10 Setembro 2018
No último sábado, o cardeal Vincent Nichols, de Westminster, pediu perdão a Deus pelas ações de alguns bispos, durante o maior evento eclesial na Inglaterra em quase uma década.
A reportagem é de Charles Collins, publicada por Crux, 09-09-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.
Nichols, que dirige a Conferência dos Bispos para a Inglaterra e o País de Gales, reconheceu as falhas dos "meus colegas bispos" - que disse "estão aí para todos verem" - durante o segundo dia do Congresso Eucarístico Adoremus, em Liverpool.
“Viemos perante a Jesus reconhecer nossas falhas, sabendo do mal em nosso meio, e de que há raiva em muitos corações”, disse o cardeal.
“Como bispo, já que somos ligados uns aos outros, venho perante ao Senhor apenas para pedir uma parte de sua nova vida. Venho em busca de perdão, colocando a carga da mágoa, dano e desconfiança que causamos ao pé da cruz”, continuou Nichols.
O Congresso Eucarístico não foi dominado pela questão do abuso sexual clerical, como foi o Encontro Mundial das Famílias na Irlanda no mês passado. O foco das conversações tem sido sobre a herança católica da Inglaterra e do País de Gales, além do rejuvenescimento da Igreja na Inglaterra.
O governo britânico estabeleceu uma investigação independente sobre abuso sexual infantil, que averiguou alegações de abuso em instituições católicas, com a cooperação de autoridades da Igreja. A iniciativa não levou à mesma reação acalorada que conclusões semelhantes nas comissões de abuso da Irlanda, na Comissão Real da Austrália ou o recente Relatório do Grande Júri da Pensilvânia.
Katie Prejean McGrady - autora católica americana e palestrante que foi a oradora principal no evento Adoremus - disse no Twitter que muitas pessoas a estavam perguntando "Como a Igreja americana está lidando com tudo isso?"
“Eu fui honesta. Disse a eles que foram semanas difíceis. Há muitas perguntas e corações partidos", disse McGrady.
“Um velho padre gentil, no melhor sotaque irlandês, disse: 'Minha querida, a Igreja deste lado do mundo está orando por todos vocês, e Deus sabe que todos nós precisamos nos unir e amar Jesus um pouco mais'. Isso me confortou”, twittou McGrady.
O orador principal do evento foi o Bispo Auxiliar de Los Angeles, Robert Barron.
“A Igreja passa por um período doloroso. Em meio a isso é importante que voltemos aos fundamentos, e isso significa, acima de tudo, Cristo na Eucaristia”, disse Barron.
O bispo americano falou sobre a “crescente onda de secularismo” no mundo de hoje, “especialmente entre os jovens”.
Em sua mensagem ao Congresso, o Papa Francisco pediu aos participantes que “sigam o Senhor e ajudem os pobres”.
"Que cada um de vocês ouça novamente o convite do Senhor para compartilhar essa alegria salvadora em forma de preocupação com as necessidades materiais e espirituais de nossos irmãos e irmãs mais necessitados", disse o pontífice, acrescentando que "a vida de um cristão discipulado traz desafios únicos e clama por grande abnegação, especialmente um serviço em virtude dos mais necessitados”.
Francisco também se lembrou dos incontáveis santos e mártires ingleses e galeses, muitos dos quais morreram por sua devoção à Eucaristia.
"Trata-se tanto da crueldade humana quanto da serenidade e força dadas pela graça de Deus diante das provações", disse Francisco, se referindo ao sofrimento dos pobres.
“Eles são justamente venerados e as Igrejas da Inglaterra e do País de Gales nunca devem perder sua preciosa memória. Permanecer fiel a esse legado espiritual requer mais do que um ato de recordação”, disse Francisco.
“Devemos continuar a dar testemunho ao mesmo Senhor e pelo mesmo dom precioso da Eucaristia hoje, pois as glórias do passado são sempre o começo e não o fim. O Senhor ainda está chamando você para dar testemunho. Eu rezo para que, através de uma maior participação no dom sacrificial de Jesus - na forma de pão e vinho -, todos possam ser renovados pela fé e pelo alegre discipulado missionário”, continuou o Papa.
O Congresso Eucarístico terminou no domingo com uma missa na Catedral de Liverpool e uma procissão eucarística.
“Não há um pingo de triunfalismo ou orgulho em nossos passos. De muitas maneiras, a nossa é uma procissão penitencial, pois estamos focados em Jesus - que crucificamos”, disse Nichols no sábado.
“Ainda assim seguimos nossa jornada alegres, pois ele leva consigo o nosso fracasso, a crueldade, o engano e com seu amor e misericórdia superamos tudo. Jesus é a nossa salvação, pois deixou sua face ser vista com compaixão e esperança pelo nosso mundo destruído”, completou Nichols.
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Crise de abusos. Cardeal inglês pede perdão por "mágoa, dano e desconfiança" causados por bispos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU