28 Fevereiro 2019
O Brasil relatou que tem 1.173 espécies da fauna classificadas como estando ameaçadas de extinção, entre elas, 4 tipos de abelhas que podem ser consideradas polinizadoras.
A reportagem foi publicada por ONU News, 22-02-2019.
A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, FAO, alerta que uma vez perdidas, todas as espécies que apoiam o sistema alimentar e sustentam as pessoas que plantam e fornecem os alimentos, não poderão ser recuperadas.
O relatório Estado da Biodiversidade Mundial para Alimentação e Agricultura é o primeiro publicado no mundo que se concentra nesse tema. O documento apresenta evidências preocupantes sobre o desaparecimento da biodiversidade que sustenta o sistema alimentar no planeta, ameaçando severamente o futuro dos alimentos, da subsistência, da saúde e do ambiente.
Segundo a FAO, a biodiversidade para os alimentos e agricultura são todas as plantas e animais, silvestres e domesticados, que fornecem alimentação, combustível e fibras.
É também a abundância de organismos que apoiam a produção de alimentos através de serviços ecossistêmicos, chamados de “biodiversidade associada”.
Esse grupo inclui todas plantas, animais e micro-organismos como insetos, morcegos, pássaros, manguezais, corais, ervas marinhas, minhocas, fungos e bactérias que mantêm os solos férteis, polinizam as plantas, purificam a água e o ar, mantêm peixes e árvores saudáveis e combatem pragas e doenças de colheitas e do gado.
O diretor-geral assistente do departamento da FAO para Clima, Biodiversidade, Terra e Água, René Castro, disse que o “relatório é muito claro e vigoroso que estamos tendo um empobrecimento da biodiversidade em todos os âmbitos, a agricultura, na pecuária, na pesca, nas florestas.”
O relatório preparado pela FAO explora todos estes elementos e foi baseado em informações fornecidas por 91 países e a análises dos últimos dados globais.
O estudo aponta uma queda na diversidade de plantas nos campos dos agricultores, um aumento nos números de espécies de animais em risco de extinção e crescimento na proporção da pesca em excesso.
Das mais de 6 mil espécies de plantas cultivadas para a alimentação, menos de 200 delas contribuem substancialmente à produção global de alimentos. Somente nove delas representam 66% da produção total de culturas.
A produção animal no mundo é baseada em cerca de 40 espécies animais, sendo que apenas algumas delas fornecem a maior parte da carne, do leite e dos ovos.
Informações fornecidas pelos 91 países revelam que espécies de alimentos silvestres e muitas espécies que contribuem para os serviços de ecossistemas vitais para a alimentação e agricultura, incluindo polinizadores, organismos do solo, e inimigos naturais das pragas estão desaparecendo rapidamente.
A região da América Latina e Caribe apresenta a maior queda no número de espécies de alimentos silvestres, seguida pela Ásia e Pacífico e pela África.
Em termos da importância dos alimentos silvestres, Angola relatou, por exemplo, os nômades Khoisan, que coletam aproximadamente 30% do que consomem da natureza em condições normais.
Muitas espécies de biodiversidade associada também estão sofrendo ameaça severa. Estas incluem pássaros, morcegos e insetos que ajudam a controlar pestes e doenças, a biodiversidade do solo e polinizadores silvestres como abelhas, borboletas, morcegos e pássaros. Florestas, pastagens, manguezais, pradarias de ervas marinhas, recifes de corais e zonas úmidas em geral, ecossistemas-chave que fornecem inúmeros serviços essenciais à alimentação e agricultura e são o lar de várias espécies, também estão em declínio rápido.
O Brasil, por exemplo, relatou que tem 1.173 espécies da fauna classificadas como estando ameaçadas de extinção no país. São 85 tipos de pássaros, 63 classes de lepidópteros como borboletas e mariposas, 29 gêneros de besouros, 7 espécies de morcegos e 4 tipos de abelhas que podem ser consideradas polinizadoras.
Atualmente, as florestas designadas principalmente para a conservação da biodiversidade representam 13% das florestas do mundo, com 524 milhões de hectares. A maior parte destas áreas foram relatadas pelos Estados Unidos e pelo Brasil.
Estas regiões tiveram um aumento de 150 milhões de hectares desde 1990, mas o índice de crescimento diminuiu entre os anos de 2010 e 2015.
Já as áreas de florestas localizadas em áreas protegidas legalmente representam 70% das florestas do planeta, com 651 milhões de hectares. A América do Sul tem a maior proporção, com 34% das florestas protegidas, principalmente por causa da contribuição do Brasil. No país, 42% das áreas de florestas estão localizadas dentro de áreas protegidas.
Para o diretor-geral da FAO, José Graziano da Silva, a “biodiversidade é crítica para proteger a segurança alimentar global, sustentar dietas saudáveis e nutritivas, melhorar os meios de subsistência rurais e melhorar a resiliência das pessoas e comunidades.”
O chefe da agência acredita que é preciso “usar a biodiversidade de maneira sustentável” para que se possa “responder melhor aos crescentes desafios das mudanças climáticas e produzir alimentos de uma maneira que não prejudique o meio ambiente.”
Entre causas da perda da biodiversidade citadas pela maior parte dos países do estudo estão mudanças no uso e gerenciamento da terra e da água, seguido por poluição, superexploração e colheitas em excesso, mudança climática e crescimento populacional e urbanização.
Nos últimos 10 anos, os desastres naturais também tiveram um efeito significante na biodiversidade para alimentação e agricultura. Trinte e dois países, por exemplo, mencionaram, ter tido dificuldades com secas e ondas de calor, entre eles estão Angola, Argentina, Nicarágua e Peru.
Angola também mencionou dificuldades causadas por enchentes e incêndios florestais.
O relatório também destaca o interesse crescente em práticas e abordagens que respeitam a biodiversidade. Entre os 91 países, 8% indicaram o uso de uma ou mais práticas como a agricultura orgânica, gerenciamento de pestes integrado, agricultura de conservação, manejo sustentável do solo, agroecologia, manejo florestal sustentável, práticas de diversificação na aquicultura, abordagem ecossistêmica para a pesca e restauração de ecossistemas.
Para a FAO, ao mesmo tempo que estas iniciativas são bem vistas, é preciso fazer mais para travar a perda da biodiversidade para a alimentação e a agricultura. A maioria dos países implementou estruturas legais, políticas e institucionais para o uso sustentável e a conservação da biodiversidade, mas estas são muitas vezes inadequadas ou insuficientes.
O relatório pede que governos e a comunidade internacional façam mais para fortalecer estruturas favoráveis, criar incentivos e medidas de distribuição de benefícios, promover iniciativas pró-biodiversidade e abordar os principais impulsionadores da perda de biodiversidade.
Os consumidores também podem fazer a sua parte, optando por produtos cultivados de forma sustentável, comprando de feiras de agricultores ou boicotando alimentos vistos como insustentáveis. Em vários países, “cidadãos cientistas” têm um papel importantes no monitoramento da biodiversidade para alimentos e agricultura.
• Na Gâmbia, grandes perdas de alimentos selvagens forçaram as comunidades a buscar fontes alternativas para suplementar as dietas. Frequentemente, estas alternativas envolvem alimentos produzidos industrialmente.
• No Egito, o aumento das temperaturas gerará uma mudança em direção ao norte em gamas de espécies de peixes, com impactos na produção pesqueira.
• No Nepal, a falta de mão de obra, as remessas monetárias e o crescimento da disponibilidade de alternativas de produtos baratos nos mercados locais contribuíram para o aumento do abandono das plantações locais.
• Os agricultores californianos, nos EUA, permitem que seus campos de arroz inundem no inverno, em vez de queimá-los após o período de crescimento. Isso proporciona 111.000 hectares de terras úmidas e espaço aberto para 230 espécies de aves, muitas delas em risco de extinção. Como resultado disso, muitas espécies começaram a aumentar em número e o número de patos duplicou.
• Na Argentina, o programa nacional Prohuerta levou ao desenvolvimento de jardins residenciais no país. O objetivo é aumentar o acesso de alimentos frescos e nutritivos, assim como as fontes de renda, principalmente para os segmentos mais desfavorecidos da população. O programa também inclui esforços de cooperação Sul-Sul envolvendo a troca de informações e experiências com outros países, incluindo Angola, Gana, Haiti e Moçambique.
• Brasil, Quênia, Sri Lanka e Turquia abrigam uma vasta gama de espécies comestíveis nativas tradicionais e, ou negligenciadas, tanto silvestres como cultivadas, que são de enorme valor nutricional, mas que também estão ameaçados por pressões ambientais ou falta de uso. O Projeto Biodiversidade para Alimentação e Nutrição ajuda na conservação dessa diversidade apoiando a capacidade nacional para gerar dados nutricionais para 189 espécies subutilizadas, principalmente plantas, nos quatro países. A iniciativa também apoia a coleta de informações sobre o significado sociocultural e o valor de mercado destas espécies. As ações incluem a promoção de alimentos nativos variados e saudáveis em diretrizes alimentares.
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“Biodiversidade que sustenta o sistema alimentar está desaparecendo”, alerta a FAO - Instituto Humanitas Unisinos - IHU