05 Dezembro 2018
O que nestes dias será discutido em Katowice é de uma importância extremamente decisiva no que diz respeito ao nosso futuro e ao dos nossos filhos. Eu pertenço à geração que em 1968 se manifestava por uma mudança na sociedade com o grito de "Sejam realistas, peçam o impossível".
O comentário é de Carlo Petrini, fundador do Slow Food, publicado por Avvenire, 04-12-1028. A tradução é de Luisa Rabolini.
A esse pedido, cinquenta anos mais tarde, e parafraseando o que o fundador da ecologia social Bookchin disse, a geração de hoje deve adicionar uma nota: "Se não fizerem o impossível, aliás, terão que enfrentar o impensável”. Na verdade, a utopia, inalcançável por sua natureza, serve justamente para orientar para uma meta elevada, lembrando que cada passo, ainda que pequeno, é necessário para garantir que o caminho tome forma, que exista um horizonte comum e uma razão para continuar a caminhar. Se a ideia de uma mudança radical do sistema e da redução drástica das suas externalidades negativas parecem quimeras inalcançáveis, ainda assim são objetivos a que devemos nos orientar e que devemos sempre ter em mente.
Caso contrário, as consequências - que já estamos começando a pagar - serão de uma dimensão realmente impensável. Por esta razão, um percurso virtuoso deve necessariamente ter um começo: devemos começar a dar passos na direção certa.
Temos que fazê-lo e no curto prazo: não há mais desculpas, nós adiamos demais. O Clube de Roma, fundado pelo meu compatriota Aurelio Peccei, já tinha percebido isso nos anos 1970, quando no livro 'Limits to growth”, tão criticado como reavaliado recentemente, havia previsto a situação crítica atual.
Na época, e talvez ainda hoje em parte, preocupar-se com o meio ambiente era visto como um luxo que poucos podiam se permitir: acreditava-se que os verdadeiros problemas fossem outros, que havia questões muito mais difíceis para serem resolvidas e que, de maneira especial, estabelecer limites hoje para proteger a nossa Terra Mãe de amanhã era visto como algo "hippie e esquisitão". Se estivessem certos, no entanto, hoje não veríamos essas ondas de calor anômalas, o derretimento das calotas polares, o aumento do nível do mar e um alto risco de desertificação; não teríamos fenômenos climáticos extremos como os vistos no mês passado na Itália, e a concentração de CO2 na atmosfera não teria alcançado um novo recorde mundial.
À luz de tudo isto, dizer que a mudança climática não existe ou não diz respeito a cada indivíduo, não só é negar as múltiplas, trágicas e irremediáveis evidências que estamos vivendo cotidianamente, mas é, inclusive, continuar a colocar-se em perigo sem assumir qualquer responsabilidade.
Na extraordinária encíclica Laudato si' do Papa Francisco, Bergoglio explica isso muito bem: tudo está ligado, diz ele, e, portanto, ninguém está isento do que está acontecendo. Aliás, qualquer ação realizada pelo indivíduo tem uma influência sobre o mundo: isso é ecologia. Aqui não se fala mais de ambientalismo, que vê o meio ambiente como um conjunto passivo de recursos que o homem usa, mas de uma única síntese que vê o homem em conexão com o meio ambiente, sem qualquer tipo de hierarquia. E lembrem-se, ecologia - acrescenta Francisco, deve ser integral para ser verdadeiramente coerente: "Não há ecologia sem justiça e não pode haver equidade em um ambiente degradado". Os três anos desde o lançamento da encíclica tornaram ainda mais evidente a atualidade e profundidade dessa mensagem: chegou o momento de nos unirmos para dar esperança ao planeta, promovendo boas práticas ao nível local. Não vamos delegar apenas para os grandes, que eu espero nestes dias façam o seu melhor para serem realistas, mas vamos nos empenhar individualmente para fazer as escolhas certas.
O caminho a percorrer é longo, mas confio na multidão e no otimismo da vontade.
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Cada um faça as escolhas certas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU