31 Mai 2019
Conversa com Daniele Menozzi, um dos mais proeminentes professores de História do Cristianismo, professor da Universidade Normal de Pisa. "Quanto ao rosário mostrado nos comícios, é preciso ser claro. Usar esses símbolos sem se preocupar com o significado que eles assumiram ao longo do tempo significa aproveitar-se das camadas tradicionalistas e anticonciliares da religiosidade popular".
A entrevista é de Riccardo Cristiano, publicada por Formiche, 30-05-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
O debate pós-eleitoral viu um retorno da discussão sobre o catolicismo e a política. De um lado, enfatizou-se como a Lega utiliza temas e palavras caras ao chamado tradicionalismo católico, por outro, detivemo-nos no uso de símbolos religiosos para a campanha eleitoral. Mas surgiram novidades menos evidentes. Assim, torna-se de particular importância a opinião do historiador do cristianismo, para apreender o valor profundo e as referências, inclusive antigas, de alguns temas. Nós conversamos sobre isso com o professor Daniele Menozzi, um dos professores mais respeitados de História do Cristianismo, docente na Universidade Normale de Pisa.
Professor, talvez nesta discussão surjam algumas mudanças dignas de nota. Por exemplo, o cardeal alemão Gerhard Müller, recentemente Prefeito da Congregação da Doutrina da Fé, um dos críticos do Papa Francisco, declarou que "não se pode negar a fé religiosa àqueles que militam em um partido". Isso afeta aqueles que se lembram da excomunhão dos comunistas. No Santo Ofício começam a pensar que foi um erro?
(O professor Menozzi responde a essa pergunta sorrindo, mas chamando a atenção para outra passagem.)
Ele teve uma relação complexa com a Teologia da Libertação, a novidade é significativa, mas o ponto para mim está em outro lugar. O cardeal afirma que o Concílio Vaticano II fala da neutralidade da Igreja em relação à política e fala de autonomia política. Não é assim. Os documentos conciliares, Müller talvez o tenha esquecido, falam de "justa autonomia", guiada por "princípios éticos". O cardeal que passou tantos anos na Congregação para a Doutrina da Fé deveria lembrar bem que os monarquistas da Action Française, liderada por um agnóstico, proclamavam e invocavam a autonomia da política em relação à religião: mas, em 1926, o Papa Pio XI os condenou, excluindo que pudesse existir uma política desvinculada da ética. Um grande nome do catolicismo não só francês, Jacques Maritain, escreveu um livro que não posso imaginar tenha sido esquecido: "O espiritual vem antes do político". Tudo isso pertence ao passado pontifício, considero que seja bem conhecido nos sagrados palácios.
Bem, talvez haja alguma atualização, poderia haver arrependimento em relação à rigidez do passado. Por exemplo, precisamente o Cardeal Müller, que não poupou críticas ao Papa pelas aberturas em relação àquelas que eram definidas de famílias irregulares, agora diz que as portas não podem ser fechadas. É a linguagem de Francisco, da Igreja em saída.
Seria interessante, mas acredito que para eles esse discurso se aplique à política, mas não às questões sobre a família, que eles veem, não sei por que, inscritas no Evangelho. Se quiser ver novidades, talvez as encontremos ali onde o cardeal diz que "podemos advertir, mas não condenar ao ostracismo". É claro que, considerando os temas da família inscritos no Evangelho, está se falando de temas políticos. Mas onde está a fronteira entre âmbito ético e âmbito político? É um tema que é caro à Congregação. A Congregação tendencialmente sempre considerou que é a Igreja que define os limites da ortodoxia. É por isso que as fronteiras entre advertir e condenar ao ostracismo são estabelecidas pela suprema autoridade eclesial, ou seja, o papa.
Bem, porém o cardeal disse que preferia que os símbolos religiosos não fossem usados pela política. Talvez tenha dito isso porque lembra que o rosário foi usado na época da batalha de Lepanto, e usá-lo hoje em dia em praças políticas poderia ser equivocado.
Quanto ao rosário mostrado nos comícios é preciso ser claros, porque usar esses símbolos sem se preocupar com o significado que assumiram ao longo do tempo significa aproveitar-se das camadas tradicionalistas e anticonciliares da religiosidade popular. Foi preciso esperar pelo Concílio para restituir ao rosário valores radicados no Evangelho. Questões relevantes e profundas da relação entre fé e política, que exigem clareza sobre o passado e o presente.
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Atenção, os guardiões da ortodoxia católica já não lembram mais dela. A opinião de Menozzi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU