28 Abril 2019
Um novo documento publicado no dia 23 de abril pelo Conselho Permanente da Conferência dos Bispos da França (CEF) resume os principais conceitos antropológicos da doutrina católica, incluindo a liberdade, a família, a consciência, o mal, a verdade e o corpo.
A reportagem é de Anne-Bénédicte Hoffner, publicada por La Croix International, 25-04-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Com um prefácio de Dom Michel Aupetit, arcebispo de Paris, e um posfácio de Dom Jean-Pierre Batut, bispo de Blois, o documento traz o título das palavras do Salmo 8 – “Qu’est-ce que l’homme pour que tu penses à lui ? Éléments d’anthropologie catholique” [O que é o homem para nele pensares? Elementos de antropologia católica].
O documento explica que a Igreja Católica concebe a pessoa humana como criada por Deus “à sua imagem e semelhança”; como “bela, livre e orientada para a verdade”, assim como chamada à responsabilidade.
Ele articula em detalhe a dignidade inalienável do gênero humano “desde a concepção até a morte natural”, com sua “natureza finita” e seus “limites”.
O documento também busca restaurar uma dimensão coletiva para cada pessoa como membro da “única família humana”.
“Não somos átomos isolados que escolhem ter relações ou não”, argumentam os dez bispos do Conselho Permanente da CEF, já que “somos todos interdependentes”.
O Conselho tomou a decisão de preparar o documento há cerca de um ano.
“Há uma grande necessidade hoje não de um discurso moral, mas sim de um discurso antropológico”, disse Dom Batut.
“Por um lado, isso ocorre porque, quando abordamos questões diretamente a partir de um ângulo moral, somos percebidos como moralizadores. Nossos interlocutores reagem, e isso acaba impedindo qualquer discussão.”
“Por outro lado, isso também se deve ao fato de que a crise de fé, que se manifestou no nosso país por meio de uma queda na prática e no número de padres, é principalmente uma crise antropológica ou civilizacional”, disse.
O comitê editorial, então, optou por começar com o discurso da Igreja sobre o ser humano e a sociedade, e por abordar questões difíceis progressivamente ao longo do documento através de uma série de ilustrações.
Essas questões incluem o próximo esboço da lei de bioética, cuja última revisão deverá ser apresentada em junho, assim como a ecologia, a desigualdade e a “libertação das mulheres”.
O documento também aborda o conceito doutrinal católico altamente contestado e mal compreendido da “lei natural”.
“Essa lei moral, que é conhecida como lei natural, não é a lei da natureza, no sentido em que o termo é aplicado aos animais”, diz o documento.
“Do ponto de vista dos humanos, não faz sentido saber se existe monogamia ou homossexualidade entre os animais. Além disso, os animais não entendem a proibição do incesto”, afirma o documento, que foi “redigido, discutido e reformulado extensamente” pelo Conselho Permanente.
“A lei natural é uma lei da natureza humana, que explica o que é bom para os seres humanos fazerem a fim de alcançarem a felicidade”, explica-se.
Dom Batut disse que o novo documento se destina a “ir ao encontro principalmente das necessidades dos católicos”. Mas ele disse que o texto também fornece referências educacionais para qualquer um que deseje entender melhor as posições éticas da Igreja Católica.
“Quisemos demonstrar a antropologia católica em toda a sua beleza e capacidade de lidar com fenômenos que podem parecer isolados uns dos outros”, acrescentou o bispo.
Por outro lado, o documento não trata da necessária luta para permitir que as convicções católicas se enraízem em sua vida cotidiana.
“A dignidade dos deficientes, por exemplo, constitui um paradoxo. À primeira vista, ela não é de todo evidente”, disse o teólogo Henri-Jérôme Gagey.
“Isso precisa ser trabalhado tanto através do encontro quanto do acompanhamento social”, disse ele.
“Só esse modo de agir nos permitirá assegurar que as nossas declarações deixem de ser registradas como um catecismo, no sentido negativo do termo”, advertiu Gagey.
“É esse aspecto que pode estar faltando no documento e que pode impedir que ele tenha o impacto desejado entre aqueles que não compartilham espontaneamente as nossas convicções”, afirmou.
A CEF também anunciou o lançamento de uma nova seção em seu site que será dedicada à antropologia católica. Ela também incluirá vídeos, documentos de referência e perguntas que talvez preencham as lacunas do documento.
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Novo documento dos bispos franceses destaca fundamentos da antropologia católica - Instituto Humanitas Unisinos - IHU