07 Julho 2018
São cada vez mais “angustiantes” os “gritos” da terra e dos seus pobres “em busca de ajuda”. Por isso, “não podemos perder tempo” na defesa do ambiente, especialmente os governos, que “deveriam se esforçar para honrar os compromissos assumidos em Paris”.
A reportagem é de Salvatore Cernuzio, publicada em Vatican Insider, 06-07-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A três anos da publicação da Laudato si’, o Papa Francisco renova o apelo da sua encíclica “verde” a uma conversão ecológica e a uma “ação orgânica e concertada” que possa garantir um futuro sustentável para as novas gerações, às quais corremos o risco de deixar um mundo feito de “entulhos, desertos e sujeira”.
A ocasião foi a audiência aos participantes do congresso internacional intitulado “Saving our Common Home and the Future of Life on Earth” [Salvando a nossa casa comum e o futuro da vida na Terra], realizado nos últimos dias no Vaticano, que o pontífice exortou a “agir concretamente para salvar a Terra e a vida sobre ela”.
O perigo é real: “O ritmo de consumo, de desperdício e de alteração do ambiente superou as possibilidades do planeta, de tal maneira que o estilo de vida atual, sendo insustentável, só pode desembocar em catástrofes, como, de fato, já está ocorrendo periodicamente em diversas regiões”, alertou Bergoglio.
Em seu discurso, ele pôs em causa os tratados internacionais sobre as mudanças climáticas. Começando pela COP-21 de Paris, cujos compromissos ratificados em 2015 deveriam ser “honrados” por todos os Estados, para se chegar à COP-24, que será realizada em dezembro próximo em Katowice, Polônia, e – afirma o Papa – “pode ser um marco no caminho traçado pelo Acordo de Paris”.
Da mesma forma, Francisco desejou que outros eventos, como a Cúpula de Ação Global para o Clima, que será realizada de 12 a 14 de setembro em San Francisco, “ofereçam respostas adequadas”.
Porque é preciso ser realista: “A atenuação dos efeitos do atual desequilíbrio depende daquilo que fizermos agora”, e “a humanidade tem os conhecimentos e os meios para colaborar com esse propósito”.
“A redução dos gases de efeito estufa requer honestidade, coragem e responsabilidade, especialmente dos países mais poderosos e mais poluidores”, afirmou o pontífice. Que pediu para reservar “um espaço especial” no debate e no compromisso com a casa comum “a dois grupos de pessoas que estão na vanguarda do desafio ecológico integral e que estarão no centro dos dois próximos Sínodos da Igreja Católica”: os jovens e os povos indígenas, sobretudo os da Amazônia.
Os jovens porque são eles “que terão que enfrentar as consequências da atual crise ambiental e climática. Portanto, a solidariedade intergeracional não é uma atitude opcional, mas sim uma questão essencial de justiça, já que a terra que recebemos pertence àqueles que virão”, diz o papa.
Por outro lado, “é indispensável prestar uma atenção especial às comunidades aborígenes com as suas tradições culturais. É triste – observou – ver as terras dos povos indígenas expropriadas, e as suas culturas pisoteadas por uma atitude predatória, por novas formas de colonialismo, alimentadas pela cultura do desperdício e pelo consumismo”.
Portanto, os desafios “abundam”. “Às vezes, poderia parecer uma obra árdua demais, porque há muitos interesses particulares, e, muito facilmente, o interesse econômico chega a prevalecer sobre o bem comum e a manipular a informação para não verem afetados os seus projetos; mas os seres humanos, capazes de se degradar ao extremo, também podem se superar, voltar a escolher o bem e a se regenerar”, observa Francisco.
Sua mensagem vai diretamente para as instituições financeiras que “têm um papel importante a desempenhar, como parte tanto do problema quanto da sua solução”. “É necessário um deslocamento do paradigma financeiro a fim de promover o desenvolvimento humano integral”, reitera o bispo de Roma.
“As organizações internacionais, como por exemplo o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial, podem favorecer reformas eficazes por um desenvolvimento mais inclusivo e sustentável.”
A esperança, em suma, é a que já foi enunciada por Bento XVI na encíclica Caritas in veritate, isto é, que “as finanças voltem a ser um instrumento finalizado para a melhor produção de riqueza e para o desenvolvimento”. No entanto, trata-se de ações que “pressupõem uma transformação em um nível mais profundo, isto é, uma mudança dos corações, das consciências”. Nesse sentido, as religiões desempenham “um papel-chave”, em particular as Igrejas cristãs chamadas a colaborar nesse campo da ecologia integral.
Além dos Estados, o Papa Francisco também interpelou “outros atores”: “Autoridades locais, grupos da sociedade civil, instituições econômicas e religiosas” e todos aqueles que “podem favorecer a cultura e a prática ecológica integral”.
“A ‘casa comum’ que é o nosso planeta precisa urgentemente ser reparado e assegurado para um futuro sustentável”, observou. Esse “serviço do cuidado da criação”, portanto, deve se traduzir “em uma ação orgânica e concertada de ecologia integral”. Devemos isso aos “nossos filhos e netos”, para os quais corremos o risco de deixar como herança “entulhos, desertos e sujeira”.
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Papa: é preciso compromisso com a defesa do ambiente, senão deixaremos desertos e sujeira aos jovens - Instituto Humanitas Unisinos - IHU