17 Julho 2018
Inelegível, mesmo, só o Lula, o que deve significar alguma coisa.
O artigo é de Celso Rocha de Barros, servidor federal, doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra).
É com grande alegria que anunciamos o início da campanha eleitoral de 2018. É algo a ser celebrado, porque, seja lá o que aconteça de agora em diante, ao menos quer dizer que a campanha de 2014 finalmente acabou. Os personagens principais de 2014 ainda farão um farewell tour na campanha do Senado de Minas Gerais, mas já em um contexto bastante diferente.
O que esperar da eleição de 2018?
Para quem torce por uma grande transformação depois da crise dos últimos anos, será uma decepção. Mas não subestimem 2018: as coisas estão se mexendo. O dado fundamental sobre a eleição de 2018 é que ela acontecerá com a Lava Jato no meio do caminho. Todo mundo já está desmoralizado, mas quase ninguém está inelegível. Inelegível, mesmo, só o Lula, o que deve significar alguma coisa.
De qualquer forma, não vai ser a eleição da grande renovação, da grande purificação do sistema político brasileiro. Não há denúncias graves contra os três primeiros colocados nas pesquisas atuais (Bolsonaro, Marina e Ciro). Não há nada muito grave contra Alckmin ou Haddad. Mas não há nenhuma possibilidade de o próximo presidente dispensar o apoio dos denunciados, ou dos que evidentemente deveriam ter sido denunciados.
Essa semana, por exemplo, o PT, Bolsonaro, Ciro e Alckmin vão brigar com todas as forças para conseguir o apoio de nacos do “centrão” (DEM, PP, PSD, PR e PRB), a velha direita fisiológica que todos conhecemos e sabemos como joga.
Mas então é isso, não muda nada com a eleição de 2018?
Talvez mude.
A renovação não vai vir agora, mas a política brasileira vai mudar nos próximos anos. E a eleição presidencial pode determinar quem vai largar com vantagem nessa reorganização. Veja, por exemplo, a disputa entre PT e Ciro Gomes pelo apoio do PSB, o único partido de esquerda expressivo que não tem candidato a presidente.
Não é só por miopia eleitoral, nem só pela força do hábito, que a esquerda está brigando entre si: com a crise do PT e a provável saída de cena de Lula, abriu-se a disputa pela liderança da esquerda brasileira nos próximos anos. Não é só uma briga por 2018, é um desafio pedetista à liderança que o PT exerceu na esquerda desde 1989.
A mesma coisa está acontecendo na direita. Se o PSDB perder essa eleição, há chances razoáveis de o partido acabar. A direita passaria a se organizar em torno da aliança da extrema direita, com os corruptos do centrão, dispensando o verniz de civilidade que os tucanos lhe davam. Vale lembrar, aliás: Bolsonaro fez toda sua carreira política em partidos do centrão.
Isto é, PT e PSDB estão sendo desafiados em seus respectivos campos, e isso abre possibilidades de renovação. Mesmo se PT e PSDB mantiverem suas posições, é provável que as alianças sejam reorganizadas, novas ideias (nem todas boas) surjam, e que novos nomes ganhem destaque na política nacional.
E isso tem uma consequência importante, e algo inesperado, para o jeito de pensarmos a política brasileira.
As burocracias partidárias protegeram seus corruptos, mas talvez a renovação venha pela competição entre partidos ideologicamente semelhantes. Não faz sentido que tenhamos 30 partidos, mas se já tivéssemos reduzido drasticamente o número de legendas, talvez fosse mais difícil superar essa crise.
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