25 Agosto 2018
A crise humanitária na Venezuela provocou uma das maiores migrações em massa da história da América Latina.
A reportagem é de Katy Watson, publicada por BBC News Brasil, 23-08-2018.
O presidente, Nicolás Maduro, culpa a quem chama de os “imperialistas”- principalmente os Estados Unidos -, que teriam lançado uma guerra econômica contra a Venezuela ao impor sanções.
Mas críticos dizem, por outro lado, que a crise é resultado de má gestão por Maduro e seu antecessor, Hugo Chávez.
A Venezuela tem uma das maiores reservas de petróleo do mundo. Já foi um país tão rico que o Concorde (avião supersônico de passageiros) costumava voar de Caracas para Paris.
Agora, quatro em cinco venezuelanos vivem na pobreza, e é comum que as pessoas precisem ficar horas na fila para comprar comida. Há gente morrendo por falta de medicamento. A inflação alcançou 82.766% e pode chegar a um milhão por cento até o final do ano, segundo estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Diante desse cenário, os venezuelanos querem sair do país em busca de melhores condições. Segundo as Nações Unidas, 2,3 milhões de pessoas deixaram a Venezuela, o que representa 7% da população. Mas de um milhão chegaram à Colômbia nos últimos 18 meses.
Muitos deles cruzaram a Ponte Internacional Simón Bolívar, que tem 300 metros de cumprimento e 5 metros de largura. Ela se estende sobre o rio Táchira, no leste dos Andes, que corre ao longo da fronteira entre a Colômbia e a Venezuela.
As duas pequenas cidades que o rio conecta são San Antonio del Táchira, do lado venezuelano, e Villa Del Rosario, na Colômbia. Por mais próximas que estejam, estão em dois mundos completamente diferentes.
Os colombianos raramente cruzam a fronteira para fazer compras na Venezuela, como costumavam fazer. O tráfego é quase totalmente de uma única direção.
Todos os dias às 5h no horário da Colômbia (6h no da Venezuela), o som de um portão se arrastando pelo asfalto quebra o silêncio e marca a abertura da ponte para os pedestres.
A fila da Venezuela para a Colômbia vai se formando ao longo da madrugada. Quando o portão se abre, a imagem se parece com a de atletas disparando após o sinal de partida. Cada um tenta chegar ao outro lado o mais rápido possível.
Algumas pessoas são paradas por guardas e ordenadas a abrir sacolas e bagagens. A maioria cumpre as ordens sem protestar, mas é possível ver o pânico no rosto de alguns quando percebem que serão pegos.
Na Venezuela com a economia em crise, há incentivo para contrabandear produtos como carne e queijo para a Colômbia, para que sejam vendidos a preços maiores. A maioria dos que fazem isso não são grandes criminosos, mas sim venezuelanos desesperados para conseguir dinheiro para comprar produtos básicos.
Uma mulher cuja carne foi confiscada se lamenta: “O que eu posso fazer?”. O guarda responde: “Esse é um corredor humanitário. Você pode levar comida para a Venezuela, mas não tirar de lá.” E a cena se repete ao longo do dia.
Aqueles com nada a declarar – ou os sortudos que não são parados – continuam a travessia. O som das rodinhas das malas é a trilha sonora dessa ponte.
Quando você chega até o outro lado da ponte, alcança o que é chamado de “La Parada” (A parada). É uma comunidade que lucra com transações de fronteira – ambulantes, farmácias, lojas, empresas de ônibus. Todos querem oferecer seus serviços para quem acaba de chegar.
A maioria desses comerciantes era colombiana, mas os venezuelanos começaram a abrir suas lojas e vender bens num país onde a moeda não está tão desvalorizada.
Bem do outro lado da ponte, em meio ao coro de vendedores ambulantes, um homem grita: “Quem quer vender o cabelo?”.
Em cima de um banquinho de plástico, Laura Castellanos espera ser atendida. A jovem de 25 anos tem longos cabelos castanhos. Ela não parece confortável.
Uma mulher se posiciona atrás dela, com a tesoura em mãos. Laura está prestes a perder a maior parte do cabelo.
Ela carrega no colo a filha de dois meses, Paula. A criança está envolvida num cobertor e usa um chapeuzinho rosa. Ela boceja enquanto aguarda pacientemente nos braços da mãe, inconsciente do caos da fronteira, ao seu redor.
O marido de Laura, Jhon Acevedo, está por perto tomando conta das outras duas filhas do casal.
A mulher responsável pelo serviço começa a cortar o cabelo da jovem, bem perto da raiz. Ela não quer conversa. É quase como se estivesse envergonhada.
A cada tesourada, ela entrega um tufo de cabelo para outra mulher que está de pé ao lado. O comprador do cabelo não diz nada, vira o rosto. Parece uma simples transação. Nada mais.
Laura está recebendo 30.000 pesos (US$ 10 ou R$ 40,5) pelo cabelo. Ele será vendido para fazer apliques ou perucas.
“É a primeira vez que eu fiz isso”, diz ela, demonstrando uma mistura de ansiedade e vergonha. Ela chegou naquele mesmo dia da cidade de Rubio, a cerca de uma hora da fronteira.
Está vendendo o cabelo porque Andrea, a filha mais velha, de 8 anos, tem diabetes e a família precisa juntar dinheiro para comprar a insulina que ela usa três vezes ao dia. Faz três dias que a menina não toma a injeção.
“Não tem remédio, é muito difícil”, diz Laura. “As pessoas estão morrendo na Venezuela porque não conseguem os medicamentos.”
Depois do corte de cabelo, a família sai em busca de uma farmácia. À primeira vista você não diz que Laura teve a maior parte do cabelo removido. A “cabeleireira” deixou uma fina camada de cabelo no topo, para disfarçar. Laura admite estar se sentindo um pouco triste.
“Pelo menos vai servir para alguma coisa”, ela diz. O marido, Jhon, diz que eles estão procurando por uma farmácia “pirata”- uma banca informal que vende remédios em potes de plástico nas ruas. Canetas de insulina serão mais baratas lá que numa farmácia normal.
Mas nas ruas de La Parada não dá para saber exatamente o que se está comprando. É um risco que Laura e a família acham que vale a pena correr.
“Não tem insulina lá em casa (na cidade dela na Venezuela). Não dá para conseguir em qualquer lugar”, diz Laura, enquanto analisa a data de validade das canetas de insulina.
Eles escolhem duas canetas azul marinho, cada qual por 8.000 pesos (US$ 2,65) e vão embora. Eles terão cerca de dois meses até ter de retomar a busca pelo medicamento. Não é tempo suficiente para o cabelo de Laura crescer.
Do outro lado da estrada, a menos de 10 metros de onde Laura estava cortando o cabelo, Celene Cacique, de 29 anos, está sentada na calçada. Mãe de três crianças, ela usa uma jaqueta branca, vermelha e preta com a imagem do Mickey Mouse. Carrega no colo a bebê mais nova, de dois meses, que se chama Isabella.
O sol é forte durante o dia, mas as manhãs podem ser frias. Por isso, Isabella está enrolada num cobertor. Celen chegou lá às 6h45, para entrar na fila do posto médico, que abre às 8h.
Ela está conversando com outras mães que vieram vacinar os filhos. Enfileirados na calçada estão carrinhos coloridos e bebês enrolados em mantas.
O governo colombiano abriu um posto próximo da ponte para atender o grande número de venezuelanos que cruzam a ponte para ter acesso a vacinas.
Por causa da falta de medicamentos e vacinas na Venezuela, estima-se que um milhão de crianças não conseguiram ser imunizadas e doenças que praticamente não existiam mais estão ressurgindo.
Difteria e sarampo são algumas delas. É a segunda vez que Celene faz essa jornada através da fronteira.
“Eu vim oito dias atrás e tinha mais de 120 crianças”, diz ela. “Eles só deixam entrar 100 e 20 não foram atendidas. É preciso chegar bem cedo.”
Foram meses difíceis para Celene. Quando estava grávida de quatro meses da pequena Isabella, o marido foi morto.
Michael trabalhava como motorista caminhão, levando carga pela fronteira da Venezuela com a Colômbia. Ao voltar para casa, às 22h, dirigindo a sua motocicleta, ele atingiu uma vaca no meio da estrada e morreu na hora. O hospital ligou para Celene às 3h para informar que o marido dela estava no necrotério.
“Não tem iluminação na estrada”, explica Celene. “Não sobrou muita coisa. As pessoas levam os cabos, o cobre, não deixam nada. É como conseguem dinheiro para pagar por comida.”
Os problemas econômicos da Venezuela custaram a vida de Michael.
“O presidente Maduro é a pior herança que Chávez nos deixou”, diz Celene. Esse é um sentimento compartilhado por muitos. Quando Hugo Chávez chegou ao poder, em 1999, havia esperança. Ele era o homem que defendia os pobres, numa sociedade que sempre foi muito dividida.
Era uma figura vibrante e controversa, que queria liderar uma revolução socialista na Venezuela.
Mas Chávez se beneficiou dos altos preços das commodities, que financiaram seus ambiciosos programas sociais. Com a queda dos preços, Maduro não teve a mesma sorte, além de estar longe de ter o mesmo carisma que seu antecessor.
Durante seu governo, o país sucumbiu a uma grave crise econômica. “O governo faz o que quiser, ele tem todo o poder”, diz Celene. “Só Deus pode nos ajudar, é a única coisa que restou.”
A sogra de Celene vive nos Estados Unidos e envia US$ 500 a cada dois meses. Com o novo bebê e as duas crianças mais velhas, de 4 e 8 anos, Celene não consegue trabalhar. Portanto, ela depende totalmente da ajuda da sogra.
É um dinheiro que ela também divide com a irmã, o cunhado e o bebê deles.
Jéssica Pérez está sentada ao lado de Celene, ninando Santiago, de 14 meses.
“É mais fácil para nós porque estamos perto da fronteira, mas as pessoas no interior do país não têm como fazer isso. Eu não sei como eles sobrevivem com crianças lá”, diz.
Ela conta que, se uma mulher precisa de uma cesariana num hospital público, tem que levar os próprios equipamentos. Em 2016, a mortalidade infantil cresceu 30% na Venezuela.
A mortalidade materna cresceu 65%. São índices como esses que motivam os venezuelanos a ir para a Colômbia em busca de ajuda médica.
Às 8h, abre o posto de saúde. Dezenas de mulheres agarradas aos seus pequenos bebês começam a andar, assumindo seus lugares nos bancos, para esperar o atendimento.
Dentro de alguns minutos, choros ecoam pelo local. Três enfermeiras estão sentadas atrás de uma pequena mesa, sobre a qual estão algumas caixas com vacinas.
Um a uma elas chamam as mães e vacinam os bebês. As mulheres querem aproveitar ao máximo o direito à saúde gratuita. Isabella, a filha de Celene, recebe imunização contra várias doenças, como pólio e rotavirose.
“Maduro deveria ter consciência e deixar o poder. Pelo menos se ele saísse isso nos daria esperança. Nós não temos mais esperança”, diz Celene. “As crianças estão morrendo desnutridas. É uma situação crítica.”
Ela não para de falar. Tem muito a dizer sobre a crise no seu país. “O presidente ignora tudo. Ele diz que tudo está bem, mas é mentira”, diz ela. “É muito triste porque você percebe que ninguém em nenhum país pode nos ajudar. O que podemos fazer? Sobreviver.”
Enquanto postos de saúde perto da ponte conseguem lidar com doenças menos sérias, a 10 minutos de carro, o hospital Erasmo Meoz, que fica no centro da cidade de Cúcuta, enfrenta problemas bem maiores.
O prédio de tijolos vermelhos está sob grande pressão. Na ala de emergência, pacientes estão enfileirados em macas encostadas nas paredes e defronte das portas. Familiares se aglomeram ao redor, confortando os pacientes.
Os menos graves estão sentados numa fileira de cadeiras de plástico. Outros estão em cadeiras de rodas. Do lado de fora dessa ala, no pátio do hospital, mais pessoas estão aguardando. No meio da massa de pessoas, um grupo de prisioneiros, acorrentados pela cintura, é guiado para outra ala do hospital, para tratamento.
A ala de emergência tem capacidade para 75 camas. Mas atualmente tem 100 pacientes. Mal há espaço para se mexer.
Num quarto mais distante do hall principal, um corpo espera ser retirado. Coberto num lençol de algodão amarrado ao redor do pescoço e dos pés, fica à vista de todos até que funcionários finalmente empurram a maca por entre as camas lotadas até o necrotério. Não há tempo e espaço para um deslocamento discreto dentro desse hospital.
Cada cama é identificada com a nacionalidade do paciente.
Ángel Escobar, de 28 anos, é um dos venezuelanos. A mãe dele está enrolando curativos ao redor dos braços do jovem.
Ángel, o irmão Teobaldo e a mãe deles, Cecília, fizeram recentemente a jornada até a Colômbia vindos da cidade venezuelana de Barinas, a 350 km da fronteira. Eles não tinham dinheiro para uma passagem de ônibus. Acabaram dependendo de caronas.
Ángel era um mecânico de motocicleta. Há 5 anos, ele estava consertando uma bicicleta quando um tanque de gás explodiu. “Fiquei com queimaduras de segundo e terceiro graus”, conta. “Esperei por ajuda num hospital da Venezuela, mas ela nunca chegou.”
A situação só piorou. Ele pegou três infecções no hospital. As feridas parecem recentes, apesar de o acidente ter ocorrido há cinco anos. A pele avermelhada é uma consequência das infecções, não das queimaduras.
“Eles não trataram o meu filho porque não tinham material”, explica Cecilia. Ela diz que sequer havia um infectologista no hospital para ajudar.
Na Colômbia, finalmente, o jovem está sendo tratado.
O médico Andrés Eloy Galvis Jaima, que está a cargo da ala de emergência, diz que a situação está fugindo do controle.
“30% dos nosso pacientes são venezuelanos”, diz ele. “O governo central não está nos dando dinheiro extra (para esses atendimentos). Vai chegar um dia em que não teremos mais recursos para ninguém. Esse é o verdadeiro medo.”
Na Rota Nacional 55, uma via central ao sul de Cúcuta, um grupo de sete venezuelanos caminham na beirada da estrada, tentando conseguir uma carona. Os pertences deles estão amarrados nas costas.
Eliane Pedrique pegou um ônibus de Valência, a terceira maior cidade da Venezuela, para a fronteira da Colômbia. De lá, a única opção era caminhar até a cidade de Pamplona para buscar trabalho. São 60 km.
Ela não estava bem equipada – só tinha um par de sandálias para usar. Mas a passagem de 100.000 pesos (US$ 33) é um luxo com o qual não pode arcar.
Eliane deixou os dois filhos, de 5 e 2 anos, com a mãe. “Eu estou muito triste”, diz ela, chorando.
“Não tem outro jeito de ganhar dinheiro. Não tem trabalho e o pouco que você consegue ganhar não é suficiente para nem para comprar arroz”, conta. “Você precisa sair para ganhar um dinheiro extra e ajudar.”
Na Venezuela, ela vendia sorvetes e frutas nas ruas. Costumava vender suco de frutas também, mas o preço do açúcar aumentou demais.
Eliane não conseguia pagar por fraldas para o bebê, então usava pedaços de pano, conhecidos como “guayucos”, que envolvia com sacolas de plástico, para evitar o vazamento da urina.
“Eles não queriam que eu viesse”, relata ela sobre a família que ficou. “Eles me pediram para ter cuidado e fé. Tenho que continuar pelo bem das crianças.”
Ela vai para Pamplona na incerteza do que vai encontrar, mas disposta a fazer de tudo.
“Se você não trabalha, você não come”, diz. “É uma das terríveis consequências desse governo horrível que temos na Venezuela. Na verdade, tem sido ainda pior desde que ele venceu de novo as eleições, em maio”, afirma, em referência a Maduro.
Eliane quer voltar para casa em dois meses para entregar à família o dinheiro que tiver conseguido, para depois retornar novamente à Colômbia.
Se voltar à Venezuela, vai notar algumas grandes mudanças. O governo mudou a moeda local, o bolívar, cortando cinco zeros e atrelando o valor ao Petros, a criptomoeda lançada por Maduro. O presidente também aumentou o salário mínimo em mais de 3.000%.
As mudanças foram apresentadas oficialmente como uma tentativa de Maduro de conter a hiperinflação e melhorar a condição de vida dos venezuelanos. Mas poucos têm esperança de melhora na realidade econômica do país.
No calor, a caminhada não é fácil. Algumas pessoas foram generosas ao longo do caminho, dando frutas e água aos migrantes. Mas nem todos são amigáveis. No dia em que Eliane chegou, um homem deu água com fertilizante a ela e a Edgar Centeno, um jovem de 21 anos ao qual ela se juntou durante a travessia para que dessem apoio moral um ao outro.
A companheira e o filho de 2 anos de Edgar ficaram na Venezuela. Lá, ele fazia vários serviços, como conserto de ar-condicionado.
“Você precisa de 10 empregos para conseguir sobreviver”, conta.
Já a Colômbia é vista como um lugar de oportunidades. Nas costas de Edgar, está uma mochila vermelha, amarela e azul. São as cores da bandeira da Venezuela. É uma mochila entregue a crianças em idade escolar pelo governo venezuelano, mas que se tornou item comum entre os migrantes.
“Minha vontade é não voltar de mãos vazias para a casa”, afirma. “Eu fiz uma promessa a mim mesmo de que eu preciso dar um bom futuro ao filho. Não importa o que aconteça, eu tenho que sustentá-lo.”
Ele não sabe onde vai parar. Pode continuar se deslocando pela América do Sul atrás de um emprego. Considera o Peru uma opção.
Mas esse não é um sonho fácil de alcançar. Os países próximos à Venezuela estão reforçando os critérios de entrada pela fronteira. O Equador declarou estado de emergência, com mais de 4 mil venezuelanos cruzando para lá a cada dia pela fronteira com a Colômbia.
Tanto o Equador quanto o Peru anunciaram que os venezuelanos precisarão de passaportes válidos para entrar no país. Até agora era suficiente a apresentação de carteiras de identidade.
Todos os migrantes ouvidos pela reportagem culpam o presidente Maduro pela crise. Edgar tem dificuldade para expressar o que sente, até que diz: “Ele é um inútil, uma escória”.
“Ele culpa todo mundo, menos a si mesmo”, acrescenta Elaine. “Ele não assume nenhuma responsabilidade. Ele precisa sair (do poder).”
Na Venezuela, é comum que Maduro e seu governo se apresentem como vítimas no declínio do país. E se referem aos que deixam o território como desertores da causa socialista.
Edgar, Elaine e os amigos deles não querem ficar por ali conversando. Eles têm um longo trajeto a percorrer antes de o dia acabar. Cruzam a estrada e começam a caminhada rumo ao novo – e incerto – futuro.
Enquanto o dia avança, a filas continuam a crescer na fronteira. Centenas de pessoas esperam por um carimbo no passaporte, para continuar a jornada.
Há filas também nas casas de câmbio e remessas, onde os venezuelanos esperam pacientemente para buscar o tão esperado dinheiro enviado por parentes e amigos que vivem fora.
E há filas por ônibus – pessoas aguardam com suas malas empilhadas para encontrar parentes e familiares em outros países da América do Sul.
Mas para cada venezuelano que tem a sorte de se fixar em outros países, dezenas de outros não têm recursos para isso. Alguns fazem bicos durante o dia na Colômbia e cruzam a ponte de volta, no entardecer.
Outros compram o que podem. Voltam com suprimentos de comida e remédios. Um passante carregando um monte fraldas grita: “que humilhação!”. São pessoas que precisam deixar o país para comprar itens básicos de sobrevivência.
Mas mesmo com a noite chegando ainda há dezenas de pessoas tentando entrar na Colômbia. Eles fazem fila ao longo de uma grade de metal e aguardam a vez para mostrar os documentos e ser autorizado a entrar.
A Guarda Nacional Bolivariana – o Exército da Venezuela – os conduz para o lado colombiano. Numa das grades, há um cartaz.
“Território de paz”, diz. Mas um soldado resmunga. Ele parece irritado. Ele pode trabalhar para o governo, mas sofre o mesmo que seus compatriotas. O salário dele não é capaz de pagar por uma refeição decente.
“Eu me pergunto quanto tempo vou aguentar aqui”, ele me diz, enquanto contempla o caminho para escapar daquela realidade.
Confira a entrevista com fotos aqui.
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A ponte que simboliza o desespero do êxodo venezuelano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU