20 Setembro 2018
A constituição apostólica Episcopalis communio, “recolhendo a herança do Concílio Vaticano II, propõe uma via católica da sinodalidade que envolve toda a Igreja e todos os seus sujeitos nesse processo: o povo de Deus, o Colégio dos Bispos, o bispo de Roma”.
Dario Vitali, diretor do departamento de teologia dogmática da Pontifícia Universidade Gregoriana e consultor da Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos, explica os termos da nova disciplina no quadro da constituição apostólica e evidencia as raízes da Tradição das quais ela se origina.
A reportagem é de Stefania Falasca, publicada por Avvenire, 19-09-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Professor, em síntese, pode descrever a novidade dessa nova legislação?
Uma novidade já está no tipo de documento escolhido pelo papa para propor um novo ordo Synodi. Ele não se limitou a um motu proprio, mas propôs a nova disciplina no quadro de uma constituição apostólica. Portanto, ela é pensada e desejada como quadro geral da vida da Igreja. O artigo 5º, sobre a consulta do povo de Deus, é uma novidade decisiva nessa direção. Novidade que retoma e implementa o que dizia o Concílio na Lumen gentium sobre a participação do povo de Deus através do exercício do sensus fidei de todos os batizados.
E qual é o seu objetivo?
O objetivo imediato é o de regular a celebração das assembleias sinodais, mas tem como horizonte uma Igreja totalmente sinodal, rumo à qual todos somos chamados a ir, porque a constituição manifesta claramente a intenção de incluir todos os batizados no processo sinodal. Portanto, ela não indica apenas a forma ordinária de um caminho eclesial, mas sim o modo de ser Igreja.
Pode-se dizer que há um progresso em relação ao Concílio?
Certamente, em relação ao Concílio, não há apenas continuidade, mas também progresso. Se o Vaticano II, de fato, tinha recuperado os sujeitos e as suas funções específicas na Igreja, a nova constituição apostólica aplica e traduz na prática eclesial aquelas indicações, desenvolvendo um caminho sinodal por etapas, marcado pela escuta recíproca e que culmina na escuta do bispo de Roma, chamado a se pronunciar como pastor e doutor de todos os cristãos. Essas passagens são hoje traduzidas em lei na constituição.
A escuta obriga a todos a mudarem de atitude na Igreja. É uma escolha, em alguns aspectos, histórica, mas que ainda não é bem compreendida no seu porte, até mesmo pela hierarquia...
Apesar das afirmações conciliares sobre a ministerialidade eclesial como serviço, essa mentalidade é difícil de morrer. Prova disse são os fatos que acompanharam, primeiro, a celebração dos dois sínodos sobre a família e a publicação da Amoris laetitia e a virulência da contestação ao papa, a dureza das recriminações, a intolerância a qualquer chamado e o obstinado fechamento a toda forma de escuta.
Talvez, mais do que outros, quem sentiu isso foram aqueles que se opõem ao papa e o repreendem, como já repreendiam o Concílio Vaticano II, por se separar da tradição...
Mas como se sabe, tudo na Lumen gentium é retorno à Sagrada Escritura e aos Padres. Ora, a Igreja dos Padres era uma Igreja sinodal, na qual o princípio formulado nos Atos – “pareceu bem, ao Espírito Santo e a nós” – era a norma. Os concílios ecumênicos, regionais, provinciais e diocesanos eram os momentos eclesiais por excelência. Os processos de tomada de decisão passavam todos pelas assembleias sinodais, nas quais cada Igreja era tornada presente pelo bispo, não na qualidade de representante delegado da comunidade, mas como o pastor em que a Igreja se reconhecia. Portanto, com a expressão de uma sinodalidade que é a própria dimensão da Igreja – “Igreja e Sínodo são sinônimos”, dizia São João Crisóstomo –, estamos diante de uma afirmação nova, mas que afunda suas raízes na Tradição. De forma quase paradoxal, portanto, podemos dizer que não há novidade mais tradicional do que essa. E, nessa perspectiva, pode-se destacar a novidade na fidelidade à Tradição e como essa fidelidade e essa continuidade, enraizando-se na Tradição, encontram-se na constituição que o papa nos entrega.
Para onde um caminho praticado com a eclesiologia do primeiro milênio pode levar hoje?
A capacidade de tomar esse caminho e de permanecer fiel à sinodalidade não só como prática eclesial, mas como modo de ser Igreja constitui-a como “estandarte levantado entre as nações”, que diz a todos, dentro e fora da Igreja, que caminhar juntos é o caminho da salvação da humanidade.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
O Sínodo segundo Francisco. ''A Igreja indica que caminhar juntos é caminho de salvação.'' Entrevista com Dario Vitali - Instituto Humanitas Unisinos - IHU