14 Julho 2019
Enquanto fazíamos a nossa aproximação final ao Aeródromo de Eppley, em uma tarde úmida de junho, o passageiro à minha direita no avião perguntou o que me levava ao Nebraska. “Um congresso sobre mudanças climáticas”, eu disse a ele, uma resposta que provocou uma série de observações de sua parte, que sugeriu o reconhecimento de que algo grande está acontecendo, mas com a incerteza sobre a extensão do problema.
A reportagem é de Bill Mitchell, publicada em National Catholic Reporter, 11-07-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Ele certamente não era um negacionista climático e provavelmente nem um cético do clima. Sendo um piloto que voltava para casa por alguns dias de folga antes de retomar o seu trabalho levar passageiros por todo o país, ele sabe muito sobre ciência e clima para cair em qualquer uma dessas armadilhas. Mas, como muitas pessoas, ele não aprofundou o assunto o suficiente para ter certeza sobre o que ele acredita que está acontecendo – e sobre o que deve ser feito a respeito.
Nós nos separamos antes que tivéssemos tempo para continuar a conversa. Mas o encontro me apresentou uma questão central enquanto eu assumia o papel de editor de clima do NCR: como falar melhor sobre as mudanças climáticas – com estranhos nos aviões, com a família e os amigos, no jornal, na Igreja?
Eu fui ao lugar certo para isso: um congresso de três dias chamado “Laudato si’ e a Igreja Católica dos EUA”, promovido pela Catholic Climate Povenant e pela Creighton University.
As sessões estavam repletas de ideias para abordar o problema descrito pela conferencista principal, a Ir. Patricia Siemen, das Irmãs Dominicanas de Adrian, como “a sobrevivência do planeta (...) a proeminente questão pró-vida” dos nossos tempos.
Erin Lothes, professora associada de teologia do College of Santa Elisabeth e autora de “Sustainability: Planting Seeds for Action” [Sustentabilidade: plantando sementes para a ação], ofereceu várias dicas para uma comunicação climática eficaz:
- Reconheça a diferença entre “tigres agressivos e o derretimento das geleiras”. Lothes descreveu o desafio cognitivo que as pessoas experimentam ao lidar com desastres distantes e de longo prazo em comparação com uma ameaça imediata com consequências terríveis. Os norte-americanos puderam se mobilizar em nome do esforço dos Aliados durante a Segunda Guerra Mundial, disse ela, porque “nós fomos confrontados com um tigre agressivo” – a nação já havia sido atacada.
- Preste atenção nas palavras. Por mais que a “justiça ambiental” seja reconhecida como um importante enquadramento para avaliar o impacto dos desastres ambientais em pessoas que já são desfavorecidas, Lothes disse que pesquisas indicam que muitas pessoas não gostam da palavra “justiça”. Ela explicou: “A palavra irrita muitas pessoas que sentem que estão sendo culpabilizadas. ‘Justo’ é muito melhor”.
- Conheça o seu público. Lothes e outros palestrantes referiram aos participantes as “Seis Américas do Aquecimento Global” [disponível aqui, em inglês], uma análise de audiência compilada pelo Programa Yale sobre Comunicação de Mudanças Climáticas. O programa fornece reflexões sobre cada uma das seis: Alarmada, Preocupada, Cautelosa, Descompromissada, Duvidosa e Displicente.
Fran Ludwig, presidente do Boston Catholic Climate Movement e um dos mais de 200 participantes do congresso na Creighton, disse que ela reconhece a importância da linguagem. Mas expressou incerteza quanto à atenuação do tom, especialmente à luz das recentes declarações do papa Francisco, das dezenas de associações médicas e das Nações Unidas, cada um dos quais declaram uma “emergência climática”.
Em uma videoconferência pós-congresso com mais de uma dezena de membros do grupo de Boston, Ludwig disse que adapta a mensagem que ela envia aos seus paroquianos “com base em onde eles estão”. E a maioria deles, afirmou, “se sentem confortáveis ao falar sobre a emergência climática”.
Steven Keleti, membro do comitê de direção do grupo de Boston, descreveu o problema não tanto como “convencer os céticos, mas sim convencer as pessoas a agir sobre as suas crenças”. Ele acrescentou: “Muitas pessoas engoliram a mentira de que uma pessoa não faz diferença”, um problema que ele aborda ajudando-as a dar esse primeiro passo escrevendo com uma carta ao seu representante.
Peter Dunbeck, presidente do Environmental Stewardship Ministry da Diocese de Worcester, disse que ele aborda tais conversas com base nos dois tipos diferentes de discussões envolvidas: “Eu tento separar as causas das soluções. A causa das mudanças climáticas é científica. Não é política. O que fazer a esse respeito, isso sim é político”.
As organizações de notícias também estão lutando com os detalhes da linguagem em torno das mudanças climáticas, como relatou o New York Times no dia 8 de julho [disponível aqui, em inglês].
A Columbia Journalism Review e a revista The Nation reuniram os principais jornalistas, cientistas e especialistas em clima no dia 30 de abril para explorar como cobrir o que eles chamaram de “a maior história do nosso tempo”. Você pode ver um vídeo do evento aqui [em inglês].
O jornal The Guardian recentemente endureceu as palavras que ele usa nas reportagens sobre o clima, explicando em um artigo do dia 17 de maio: “Em vez de ‘mudanças climáticas’, os termos preferidos são ‘emergência climática, crise climática ou colapso climático”.
Outros alertam sobre o uso de uma terminologia dura sem soluções práticas.
“Temos boas pesquisas que dizem que, ao amplificar a ameaça sem realmente fornecer às pessoas coisas que elas possam fazer, você acaba no fatalismo, no desespero, na depressão, em um sentimento de paralisia ou em um sentimento de displicência e negação”, disse Matthew Nisbet, professor de Comunicação da Northeastern University, em entrevista ao The Times. Ele é o autor de um artigo recente intitulado “O problema do jornalismo de emergência climática”, publicado na revista Issues in Science & Technology [disponível aqui, em inglês].
Quando se trata de discutir as mudanças climáticas a partir do púlpito, Siemen, prioresa (presidente) das Irmãs Dominicanas de Adrian, comparou isso a uma grande questão moral da sua juventude.
“Eu estava no colégio quando o movimento dos direitos civis passou bem ao lado da nossa paróquia e da nossa escola, praticamente inobservada”, disse ela no congresso em Creighton. “Eu não me lembro de um único sermão ou de uma turma do colégio realmente discutindo o que estava acontecendo com o movimento pelos direitos civis.”
Ela acrescentou: “Eu digo isso como um paralelo ao que está acontecendo com a ameaça das mudanças climáticas nas nossas paróquias”.
Alguns homilistas dizem que não abordam as mudanças climáticas com mais frequência porque precisam se ater às Escrituras do dia. Há um aplicativo para resolver isso: um recurso desenvolvido pela Associação dos Padres Católicos dos EUA, chamado “Homily Helps”, que integra materiais da Laudato si’ em liturgias dominicais específicas, organizadas por data.
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Uma questão-chave sobre a crise climática: como falar sobre ela - Instituto Humanitas Unisinos - IHU