01 Mai 2019
"O Documento do Grão Imame e do Papa sublinha 'a importância do papel das religiões na construção da Paz Mundial'", escreve Marcos Sassatelli, frade dominicano, doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP) e professor aposentado de Filosofia da UFG.
Eis o artigo.
No Documento “A Fraternidade Humana em prol da Paz Mundial e da convivência comum”, o Grão Imame e o Papa destacam também o papel da família no mundo de hoje. “É evidente quão essencial seja a família, como núcleo fundamental da sociedade e da humanidade, para dar à luz filhos, criá-los, educá-los, proporcionar-lhes uma moral sólida e a proteção familiar. Atacar a instituição familiar, desprezando-a ou duvidando da importância de seu papel, constitui um dos males mais perigosos do nosso tempo”.
Destacam ainda, como fator positivo, o despertar do sentido religioso: “Atestamos a importância do despertar do sentido religioso e da necessidade de o reanimar nos corações das novas gerações, através duma educação sadia e da adesão aos valores morais e aos justos ensinamentos religiosos, para enfrentarem as tendências individualistas, egoístas, conflituosas, o sectarismo e o extremismo cego em todas as suas formas e manifestações”.
Lembram o objetivo das religiões: “O primeiro e mais importante objetivo das religiões é o de crer em Deus, honrá-Lo e chamar todos os seres humanos a acreditarem que este universo depende de um Deus que o governa: é o Criador que nos moldou com a Sua Sabedoria divina e nos concedeu o dom da vida para o guardarmos. Um dom que ninguém tem o direito de tirar, ameaçar ou manipular a seu bel-prazer; pelo contrário, todos devem preservar este dom da vida desde o seu início até à sua morte natural”.
Por isso, declaram: “Condenamos todas as práticas que ameaçam a vida, como os genocídios, os atos terroristas, os deslocamentos forçados, o tráfico de órgãos humanos, o aborto e a eutanásia e as políticas que apoiam tudo isto”.
E continuam: “De igual modo declaramos - firmemente - que as religiões nunca incitam à guerra e não solicitam sentimentos de ódio, hostilidade, extremismo nem convidam à violência ou ao derramamento de sangue. Estas calamidades são fruto de desvio dos ensinamentos religiosos, do uso político das religiões e também das interpretações de grupos de pessoas de religião que abusaram - em algumas fases da história - da influência do sentimento religioso sobre os corações dos seres humanos para os levar à realização daquilo que não tem nada a ver com a verdade da religião, para alcançar fins políticos e econômicos mundanos e míopes”.
Fazem, pois, um apelo para que as religiões não sejam instrumentalizadas para justificar e legitimar atos violentos: “Pedimos a todos que cessem de instrumentalizar as religiões para incitar ao ódio, à violência, ao extremismo e ao fanatismo cego e deixem de usar o nome de Deus para justificar atos de homicídio, de exílio, de terrorismo e de opressão. Pedimo-lo pela nossa fé comum em Deus, que não criou os seres humanos para serem assassinados ou lutarem uns com os outros, nem para serem torturados ou humilhados na sua vida e na sua existência”.
Com efeito, “Deus, o Todo-Poderoso, não precisa de ser defendido por ninguém e não quer que o Seu nome seja usado para aterrorizar as pessoas”.
Por fim, o Documento do Grão Imame e do Papa - de acordo com o ensinamento dos Documentos Internacionais anteriores - sublinha “a importância do papel das religiões na construção da Paz Mundial” e atesta: “A forte convicção de que os verdadeiros ensinamentos das religiões convidam a permanecer ancorados aos valores da paz; apoiar os valores do conhecimento mútuo, da fraternidade humana e da convivência comum; restabelecer a sabedoria, a justiça e a caridade e despertar o sentido da religiosidade entre os jovens, para defender as novas gerações a partir do domínio do pensamento materialista, do perigo das políticas da avidez do lucro desmesurado e da indiferença baseadas na lei da força e não na força da lei”. Diante dessas colocações, não dá para ficar indiferentes! Lutemos!
Leia mais
- “A Fraternidade Humana em prol da Paz Mundial e da convivência comum” - Parte 1
- “A Fraternidade Humana em prol da Paz Mundial e da convivência comum" - Parte 2
- “A Fraternidade Humana em prol da Paz Mundial e da convivência comum” - Parte 3
- “Não estamos isentos das trevas, mas estamos contaminados pela luz”, afirma Francisco
- Abu Dhabi: Declaração conjunta do Papa Francisco e o Grande Imam de Al-Azhar
- “Que os fiéis leiam o documento que assinei com os imãs”, pede Francisco
- O papa em Abu Dhabi gritou contra o 'choque de civilizações'. Entrevista com Massimo Faggioli
- Papa Francisco em Abu Dhabi, desta vez a notícia não são os discursos, mas um documento
- “O Papa tem razão, não existem religiões criminosas. Foi o que demonstrou Abu Dhabi”. Entrevista com Mohammed Sammak
- A Primavera Árabe do Papa
- Um beijo que percorreu o mundo
- Abu Dhabi, uma página incrível. No signo do padre Dall'Oglio
- Que valor deve ser dado à declaração comum do papa e do imã de Al-Azhar? A fraternidade é uma noção comum para as duas religiões
- Que valor deve ser dado à declaração comum do papa e do imã de Al-Azhar? O objetivo do papa não é mudar os muçulmanos
- Dois abraços e duas assinaturas: a viagem do Papa Francisco a Abu Dhabi
- Por que o Papa Francisco está viajando ao ''coração do mundo muçulmano''?
- A liberdade religiosa é um ''processo'', sim. Mas há um elefante na sala
- Papa já está nos Emirados Árabes
- Viagem papal aos Emirados Árabes Unidos poderá superar Regensburg?
- Visita do papa a Abu Dhabi levou mensagem de união e de respeito mútuo
- O Papa irá a Abu Dhabi para participar de um encontro inter-religioso
- Papa aos líderes religiosos: “Ou construímos o futuro juntos ou não haverá futuro”
- Em Abu Dhabi o apelo de cristãos e muçulmanos: "Chega de usar a religião para incitar ao ódio"
- Francisco e os tradicionalistas. Artigo de Massimo Faggioli
- Conflito no Iêmen complica próxima viagem do papa a Abu Dhabi
- O diálogo islâmico-cristão. Entrevistas com Claude Geffré e François Jourdan
FECHAR
Comunicar erro.
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
“A Fraternidade Humana em prol da Paz Mundial e da convivência comum” - Parte 4 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU