05 Mai 2018
O padre jesuíta James Martin está dando o que falar novamente com a segunda edição de seu livro Building a Bridge (Construindo uma ponte), sobre a relação entre católicos LGBTQ e a Igreja. Em uma entrevista recente com US Catholic, Martin discutiu o seu trabalho continuado e a nova edição de seu livro.
A reportagem é de Kaitlin Brown, publicada por New Ways Ministry, 03-05-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.
O padre jesuíta diz que as reações ao livro têm sido intensas, e ele espera que a nova versão possa continuar a ser útil para os católicos LGBTQ e seus amigos e familiares:
"Me dei conta do que é alguém de colarinho clerical dizendo essas coisas. Isso realmente mexe com as pessoas."
Quando perguntado sobre por que parece haver tanta confusão no ensino sobre questões LGBTQ, padre Martin citou decisões recentes de escolas católicas que demitiram professores LGBTQ:
"A confusão vem da seletividade de aplicação do ensino da Igreja. Geralmente só é aplicada a pessoas LGBT, e geralmente só no que diz respeito à sua moralidade sexual. Por exemplo, os professores LGBT em escolas católicas foram demitidos por causa de sua orientação sexual. Não despedimos professores católicos que são solteiros e vivem juntos antes de serem casados, o que também é contra os ensinamentos da Igreja. Quantos professores estão nessa situação? Nem despedimos professores divorciados e que casam de novo sem a anulação do casamento anterior. Nem despedimos professores que usam contraceptivos. A seletividade do foco em pessoas LGBT e sua moralidade sexual é, nas palavras do Catecismo da Igreja Católica, um sinal de "discriminação injusta". Optamos por negligenciar alguns dos outros assuntos, porque temos acomodado essas situações. Mas de alguma forma, atualmente, a pessoa LGBT é vista como a maior, a pior e a única pecadora na Igreja."
Com a sugestão de que os líderes católicos estavam se acomodando diante de uma cultura em rápida mudança, o padre Martin respondeu:
"Qualquer extensão de misericórdia para as pessoas à margem fará as pessoas resmungarem. Mas isso é o que Jesus fez, então é isso que somos chamados a fazer. É bem simples. Você não pode argumentar com o fato de que Jesus continuamente se voltou para as pessoas à margem. Você também não pode argumentar com o fato de que a pessoa LGBT é a mais marginalizada na Igreja. Não há dúvida".
Quando perguntado sobre como ele continua a fazer o trabalho de atendimento aos católicos LGBTQ, mesmo quando o assunto se torna cada vez mais difícil, novamente padre Martin olhou para Jesus:
"Se é alguém que não está disposto a ouvir, Jesus diz que você pode precisar sacudir a poeira e seguir em frente. Mas para a maioria das pessoas, basta um encontro com uma pessoa LGBT e ouvir as suas histórias".
Ele também considera as mídias sociais como um recurso e um fardo para os católicos LGBTQ:
"Por um lado, permite que as pessoas descubram histórias que talvez não tenham ouvido antes. Por exemplo, para uma pessoa jovem LGBT que está presa a um lugar onde ele ou ela não se sente aceita, poderia ser uma tábua de salvação. Também existem alguns sites em mídias sociais em que realmente trafegam ódio, homofobia e ataques pessoais e que, basicamente, apenas criam mais medo. Jesus diz: "você vai conhecê-los pelos seus frutos." Existem alguns sites que trazem paz, unidade e concórdia para a Igreja e as vidas dos católicos. Mas também existem alguns sites que criam divisão, discórdia e desespero. Nós temos que olhar para eles com cuidado e decidir quais são bem-vindos e quais não são. O Novo Testamento diz, "o amor perfeito expulsa o medo", e nós sabemos disso, mas o medo perfeito também expulsa o amor. Temos que estar cientes disso e sempre trabalharmos para o amor.
Mas padre Martin chegou a dizer que até ele tem um ponto de ruptura:
"Eu tenho que parar de ler certos comentários, websites ou artigos quando eu sei que eles não são úteis e estão apenas me atacando. Percebi que esses tipos de comentários não vêm de Deus. Por que eu iria enfrentá-los? Críticas produtivas são uma coisa, mas uma boa dose de reação a mim e a meu livro acaba sendo histérica, ad hominem, calúnia pessoal. Então por que eu prestaria atenção? Eu sempre comparo a andar na rua - eu vivo em Nova York - e ouvir uma pessoa gritar: "você é um assassino!" Eu sei que não sou um assassino. Por que eu ouviria isso? Por que eu ouviria algo que não só é falso, mas também machuca? Muitas dessas pessoas parecem tão católicas que já não são mais cristãs."
Martin foi motivado a escrever Bulding a Bridge sobre LGBTQ católicos e sua relação com a Igreja, após o tiroteio na boate Pulse e a falta de uma resposta institucional da Igreja. Uma oportunidade apresentou-se quando o New Ways Ministry o homenageou com o prêmio Bridge Building Award (Prêmio Construindo Pontes) em outubro de 2016. Seu discurso na cerimônia de premiação serviu como a maior parte do texto para o livro que se tornou Bulding a Bridge. A segunda versão com recursos adicionais foi publicada recentemente, e Martin continua a falar com paróquias sobre a relação entre LGBTQ católicos e a Igreja em geral.
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Segunda edição de livro do padre Martin mantém o diálogo LGBT em movimento - Instituto Humanitas Unisinos - IHU