11 Agosto 2018
Bancos alemães têm um grupo de clientes que estão batendo nas suas portas com mais frequência hoje em dia: as Igrejas.
A reportagem é de Stephan Kahl, publicada em Bloomberg, 09-08-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Elas estão cada vez mais buscando ajuda profissional na gestão de seus bens. Por um lado, baixas taxas de juros estão pesando sobre os retornos dos investimentos tradicionais. Por outro lado, o aumento da transparência financeira jogou luz sobre algumas falhas de investimento do passado. As estimativas situam a riqueza das Igrejas da Alemanha em várias centenas de bilhões de euros.
“As Igrejas se tornaram cada vez mais profissionais em seus investimentos nos últimos anos e recorrem a gerentes de ativos profissionais como nós com mais frequência”, afirma Martina Erlwein, que atende investidores da Igreja na empresa Joh Berenberg Gossler & Company KG, com sede em Hamburgo.
Daniel Kerbach, CEO da Merck Finck Privatbankiers AG, de Munique, fez observações semelhantes: “As Igrejas são um dos participantes realmente grandes do mercado. Elas estão usando cada vez mais a gestão de ativos profissionais”.
Particularmente no atual ambiente de baixas taxas de juros, um “investimento convencional em títulos comprados e mantidos não pode mais obter um retorno suficiente”, disse Philip Schaetzle, diretor de Institutions & e VAG Investors Europe da Metzler Asset Management GmbH, de Frankfurt. O resultado é uma diversificação mais ampla, para a qual as Igrejas estão agora buscando ajuda, acrescentou.
Ao mesmo tempo, muitas Igrejas se comprometeram recentemente a examinar suas finanças e a publicar relatórios detalhados pela primeira vez. Durante esse processo, elas encontraram erros do passado. Um exemplo é a diocese de Eichstaett, que acredita que investimentos imobiliários arriscados resultaram em perdas de milhões de euros. Agora, especialistas estão cuidando do seu dinheiro.
Embora a renda do chamado imposto sobre as Igrejas na Alemanha tenha aumentado nos últimos anos, existe o risco de um declínio com o enfraquecimento da economia, o que torna ainda mais importantes os retornos dos investimentos.
As Igrejas não precisam apenas de renda para suas operações contínuas. Como empregadoras, elas também têm “obrigações consideráveis de pensão”, disse Eberhard von Alten, diretor de clientes institucionais da FERI Trust GmbH. No início de 2018, ele se juntou ao gestor de ativos da diocese de Mainz, com sede em Bad Homburg, onde ele trabalhava como diretor financeiro desde 2009. “É difícil de estimar o volume de mercado, porque nem todos os órgãos da Igreja têm valorizado e divulgado totalmente os seus bens”.
Carsten Frerk, cientista político e especialista em Igrejas, tentou uma extrapolação das Igrejas católica e protestante na Alemanha. “Com base em minhas próprias estimativas plausíveis, as duas Igrejas, incluindo suas empresas, têm um valor de ativos de cerca de 345 bilhões de euros”, disse. “No entanto, isso sem contar as suas organizações Cáritas e Diakonie, que têm uma quantidade considerável de ativos imobiliários.”
Isso corresponde aos comentários de Martina Erlwein, a banqueira de Berenberg. “A riqueza total das Igrejas é estimada, em média, em centenas de bilhões de euros”, disse ela.
O arcebispado de Munique e Freising é um dos órgãos da Igreja que já permitem uma olhada em seus livros. Em 31 de dezembro, ele tinha um balanço total de cerca de 3,4 bilhões de euros. Além de imóveis, ele também listava investimentos financeiros de cerca de 1,5 bilhão de euros. A arquidiocese está trabalhando com bancos, disse o porta-voz Christoph Kappes. “A colaboração abrange todas as áreas de serviços bancários – desde transações de pagamento até decisões de investimento.”
Quanto maiores os ativos das Igrejas individuais para investir, mais especiais são as necessidades, especialmente no contexto da necessária diversificação, de acordo com Axel Rogge, chefe de clientes institucionais do Bethmann Bank AG, que faz parte do banco holandês ABN Amro Bank NV.
“O mercado imobiliário está sendo procurado, e o capital privado também pode fazer parte de uma solução de investimento, junto com tendências como a sustentabilidade, que as Igrejas vêm nos pedindo há muito tempo”, disse.
Philip Schaetzle, do Metzler, confirma que as Igrejas estão interessadas agora em investimentos líquidos e ilíquidos.
“Investimentos ilíquidos como infraestrutura, no entanto, só são demandados por instituições muito grandes”, afirmou. Entre os ativos líquidos, os capitais privados se tornaram significativamente mais importantes nos últimos anos. Embora as Igrejas tenham investido quase exclusivamente na zona do euro no passado, a diversificação global agora está desempenhando um papel cada vez maior, acrescentou ele.
Eberhard von Alten, da FERI Trust, ainda vê a maioria das demandas da Igreja em termos de “títulos tradicionais e voltados ao capital privado”. Mas alguns investidores, com a ajuda de gerentes externos, estão começando a ganhar experiência em ativos alternativos, disse. “A gestão de ativos não é uma especialização central das dioceses e das Igrejas regionais. A terceirização é a regra aqui. Isso, é claro, é diferente no caso dos bancos da Igreja e dos planos de pensão da Igreja”, acrescentou.
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Igrejas da Alemanha recorrem a bancos para movimentar bilhões de euros - Instituto Humanitas Unisinos - IHU