças nos ciclos biológicos) e morfológicas das espécies.
A reportagem é publicada por Público, 23-07-2019. A tradução é do Cepat.
O trabalho, publicado pela revista Nature Communications, aponta que a adaptação dos animais à mudança climática não ocorre em muitos casos e que as mudanças são geralmente insuficientes para enfrentar o vertiginoso ritmo de aumento das temperaturas.
Na fauna, a resposta mais comum à mudança climática é uma mudança fenológica em eventos biológicos como a hibernação, a reprodução e as migrações. As alterações no tamanho e a massa corporais e em outras características morfológicas, geralmente, também se associam à mudança climática. Não obstante, como confirma agora este estudo, não demonstram um padrão sistemático.
Após revisar a literatura científica existente, os pesquisadores comprovaram se as mudanças nas características observadas estavam associadas a uma maior sobrevivência ou a um aumento no número da descendência. Uma combinação de técnicas de meta-análises e análises de seleção sobre características do fenótipo demonstrou que “existe uma seleção consistente para uma reprodução mais precoce, o que não supõe uma vantagem adaptativa”, ressaltam os autores.
“Nosso trabalho se centrou nas aves porque os dados em outros grupos eram poucos. Demonstramos que, nas regiões temperadas, as temperaturas em elevação estão associadas a variações na cronologia dos eventos biológicos. Em concreto, estes eventos se adiantam no tempo”, aponta a primeira subscritora do trabalho, a pesquisadora Viktoriia Radchuk, do Leibniz Institute for Zoo and Wildlife Research (Alemanha).
“A existência de uma resposta adaptativa incompleta, como a detectada, sugere que a mudança global estaria ameaçando seriamente a persistência das espécies”, afirma o pesquisador do CSIC, Jesús Miguel Avilés, da Estação Experimental de Zonas Áridas, que participou do estudo.
Mais preocupante ainda é o fato de que os dados analisados incluam espécies de aves abundantes e comuns como o chapim-real (Parus major), o papa-moscas-preto (Ficedula hypoleuca) e a pega-rabuda (Pica pica), que até agora se acreditava que respondiam relativamente bem à mudança climática.
“Uma aplicação prática que deriva deste estudo é a necessidade de realizar análise de seleção deste tipo para identificar o risco real de extinção das espécies”, acrescenta Avilés. Faltaria analisar, portanto, as respostas adaptativas que as espécies raras ou ameaçadas realizam, pois é provável que estas sejam ainda mais limitadas e que a persistência de suas populações seja afetada.
Os cientistas esperam que seus resultados e a compilação dos dados sirvam para impulsionar estudos que aprofundem a resiliência das populações de animais diante da mudança global e contribuam para melhorar as previsões. Deste modo, será possível orientar as futuras ações sobre a conservação da fauna.
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Animais não conseguem se adaptar à velocidade da mudança climática - Instituto Humanitas Unisinos - IHU